A breve vida da Poliágua: a água que não congelava

11/11/2013 às 12:322 min de leitura

Você já ouviu falar da Poliágua? Fruto das pesquisas — e talvez de uma crença coletiva — de alguns cientistas russos da década de 1960, a invenção se tornou polêmica na época, ganhando atenção e notoriedade. Porém, a novidade foi recebida com desconfiança por alguns estudiosos que, mais tarde, desvendaram a verdade sobre ela.

Tudo começou quando o físico soviético Nikolai Fedyakin, trabalhando em um pequeno laboratório de pesquisa do governo em Kostroma, realizou as medições das propriedades de uma amostra de água que havia sido condensada (ou seja, passando do estado gasoso para o líquido) através de estreitíssimos tubos capilares de quartzo.

Segundo ele, algumas destas experiências resultaram no que era aparentemente uma nova forma de água, com um ponto de ebulição mais elevado e de congelamento bem mais baixo, além de uma viscosidade muito maior do que a da água normal.

Experimentos

Logo após essa descoberta, Boris Derjaguin, diretor do laboratório de física de superfície do Instituto de Físico-Química de Moscou, ouviu falar sobre as experiências de Fedyakine e quis aperfeiçoá-las. Ele melhorou o método para produzir “a nova água”, realizando o feito em um tempo muito mais rápido do que Nikolai, porém em quantidades mínimas.

As características daquela que veio a ser chamada de “Poliágua” eram curiosas: o líquido não congelava a partir de 0°C, passando apenas por essa solidificação com -40°C ou temperaturas ainda mais baixas que essa. O ponto de ebulição também era diferente da água comum, sendo apenas a partir de 150°C ou superior.

Fonte da imagem: Reprodução/The Verge

A densidade da Poliágua era de aproximadamente 1,1 a 1,2 g/cm³, se expandindo com o aumento da temperatura. Os resultados foram publicados em revistas científicas soviéticas e os resumos foram publicados no periódico Chemical Abstracts em inglês, mas os cientistas ocidentais não tomaram conhecimento da obra.

Quando a notícia se espalhou

Em 1966, Derjaguin viajou para a Inglaterra para um tipo de congresso chamado "Debates da Sociedade Faraday", em Nottingham, no Reino Unido. Lá, ele apresentou o trabalho novamente e, desta vez, os cientistas ingleses ficaram conhecendo o líquido a que ele também se referia como “água anômala”.

Uma vez que o assunto foi jogado na roda de um congresso de cientistas, ele se tornou ainda mais curioso. Com isso, os cientistas ingleses começaram a pesquisá-lo mais a fundo, assim como em 1968 o tema foi pesquisado nos Estados Unidos, se espalhando para jornais e revistas que passaram a publicar matérias com o feito científico.  

Quando a casa começou a cair

Durante esse primeiro período de frenesi no mundo da ciência com a descoberta, alguns pesquisadores afirmaram que foram capazes de reproduzir os experimentos de Derjaguin, enquanto outros não conseguiram. Várias teorias foram propostas para explicar o fenômeno, que passou a levantar suspeitas.

No início da década de 1970, várias pessoas questionaram a autenticidade da Poliágua até que o cientista norte-americano Denis Rousseau e o brasileiro Sergio Pereira Porto, da Bell Laboratories, realizaram uma análise de espectro infravermelho, que mostrou que a Poliágua era composta principalmente por cloro e sódio.

O fim do mistério

A fim de confirmar as suspeitas da composição do líquido, Denis Rousseau comprometeu-se em fazer um teste com seu próprio suor após um jogo de handebol no ginásio do laboratório e descobriu que o seu fluido corporal tinha propriedades idênticas às da Poliágua. Em seguida, ele publicou um artigo sugerindo que a Poliágua nada mais era do que água com pequenas quantidades de impurezas biológicas.

Outra onda de investigação posterior, desta vez mais rigidamente controlada, descobriu que as amostras da Poliágua estavam contaminadas com outras substâncias, o que explica as mudanças em fusão e pontos de ebulição. As análises também comprovaram, através da microscopia eletrônica, que o líquido continha pequenas partículas de vários sólidos de sílica e fosfolípidos, explicando a sua maior viscosidade.

Quando os experimentos que produziram Polywater foram repetidos com equipamentos completamente limpos, as propriedades anômalas da água resultante desapareceram e até mesmo os cientistas que inicialmente tinham anunciado as primeiras experiências concordaram que ela não existia. Depois das revelações, Denis Rousseau usou o caso da Poliágua como um exemplo clássico da ciência patológica. 

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