Descoberta pode bagunçar a linha evolutiva dos humanos

12/05/2017 às 12:423 min de leitura

Quem nunca viu a famosa ilustração que você pode ver a seguir e que mostra os estágios da evolução humana — a partir de um primata? Ela passa a ideia de que o progresso da nossa espécie se deu de forma linear, onde um integrante (mais “avançado” e mais bem adaptado ao ambiente) foi gradualmente tomando o lugar do anterior, certo? Confira:

Quem nunca viu essa linha evolutiva?

Entretanto, a nossa evolução pode não ter acontecido de forma tão ordenada como parece, e descobertas recentes talvez tenham bagunçado completamente o nosso entendimento de como os humanos chegaram até aqui. E como isso foi acontecer? Graças a alguns fósseis encontrados em um local conhecido como Câmara Dinaledi — que faz parte do sistema cavernas Rising Star, na África do Sul — em 2013.

Descoberta surpreendente

Na ocasião, os cientistas coletaram cerca de 1,5 mil fósseis e se puseram a montar o que provaria ser um imenso quebra-cabeça. As conclusões iniciais vieram em 2015, quando foram divulgadas as primeiras informações sobre a descoberta: os ossos pertenciam a 15 indivíduos com uma combinação de características jamais vistas anteriormente, e as criaturas enigmáticas foram batizadas de Homo naledi.

Cavernas onde os fósseis foram encontrados

As análises apontaram que se tratava de fósseis de um hominídeo com dedos curvados, como os dos chimpanzés, cérebro pequeno e face achatada — características que o posicionavam mais para o extremo “primitivo” da linha evolutiva humana. Entretanto, os cientistas também notaram que os H. naledi eram dotados de punhos, dentes, dedões e pés bem parecidos com os nossos, o que, em contrapartida, era bastante inesperado e, basicamente, contraditório.

Mistura de características (John Hawks CC-BY)

De lá para cá, mais fósseis de H. naledi foram encontrados na África, o que significa que existem mais exemplares dessa espécie do que de qualquer outra população de hominídeos já descoberta no mundo — com exceção dos neandertais. Pois nesta semana foram publicados três estudos diferentes sobre essas criaturas e as conclusões são fascinantes.

Crânio de H. naledi reconstruído (John Hawks CC-BY)

Um dos maiores desafios foi datar os fósseis, uma vez que não foi possível datá-los diretamente nem extrair seu DNA. Os pesquisadores tiveram que lançar mão de sedimentos presentes na câmara, o que também não foi nada fácil, já que o local sofreu inundações periódicas ao longo dos séculos, e os cientistas tiveram que encontrar o material de que precisavam em camadas e mais camadas de depósitos.

Crânio de um humano arcaico descoberto na Zâmbia ao lado de um pertencente a um H. naledi (John Hawks CC-BY)

Por fim, com a ajuda de 10 laboratórios e instituições e o uso de seis técnicas distintas, os fósseis finalmente foram datados. Os ossos têm entre 236 mil e 335 mil anos, o que significa que eles são muito mais “jovens” do que os cientistas imaginavam. Tão jovens, aliás, que a datação aponta que, em vez de ocuparem uma das lacunas que existem em nossa longa linha evolutiva, entre os primeiros primatas e nós, os H. naledi teriam coexistido com os humanos modernos na África — e durante bastante tempo.

Bagunça

Estudos anteriores sugeriam que os humanos modernos teriam surgido na África — por volta de 200 mil anos atrás — e rapidamente ocupado o lugar de outras espécies no continente. Contudo, a datação dos fósseis indica que a coisa toda pode ter ocorrido de maneira diferente do que se pensava e, portanto, muito do que assumimos sobre os nossos antigos ancestrais pode não ser bem o que havia sido estabelecido até agora.

Quebra-cabeça

Os cientistas envolvidos na datação dos ossos explicaram, por exemplo, que não é mais possível determinar qual espécie desenvolveu esta ou aquela ferramenta, quem introduziu determinados avanços comportamentais e muito menos afirmar que os humanos modernos foram os responsáveis pela introdução de muitas das novidades que lhes foram atribuídas.

Para você ter uma ideia, as análises dos fósseis apontaram que, anatomicamente, os H. naledi poderiam muito bem ter desenvolvido ferramentas — em alguns casos, a criação foi atribuída aos humanos modernos que habitavam na África. Além disso, a quantidade de ossos descoberta e o local onde eles se encontravam indicam que os indivíduos foram colocados ali deliberadamente, sugerindo que essa espécie tinha o costume de sepultar seus mortos.

Esqueleto de um Australopithecus afarensis (de 3,2 milhões de anos) ao lado de um H. naledi (com 250 mil anos, aproximadamente) - John Hawks CC-BY

Outra implicação da datação é que, assim como os ossos do H. naledi foram descobertos e surpreenderam todo mundo, é bastante provável que tenha havido outras espécies que também coexistiram com os humanos modernos na África — e cujos fósseis simplesmente não foram encontrados ainda. E mais: algo muito importante que fósseis colocam em evidência é que a ideia de que a evolução humana aconteceu de forma linear parece estar equivocada, uma vez que as últimas evidências apontam que o nosso avanço como espécie foi muito mais complexo.

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