Piloto herói impediu '11 de setembro' brasileiro em 1988

02/09/2020 às 08:303 min de leitura

Morreu, na quarta-feira passada (26), na cidade de Armação dos Búzios, um herói brasileiro que poucos conheceram: o ex-piloto Fernando Murilo de Lima e Silva, aos 76 anos. Esse profissional extremamente habilidoso foi o comandante do voo da Vasp de 1988 que, sequestrado a caminho do Rio de Janeiro, seria arremessado contra o Palácio do Planalto.

Era Fernando o piloto do voo 375 da Vasp que foi sequestrado no dia 29 de setembro de 1988 com 135 passageiros e 8 tripulantes a bordo, quando voava de Belo Horizonte com destino ao Rio de Janeiro. Graças à ação decisiva desse aeronauta, o voo foi desviado para Goiânia, onde o sequestrador foi interceptado.

Fernando Murilo de Lima e Silva (Fonte: arquivo pessoal/reprodução)Fernando Murilo de Lima e Silva. (Fonte: arquivo pessoal/reprodução)

O voo 375

Tudo corria bem com o voo naquela quinta-feira de 1988. Tendo decolado de Porto Velho, ele já estava em sua última escala, Belo Horizonte, em rota para seu destino final, Rio de Janeiro, após passar por Cuiabá, Brasília e Goiânia. Já era um pouco mais do que 11 da manhã, 20 minutos após a decolagem, quando um passageiro anunciou um sequestro.

Armado com um revólver calibre 32, o tratorista desempregado Raimundo Nonato Alves da Conceição, insatisfeito com os rumos da política econômica brasileira na época, resolveu se vingar: o plano era sequestrar o avião e jogá-lo sobre o Palácio do Planalto, em Brasília, para matar o culpado daquela crise: o presidente José Sarney.

O sequestro

 Arte (Fonte: Jornal Nacional/Reprodução) Arte (Fonte: Jornal Nacional/Reprodução)

Um comissário tentou impedir que Raimundo chegasse à cabine, mas foi baleado. Chegando às portas da cabine de pilotagem, que na época não eram blindadas, o sequestrador atirou através delas, acertando o painel e a perna do piloto reserva. Temendo pela vida dos passageiros, o piloto Fernando abriu a porta. 

Enquanto Raimundo anunciava o seu plano suicida, uma espécie de 11 de setembro antecipado, o piloto acionou o transponder da aeronave, um transmissor de rádio que permitiu enviar o código da ocorrência ("interferência ilícita") e também a parte da conversa sobre o plano de jogar o avião sobre o Palácio do Planalto.

Quando a torre de controle respondeu ao piloto, o copiloto Salvador Evangelista apressou-se em responder, mas seu gesto foi interpretado por Raimundo como uma tentativa de reação. Sem hesitar, o sequestrador o executou friamente com um tiro na nuca.

A difícil negociação

Policiais no Aeroporto de Goiânia (Fonte: O Globo/Reprodução)Policiais no Aeroporto de Goiânia. (Fonte: O Globo/Reprodução)

Vendo a morte tão próxima, Fernando iniciou um arriscado processo de convencimento na busca de uma improvável solução: sobrevoou uma área nublada e disse ser impossível visualizar o palácio com aquelas nuvens.

O sequestrador então mudou de ideia e disse que queria ir para São Paulo, Fernando respondeu que o combustível seria insuficiente e sugeriu um pouso em Goiânia, local para onde rumou enquanto discutia com Raimundo. Como o sequestrador permanecia irredutível e fazendo ameaças, o piloto tirou o avião do piloto automático e executou um "tonneau rápido".

A ideia de fazer um tonneau, manobra acrobática em que o avião dá uma volta em redor de seu eixo, visava desequilibrar o sequestrador e lhe tirar a arma. Não deu certo. Não se dando por vencido, Fernando executou outra manobra arriscadíssima para um Boeing 737: um mergulho em parafuso. O sequestrador caiu e ele pousou em Goiânia.

O final do sequestro

O sequestrador Raimundo Nonato Alves da Conceição (Fonte: O Globo/Reprodução)O sequestrador Raimundo Nonato Alves da Conceição. (Fonte: O Globo/Reprodução)

Porém, Raimundo era duro na queda e retomou o sequestro em terra. Com o avião cercado por oficiais do Exército e da Polícia Federal, Fernando propôs ao sequestrador que ele exigisse um avião menor com bastante combustível para seguir com seu plano. Raimundo aceitou, mas com uma condição: que Fernando fosse o piloto.

Aceitando trocar sua vida pelas dos 103 sobreviventes, Fernando esperou pacientemente, junto ao sequestrador, durante mais 5 horas, até que a FAB colocou na pista um avião Bandeirante que atenderia ao sequestrador. Quando este saiu, levando também Fernando, um atirador de elite da PF o atingiu com três tiros.

Mesmo caído, Raimundo ainda atirou na perna do piloto, que corria por abrigo. Passava das 7 horas da noite.

Uma morte e uma ingratidão

Após darem entrada em hospitais de Goiânia, todos os feridos foram atendidos sem correr nenhum risco de morrer. No entanto, o sequestrador Raimundo Nonato morreu misteriosamente 3 dias depois. O laudo médico atestou "anemia falciforme".

Após salvar a vida de 104 pessoas, Fernando Murilo de Lima e Silva foi condecorado com a Ordem do Mérito Aeronáutico. No entanto, o principal alvo do atentado, o presidente José Sarney, jamais lhe dirigiu a palavra ou sequer um telefonema. 

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