O seu tipo sanguíneo é mais complexo do que você imagina

19/12/2016 às 02:484 min de leitura

Quando falamos em tipo sanguíneo, A, B, AB e O com seus respectivos fatores negativos ou positivos são as referências que vêm automaticamente à mente. Mas e se eu dissesse para você que o nosso sangue é mais complexo do que isso, você acreditaria?

Para facilitar, grande parte das organizações de saúde categorizam os tipos sanguíneos nessas oito combinações diferentes. Mas a verdade é que esse sistema que aprendemos até mesmo na escola é uma grande simplificação. Cada um dos oito tipos sanguíneos pode ser subdividido em muitas outras variedades. Existem milhões no total, cada um deles classificado de acordo com seus antígenos – que são partículas ou moléculas que recobrem a superfície dos glóbulos vermelhos.

O sangue AB contém antígenos A e B, enquanto o sangue O não contém nenhum deles. Ainda, tipos positivos contêm o antígeno D, mas sangues com Rh negativo não contam com essa característica. Quando partimos para a prática, precisamos nos lembrar que os pacientes não podem receber sangue com antígenos que o seu próprio corpo já não tenha, pois correm o risco do sistema imunológico reconhecer o sangue como invasor e desenvolver anticorpos para combatê-lo.

E existem centenas de antígenos que se encaixam nos 33 sistemas de antígenos reconhecidos, muitos dos quais podem desencadear sérias reações durante uma transfusão. O sangue de uma pessoa pode conter uma longa lista de antígenos, o que significa que o seu tipo sanguíneo vai além da classificação ABO +/-, já que esses elementos também devem ser levados em consideração.

Os antígenos

Os cientistas estão descobrindo novos antígenos desde 1939, quando dois médicos americanos fizeram uma transfusão de sangue tipo O – que é considerado universal e, portanto, qualquer pessoa pode receber – em uma mulher e a paciente apresentou calafrios e dores no corpo, sinais de que seu organismo estava reagindo ao sangue. Foi a partir daí que eles descobriram a presença dos antígenos.

Desde então, descobriu-se que praticamente todas as pessoas têm alguma variedade de antígeno. Mais de 99,9% das pessoas carregam o antígeno Vel, por exemplo. É o mesmo que pensarmos que, a cada 2,5 mil pessoas, uma delas não apresenta o antígeno Vel e isso significa que ela não pode receber uma transfusão das outras 2.499. Se isso acontecer e um paciente Vel-negativo desenvolver anticorpos para o sangue Vel-positivo, o sistema imunológico vai atacar as novas células, que se desintegrarão dentro do corpo. Para o paciente, isso pode resultar em dores, febre, choque e, em casos graves, até a morte.

Tipos sanguíneos são considerados raros quando encontrados em menos de uma a cada mil pessoas. Um dos mais raros de que se tem notícia é um sangue de fator Rh-nulo que não apresenta qualquer antígeno do sistema Rh. Sabe-se que, no mundo inteiro, existem apenas nove doadores ativos com esse tipo sanguíneo na comunidade de doadores de sangues raros. Se o seu sangue tiver um fator Rh-nulo, é mais provável que você encontre mais pessoas com o seu nome do que com o mesmo tipo sanguíneo. Nessas condições, um transplante não compatível pode ser de alto risco.

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Como funcionam as transfusões

A essa altura, você já deve ter começado a questionar a maneira como as transfusões sanguíneas são realizadas hoje em dia, mas saiba que não há motivo para se preocupar. Dezenas de milhões de transfusões aconteceram nos Estados Unidos em 2012 e apenas uma dúzia de mortes foi reportada ao FDA como tendo sido relacionadas à transfusão. Isso porque os médicos tomam todas as medidas necessárias para se certificar de que existe compatibilidade, mesmo que eles não saibam de antemão quais são os antígenos presentes no sangue dos pacientes.

Antes de uma transfusão, os técnicos de laboratório misturam uma amostra do sangue do paciente e do doador, respeitando a compatibilidade do sistema ABO +/-. Se as amostras coagularem, isso indica que o sangue não é seguro para ser transferido. Uma especialista comenta que, em um primeiro momento, não é possível determinar a causa da incompatibilidade. É somente depois de realizar testes com amostras de vários doadores cujo tipo sanguíneo é conhecido que, por eliminação, descobre-se o fator que ocasiona a oposição.

Quando os técnicos identificam antígenos que resultam em tipos raros de sangue, eles podem recorrer ao International Blood Group Reference Laboratory – uma organização internacional localizada na Inglaterra. O IBGRL consulta seu banco de dados com informações de milhares de doadores de sangues raros ao redor do mundo para encontrar um sangue compatível. Nos dois últimos anos, pelo menos 241 bolsas de sangue raro foram enviadas internacionalmente, de acordo com Nicole Thornton, diretora no IBGRL. Dentro das fronteiras nacionais, esse número é ainda maior.

Das dificuldades

Mesmo com bons projetos para facilitar o acesso a sangues raros, ainda há muito que melhorar, já que existem muitos doadores que não abastecem os bancos regularmente. O Programa Americano de Doadores Raros tem 45 mil doadores cadastrados, mas 5% dos pacientes ainda acabam sem receber o sangue de que precisam.

Coral Olsen, responsável por um banco de sangue regional na África do Sul, explica que o laboratório sofre para conseguir encontrar os doadores registrados. “Porque muitos deles são de áreas rurais, frequentemente não conseguimos chegar até eles. Então esse é o nosso desafio, além de rastrear e manter a nossa base de doadores raros”, explica ela.

Para muitos países, um desafio ainda maior é trabalhar com fontes limitadas. Os laboratórios nacionais precisam manter o estoque de amostras se quiserem ser capazes que realizar testes detalhados de antígenos. Olsen comenta que, em países em desenvolvimento, onde nem sempre as amostras básicas estão disponíveis, é difícil até mesmo começar a classificar um sangue raro. Além disso, a importação de sangues raros tem um alto custo, especialmente para pacientes que necessitam de transfusões crônicas. Nesses casos, os profissionais às vezes acabam utilizando um tipo sanguíneo que eles sabem se é incompatível, mas que não causará reações tão severas por causa dos antígenos envolvidos.

O futuro das pesquisas

No futuro, os avanços da ciência facilitarão a identificação de doadores compatíveis para qualquer pessoa. Os geneticistas estão trabalhando em métodos de teste para que seja possível determinar os tipos sanguíneos a partir do DNA sem precisar lidar diretamente com o sangue. A boa notícia é que hoje em dia essa alternativa já funciona para alguns antígenos.

Espera-se também o dia em que todos os recém-nascidos passarão pelo teste para que os bancos de sangue possam construir um sistema de dados consistente de cada tipo raro, o que vai permitir encontrar imediatamente o doador compatível mais próximo. Enquanto isso, os bioquímicos estão testando substâncias que efetivamente ocultem os antígenos nos glóbulos vermelhos, buscando fazer com que eles se tornem células que funcionem universalmente.

Até lá, provavelmente os especialistas seguirão descobrindo cada um dos antígenos que ainda desconhecemos. Para os hematologistas e pacientes com tipos raros de sangue, essas peculiaridades podem ser problemáticas, mas elas também servem como um lembrete de nossa impressionante individualidade. Com centenas de antígenos existentes e milhares de combinações possíveis, talvez chegue o dia em que entenderemos que nosso sangue é tão único quanto uma impressão digital.

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