Ilha Canibal: o lugar onde as pessoas chegaram ao extremo para sobreviver

14/12/2015 às 14:264 min de leitura

Atenção: uma das imagens nesta matéria pode ser muito chocante para pessoas sensíveis. 

Hitler não foi o único a cometer atrocidades em prol de um falso ideal de uma “raça humana pura”. Josef Stalin, secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, tinha como objetivo criar um povo russo perfeito, o que o levou a cometer o impensável.

No começo dos anos 30, a União Soviética dedicava-se a um programa de industrialização acelerado. Para isso, as áreas rurais eram submetidas às exigências do Estado e os camponeses eram forçados a dar contribuições cada vez maiores em um momento em que as colheitas eram medíocres. As grandes obras realizadas na época exigiam imensa mão de obra e recursos do Estado. Assim, a maneira que Stalin encontrou para concretizar seus planos foi extrair tudo o que podia da produção agrícola, liberando o capital necessário para a industrialização.

Em um ano, 10 milhões de pessoas saíram dos campos para fugir da fome

Pouco a pouco, a escassez de alimentos começou a tomar conta da URSS, levando a um grande êxodo por parte dos camponeses. Entre 1930 e 1931, mais de 10 milhões de pessoas saíram de suas terras para escapar da crise. Para Stalin, essas pessoas eram contrarrevolucionárias. 

Neste contexto, aconteceu a reunião anual de dirigentes da URSS. Em seu discurso, Stalin apresentou a seguinte ideia: “Apesar do triunfo do socialismo e da eliminação das classes exploradoras, os opositores não desaparecem, só adotam formas diferentes”.

Depois da reunião, Stalin delegou à Yagoda, chefe da polícia, uma diretiva secreta que ordenou o fim do êxodo massivo de camponeses. Patrulhas logo foram enviadas para diversas estações de trem, com o objetivo de interceptar qualquer camponês.

Josef Stalin, líder da União Soviética

A URSS tinha muitas áreas desabitadas, mas com recursos naturais disponíveis. Observando essa situação, Stalin decidiu que era importante colonizar esses territórios e enviar para estes locais os camponeses que chegavam às cidades.  

Até 1933, aproximadamente 800 mil pessoas já haviam sido presas. A ordem era controlar o fluxo e limpar as ruas dos elementos considerados “inúteis”. Para organizar a situação, o governo passou a impor um passaporte interno, que substituiu todos os outros documentos. Porém, apenas os habitantes das cidades recebiam tal documento. A população sem passaporte – em sua grande parte composta por camponeses – tinha até 10 dias para deixar as cidades. Os que eram pegos em situação irregular eram enviados às áreas inabitadas.

Para agravar a situação, o governo estabeleceu metas para os policiais, que tinham uma cota mínima de pessoas que deveriam ser enviadas a esses lugares sem estrutura alguma. Mais de 6 mil pessoas foram reunidas e, sem saber ao certo seu destino, acabaram em uma ilha na Sibéria Ocidental. Era uma viagem difícil e, ainda durante a travessia, 27 pessoas morreram. 

A ilha onde mais de 6 mil pessoas foram deixadas à sua própria sorte

Entre os deportados à ilha, havia muitas pessoas diferentes. O primeiro grupo era formado por presos e condenados. Posteriormente, foram enviados moradores de rua, camponeses refugiados, pessoas sem documentos ou com falsificações. Até mesmo cidadãos que haviam esquecido seus documentos em casa ou turistas podiam ser presos.

Um exemplo é o caso de Vladimir Novochilov, de Moscou. Ele trabalhava em uma fábrica onde foi eleito por três vezes como trabalhador exemplar e tinha esposa e filho legalmente registrados no país. Em uma noite, enquanto aguardava a mulher se arrumar para irem ao cinema, Vladimir saiu para comprar cigarros. Como não portava os documentos, acabou preso e deportado.

Rosa Rakamentiova, 12 anos, não falava russo e estava apenas de passagem em Moscou. Sua mãe a deixou sozinha na estação enquanto foi comprar pão. A pequena foi presa pela polícia e deportada sozinha, acusada de vagabundagem.

As pessoas nessa situação não recebiam um julgamento nem tinham permissão de sequer avisar os familiares. No dia em que desembarcaram, o comandante Tsepkov disse: "Soltem os presos e deixem que pastem".

Qualquer pessoa que saísse sem passaporte poderia ser presa e deportada

Na ilha, essas pessoas foram condenadas à morte, já que não tinham acesso a suprimentos básicos para sobrevivência. A única coisa a eles oferecida eram uma farinha, a qual misturavam com a água do rio para se alimentarem. Como consequência imediata, muitos tiveram disenteria. Somente na primeira noite em sua “nova casa”, mais 295 pessoas morreram.

Alguns guardas foram designados para monitorar o “progresso” dos sobreviventes. Caso alguém tentasse fugir da ilha, logo era cruelmente fuzilado. Mesmo assim, não foram poucos os casos em que balsas improvisadas eram atiradas ao mar, com a esperança de escapar das condições precárias. Entretanto, dos que conseguiam fazer isso, a maioria acabava morrendo afogada ou congelada.

A ilha estava dominada por vários grupos criminosos, que roubavam o pouco que havia com aquelas pessoas, perseguindo os que tinham dentes ou coroas de ouro. Os oficiais passaram a descrever casos em que dezenas de cadáveres eram encontrados sem o fígado, o coração e os pulmões. Mas o primeiro caso de assassinato seguido de um ato de canibalismo foi registrado em 29 de maio daquele ano.

Era comum que os homens mais fortes fingissem a construção de uma jangada para atrair os mais fracos e, assim, matá-los.

O historiador Nicolas Werth escreveu um relato do que viu na ilha em um livro chamado “Cannibal Island: Death in a Siberian Gulag”: “As pessoas estavam morrendo por toda parte, um matava o outro. Havia um guarda chamado Kostia Venikov, que estava cortejando uma menina bonita que havia sido enviada para lá. Ele a protegeu e, quando precisou sair da ilha, pediu para que um de seus colegas cuidasse dela. Mas ninguém podia fazer muito. Um dia, chamaram a jovem, a amarraram em uma árvore e cortaram tudo o que podiam comer”.

Os guardas não faziam nada, pois estavam ocupados matando as pessoas que tentavam fugir. Além disso, não havia pena prevista para casos de canibalismo. Era uma verdadeira caça, sobretudo às mulheres jovens.

Quando um novo grupo chegou, com aproximadamente 1.500 pessoas, a situação se agravou. O comandante Tsepkov voltou para Nazino e escreveu um relatório sobre o que estava acontecendo. Só então os prisioneiros foram transferidos para cinco acampamentos. Durante o translado, morreram centenas de pessoas.

Dos 6 mil deportados no início, os poucos sobreviventes que restaram foram abandonados à sua própria sorte.

Apenas em 1988, detalhes sobre o “Caso Nazino” começaram a vazar para o público em geral, devido ao trabalho da Sociedade Memorial, um grupo russo que luta pelos direitos históricos e civis. Os soviéticos, infelizmente, destruíram a maior parte dos documentos sobre o plano de Stalin e os eventos horríveis que ocorreram na Ilha de Nazino.

Atualmente, encontra-se na ilha uma cruz em homenagem às vítimas. Nela, um faixa onde está escrito: "Às vítimas inocentes dos anos de descrença".

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