Por que é possível viver em Hiroshima e Nagasaki, mas não em Chernobyl?

25/10/2013 às 05:353 min de leitura

Você sabia que é possível viver tranquilamente em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, nos dias de hoje, mas não na região de Chernobyl, na Ucrânia? As três cidades passaram pelas maiores tragédias atômicas da História, mas, para entender o fato acima, é preciso relembrar a trajetória de cada desastre.

Nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, os aviadores americanos lançaram as bombas nucleares Little Boy e Fat Man sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Em 26 de abril de 1986, o reator número quatro da central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, explodiu. Todas essas tragédias causaram danos sem precedentes ao planeta e à humanidade.

Apesar disso, hoje, mais de 1,6 milhão de pessoas vivem e parecem estar prosperando em Hiroshima e Nagasaki. No entanto, a zona de exclusão de Chernobyl, que compreende 30 quilômetros do entorno da usina, mantém-se relativamente desabitada. Você sabe por quê?

Hiroshima e Nagasaki

Arremessada pelo avião Enola Gay sobre Hiroshima no dia 6 de agosto de 1945, a Little Boy era uma bomba de urânio com cerca de três metros de comprimento. Ela carregava 64 quilos do material e pesava 4 toneladas e meia.

A bomba Little Boy Fonte da imagem: Reprodução/Boston.com

Quando a bomba explodiu como planejado, a cerca de 600 metros acima de Hiroshima, uma média de dois quilos de urânio sofreu fissão nuclear, criando um lançamento de 16 quilotons de força explosiva. Como Hiroshima fica em uma planície, a Little Boy causou um imenso desastre.

As estimativas variam, mas cerca de 70 mil pessoas foram mortas, sendo que a detonação deixou ainda o mesmo número de pessoas feridas. Quase 70% dos edifícios da cidade foram destruídos. Desde então, acredita-se que cerca de 1,9 mil pessoas morreram de vários tipos de câncer decorrentes da liberação de radiação da bomba.

Hiroshima arrasada pela bomba atômica Fonte da imagem: Reprodução/Boston.com

Já a bomba Fat Man foi lançada três dias depois na cidade de Nagasaki, no dia 9 de agosto de 1945. Cerca de 900 gramas dos seis quilos de plutônio contidos na bomba sofreram fissão nuclear no momento da detonação a 500 metros acima de Nagasaki, liberando 21 quilotons de força explosiva.

A bomba explodiu acima de um vale e grande parte da cidade foi protegida da detonação. Mesmo assim, estima-se que entre 45 a 70 mil pessoas morreram instantaneamente e outras 75 mil ficaram feridas. Apesar de todo o efeito devastador da bomba de Nagasaki, não existem dados disponíveis sobre mortes posteriores por câncer que possam ser atribuídos à exposição da radiação liberada.

Chernobyl

Infelizmente, a tragédia de Chernobyl era provavelmente evitável e ocorreu como um resultado direto (e malsucedido) dos testes de um novo sistema de regulação de tensão do reator onde aconteceu o acidente somado a uma intensa jornada de trabalho, que acarretou em funcionários exaustos e sem preparo.

Foto atual da região abandonada em torno da Usina de Chernobyl, na "cidade-fantasma" de Prypiat Fonte da imagem: Reprodução/Totally Cool Pix

Além disso, o projeto dos reatores de Chernobyl já era significativamente falho. Primeiro porque os reatores eram instáveis e o sistema de refrigeração necessário para amenizar as reações de calor tornou-se difícil de controlar.

Em segundo lugar, em vez de ter uma estrutura de contenção de alto nível composto por uma placa de revestimento de aço e pós-tensionamento e aço convencional de concreto armado, em Chernobyl era utilizado apenas concreto pesado.

Então, no dia 26 de abril de 1986, os engenheiros queriam testar por quanto tempo as turbinas elétricas alimentadas pelo reator continuariam operando enquanto ele não estava mais produzindo energia. Para isso, eles tiveram que desativar muitos dos sistemas de segurança do equipamento.

Enquanto o teste era feito, pouca água necessária para o resfriamento entrou no reator e foi virando vapor. À medida que menos refrigeração estava disponível, a reação de calor aumentou para níveis perigosos. Os operadores tentaram reverter o problema, mas aí já era tarde demais e o resto da história o mundo conheceu com muito pesar. Vale dizer que o teste não estava autorizado e fugiu do controle dos cientistas.

Estima-se que cerca de sete a dez toneladas de combustível nuclear foram liberados e pelo menos 28 pessoas morreram diretamente como resultado da explosão da usina de Chernobyl, que gerou ainda uma nuvem radioativa que se espalhou até a Europa. Estima-se também que mais de 233 mil quilômetros quadrados de terra foram seriamente contaminados, com os piores efeitos sendo sentidos na Ucrânia, Bielorrússia (Belarus) e Rússia.

Porco com mutações genéticas causadas pela radiação exposto no Museu de Chernobyl Fonte da imagem: Reprodução/Wikipedia

Desde então, mais de 5 mil mortes foram atribuídas aos efeitos da radiação de Chernobyl e até hoje pesquisas são realizadas, relatando diversos casos de câncer e deformidades decorrentes da contaminação de césio, iodo e estrôncio altamente radioativos, que estavam na nuvem e também se infiltraram no solo da Ucrânia.

Diferenças

Como você pode concluir, a explosão de Chernobyl foi em terra firme, o que deixou um ambiente totalmente inadequado para a habitação humana com contaminação no ar e, principalmente, no solo. Como as bombas de Hiroshima e Nagasaki explodiram algumas centenas de metros acima das cidades, essas regiões não sofreram uma contaminação tão profunda no decorrer dos anos e foi dissipada mais rapidamente.

Além disso, o reator de Chernobyl tinha muito mais combustível nuclear, o qual detonou de forma mais eficiente nas reações. Para ter uma ideia da dimensão do estrago, enquanto a Little Boy tinha 64 quilos de urânio e a Fat Man tinha seis quilos de Plutônio, o reator número 4 de Chernobyl tinha 180 toneladas de material nuclear, sendo que dessa quantidade cerca de sete toneladas foram lançadas na atmosfera e vazaram por terra.

Apesar disso, existem alguns relatos de que alguns animais selvagens estão voltando aos poucos à zona de exclusão de Chernobyl e parecem bem e fisicamente normais (porém, ainda com resultados de níveis altos em testes de contaminação radioativa). Apesar disso, ainda é muito cedo para saber se a região condenada um dia poderá novamente abrigar humanos de uma forma segura. 

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