O caso das irmãs Dionne: uma das histórias mais bizarras e cruéis de todas

23/03/2018 às 02:004 min de leitura

Elzire Dionne entrou em trabalho de parto na noite do dia 18 de maio de 1934. À época, ela acreditava que estava grávida de gêmeos; porém, com a ajuda de um médico e duas parteiras, Elzire deu à luz a cinco meninas em Ontário, no Canadá. As irmãs foram as primeiras quíntuplas a sobreviver ao parto.

Annette, Émilie, Yvonne, Cécile e Marie nasceram prematuras e, juntas, pesavam pouco mais de 6 kg. Elas eram tão pequenas que cada uma cabia perfeitamente na palma da mão de uma pessoa adulta.

Devido ao baixo peso das meninas, tanto Elzire quanto seu marido, Olive, achavam que as crianças não permaneceriam vivas por muito tempo. Logo após o parto, Elzire entrou em choque e o médico que a atendia chegou a pensar que ela pudesse morrer também. Felizmente, ela se recuperou depois de duas horas e suas filhas, depois de algumas semanas.

Repercussão

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Até então, as crianças passavam horas deitadas em um cesto à beira do forno do fogão, para receberem calor. Além disso, eram mantidas em constante vigilância e recebiam para mamar uma mistura de água, xarope de milho, leite e rum. Mulheres da vizinhança que amamentavam também ajudaram a família, doando leite materno todos os dias.

O irmão de Olive tinha contado a um jornal local a respeito do nascimento das cinco meninas, e a repercussão foi tamanha que pessoas de todo o vilarejo se ofereciam para ajudar; em pouco tempo, a notícia havia se espalhado para todo o continente. De repente, a família estava recebendo ofertas que buscavam expor as meninas – conhecidas em todo o país, elas já eram chamadas de símbolo de força durante a Grande Depressão e também de crianças de circo.

Olive, que era um fazendeiro pobre, acabou fechando negócio com a Feira Mundial de Chicago e topou exibir as filhas. No da seguinte à assinatura do contrato, Olive se arrependeu e cancelou a autorização, mas já era tarde demais. Alguns dias depois, quando as meninas tinham apenas 4 meses de idade, o governo de Ontário, alegando preocupação com o bem-estar delas, resolveu tirar a guarda dos pais. A medida, no entanto, só contribuiu para a exploração das meninas.

Exploração

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Uma vez com a guarda das crianças, o governo percebeu que poderia obter lucro se utilizasse as garotas como atração turística. Por causa disso, a tutela, que deveria ficar com o Estado por dois anos, acabou durando nove anos e, durante esse tempo, as cinco irmãs geraram muito lucro ao governo.

Assim que foram retiradas da família, as meninas foram encaminhadas a um complexo hospitalar, onde ficavam em vigia policial em um local cercado por arame farpado. Ainda que tivessem recebido boas condições de saúde e segurança, as garotas foram amplamente exploradas enquanto estiveram em tutela do governo.

A coisa era tão bizarra que multidões se formavam em frente ao hospital e, de tempos em tempos, enfermeiras pegavam as crianças no colo e as exibiam da sacada. Mais tarde, os visitantes tinham também a opção de ver as crianças mais de perto – elas ficavam em um local cercado de vidro e, em 1937, mais de 3 mil pessoas já haviam gasto dinheiro para ver as quíntuplas de pertinho. O número total de visitantes saltou para 3 milhões em 1943. De repente, as irmãs se tornaram uma atração canadense mais popular do que as cataratas do Niágara.

Autobiografia

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Em 1963, as cinco irmãs escreveram uma autobiografia. Na obra, definiram esse período de exploração como uma espécie de “carnaval no meio do nada”. Durante cinco anos, a receita recebida por meio da exploração das meninas foi de 500 milhões de dólares canadenses, o suficiente para evitar que Ontário entrasse em uma crise ainda mais grave durante a Depressão. O pai das garotas não desistiu de conseguir algum lucro com o sucesso das filhas e decidiu abrir uma pequena loja de recordações.

O fato é que as meninas cresceram longe do convívio familiar e foram exploradas como atração turística desde que eram bebês. Cécile chegou a declarar mais tarde que, antes mesmo de aprender a falar a palavra “mãe”, já falava a palavra “doutor”.

As meninas ficaram tão populares durante os anos de exploração que nem mesmo empresas de publicidade e estúdios de Hollywood deixaram de aproveitar a história das irmãs. Entre 1936 e 1939, elas participaram de três filmes – as produções contavam a história de suas vidas, e um curta produzido chegou a ser indicado ao Oscar. No meio publicitário, as irmãs foram usadas em propagandas de diversos produtos, cartões postais e revistas.

Briga judicial

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Enquanto o mundo parecia conhecer as irmãs a fundo, os pais das garotas mal tinham contato com elas. Cécile chegou a declarar que nem se lembrava de já ter conhecido seus pais. Enquanto isso, Elzire e Olive brigavam judicialmente pela guarda das meninas, mas só conseguiram recuperar o direito de ficar com elas em 1943.

A partir daí, as coisas pioraram. Na autobiografia escrita pelas irmãs, a residência dos pais é descrita por uma delas como “a casa mais triste que já conheci”. Pouco tempo depois de receberem a guarda das meninas de volta, Elzire e Olive ganharam também um valor considerável em dinheiro, correspondente a uma parte dos lucros proporcionados pelos filmes e comerciais feitos pelas filhas.

Com o dinheiro, a família se mudou para uma mansão luxuosa, mas os pais das garotas acreditavam que elas tinham pecado nesse tempo em que foram exploradas, e a relação entre todos era bastante fria. Na autobiografia, as meninas relatam que foram estupradas pelo pai. Na época, elas falaram sobre o assunto na escola e foram instruídas a continuar a amar seus pais e usar roupas mais grossas quando saíssem apenas com o pai, de carro.

“Destruídas psicologicamente”

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Esse assunto só veio à tona na época da publicação do livro. Na ocasião, quando um apresentador de televisão falou sobre a obra, acabou completando: “essas mulheres são completamente destruídas psicologicamente”.

De fato, as meninas tiveram uma história de vida completamente fora do comum e foram exploradas de maneiras diferentes, tanto pelo governo canadense quanto pela própria família. Ainda assim, nenhuma medida foi tomada para que elas recebessem algum tipo de suporte psicológico.

Quando completaram 18 anos de idade, as cinco irmãs saíram de casa e, a partir daí, nunca mais falaram com os pais. Dois anos após isso, Émilie morreu depois de ter uma forte convulsão e, 16 anos depois, Marie morreu também devido a um problema sanguíneo.

Injustiça

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Na década de 1990, Annette e Cécile, que estavam divorciadas, foram morar em Montreal com Yvonne. A situação financeira delas também não era favorável – apesar de terem arrecadado milhões de dólares, seus pais torraram a parcela que receberam quando elas ainda eram menores de idade e, na época em que as três irmãs foram morar juntas, a renda total delas era de 525 dólares canadenses por mês.

Desamparadas, foram pedir ajuda ao governo canadense, já que, durante anos, elas serviram de fonte de arrecadação de renda a esse mesmo governo. No final do acordo, elas passaram a receber 4,2 mil dólares canadenses por mês, como uma espécie de pensão vitalícia. O valor foi renegociado e, com a ajuda da pressão pública, o Estado foi sentenciado a pagar 2,8 milhões às três, de uma vez só.

Yvonne morreu em 2001 e hoje apenas Cécile e Annette estão vivas, e a justiça que as cinco queriam, devido ao abuso psicológico e à exploração que sofreram tanto pelo governo canadense quanto pela própria família, infelizmente nunca veio.

*Publicado em 8/8/2016

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