Produzir heroína pode se tornar tão simples quanto fabricar cerveja

26/05/2015 às 08:552 min de leitura

As leveduras são aliadas valorosas da Humanidade há milhares de anos. Trata-se de micróbsio incrivelmente úteis, capazes de transformar açúcar simples — proveniente de várias fontes — em etanol, por exemplo. E essa associação está prestes a dar mais um salto. Conforme estudo publicado na Nature Chemical Biology, exemplares geneticamente alterados da Saccharomyces cerevisiae podem ajudar na formulação rápida de uma série de fármacos.

De acordo com o texto, as leveduras modificadas são capazes de originar opiatos, substancia usualmente obtida da papoula e que serve de base para analgésicos, antibióticos, remédios contra o câncer, entre vários outros narcóticos.

Leveduras da espécie Saccharomyces cerevisiae.

Entretanto, a facilidade da produção pro meio das leveduras tem também forçado os cientistas a questionamentos éticos. Afinal, o ópio também serve de base drogas como a heroína — as quais, igualmente, também seriam produzidas de forma muito mais rápida por meio da obtenção de ópio a partir das leveduras. E isso, potencialmente, sem a necessidade de um cérebro como o de Walter White.

Papoula 2.0

Pelas vias tradicionais, o ópio é obtido por meio de frutos imaturos (também chamados de cápsulas) de diversas papoulas ditas “soníferas”. O que a alteração genética das leveduras oferece, entretanto, é uma forma muito mais simples, rápida e de fácil controle para obtenção da substância. Além disso, há também uma considerável dificuldade em manipular os frutos por vias sintéticas — tornando praticamente impossível a criação de opiatos seguros e pouco propensos a causar dependência química.

O processo convencional de obtenção de opiatos se dá por meio da obtenção de sucos dos frutos imaturos (cápsulas) das papoulas do gênero Papaver.

“É difícil adicionar ou subtrair genes de uma planta; e as plantas também têm crescimento muito lento”, disse Dueber. “Por outro lado, nós podemos facilmente colocar um DNA diferente e modificar várias combinações de genes nas leveduras”, ele acrescenta, lembrando ainda da vantagem de que os fungos podem dobrar de tamanho em apenas duas horas.

Além disso, a produção atual de opiatos ainda encontra diversos desafios logísticos e até ecológicos. Considerando-se que apenas alguns poucos países permitem o cultivo de papoulas para fins medicinais, é de se esperar que quaisquer impactos nesses locais possam ter consequências enormes. Além disso, o cultivo promove o desflorestamento.

Simples como fabricar cerveja

Até o momento, entretanto, o processo descrito pelo estudo dificilmente seria levado adiante sem o devido conhecimento. Entretanto, em um futuro não muito distante, produzir drogas ilícitas a partir das leveduras modificadas pode ser tão simples quanto fabricar cerveja no porão de casa.

Células de leveduras produzindo o pigmento amarelado utilizado pelos pesquisadores na identificação de enzimas centrais na produção de metabólicos encontrados na papoula.

“Atualmente, você ainda precisaria de um conhecimento considerável sobre biologia sintética e genética para se lançar à produção do tipo certo de leveduras”, afirmou o bioengenheiro e líder do projeto na Universidade de Berkeley, John Dueber. “Não se trata de uma ameaça iminente”, ele continua. “Entretanto, se uma variedade produzida para fins ilícitos surgir, então todo o necessário será o conhecimento da fabricação de cervejas — a fim de fermentar [os opiatos], produzindo morfina.”

Fio de navalha ético

Não obstante, há também o contrapeso representado pelas inúmeras vantagens obtidas pela manipulação genética dos fungos. Basicamente, trata-se da mesma velha discussão que sempre se abate sobre alterações semelhantes — capazes de erradicar espécies invasivas, eliminar doenças genéticas, mas, por outro lado, também podendo resultar em configurações genéticas inesperadas e, eventualmente, danosas.

Com as novas superleveduras, portanto, surge também um novo desafio regulatório. “Eu jamais vi algo sequer semelhante a isso antes”, afirmou o especialista em política da tecnologia do MIT, Kenneth Oye, cujos comentários integram a contraeditoria do estudo.

Ademais, vale lembrar ainda que, além facilitar a obtenção de fármacos baseados em ópio, as leveduras geneticamente modificadas também facilitam a vida humana em diversos outros aspectos — fornecendo desde combustíveis até aromatizantes e perfumes.

Fonte

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