A fúria das mãos de Jeanne Weber

24/02/2020 às 14:005 min de leitura

Nascida Jeanne Maria Moulinet, no dia 7 de outubro de 1874, na vila francesa de pescadores em Côtes d’Armor, em Kérity-Peimpoull, os problemas de Jeanne Weber envolvendo infantes começaram no meio de sua própria infância. Filha de um pescador e de uma mãe dona de casa, ela era a mais velha entre os três irmãos e sempre foi o seu dever cuidar deles.

Rejeitada, a sua única obrigação era exercer um trabalho maternal prematuro, por isso os pais sempre a proibiram de ir à escola, pois seria um tempo a menos para que ela se dedicasse à criação de seus irmãos. Ao invés de aprender a ler e a escrever, Jeanne Webber sabia trocar fraldas de crianças, ver temperatura do leite, dar banho, preparar para a escola e entre outras tarefas. Aos 12 anos de idade, ela não parava para brincar, muito menos com os seus irmãos, que mais via como um trabalho do que parte de sua família.

Extremamente pobres, os pais decidiram que mandariam Jeanne para Paris para não terem que alimentar mais uma boca, uma que essa estava crescendo rápido demais. Com 14 anos de idade, Jeanne deixou a sua cidadela com a economia de cerca de 25 francos e também com o peso da obrigação de arranjar algum emprego para que pudesse enviar dinheiro para a família.

A vida não os quer

(Fonte: Daily Killer Blog/Reprodução)

A esperança de Jeanne Weber era encontrar um bom trabalho, no entanto, ela não era considerada um exemplo de beleza para a sociedade da época, sendo atarracada, um pouco gorda e também não muito inteligente.

Sir Robert, um arquiteto que morava na Rua de Clichy, porém, não a enxergou através dessa ótica quando decidiu contratá-la para trabalhar em sua mansão. Foi lá que a mulher começou a exercer a função de babá, tomando conta dos cinco filhos do homem enquanto esse passava os dias em seu escritório.

Alguns anos depois, no distrito de Chapelle, Jeanne Weber conheceu o seu futuro esposo, Jean Weber, um cocheiro. No dia 2 de junho de 1893, aos 18 anos de idade, os dois se casaram oficialmente, visto que ela estava grávida. A união do casal nunca foi algo planejado, tampouco a gravidez, mas ainda assim era preciso regularizar a situação deles, de acordo com a sociedade.

Jean negligenciava Jeanne como mulher e não demorou muito para que ela desenvolvesse o hábito de beber. Depois de 5 meses de casamento, Marcel Jean Weber, o primeiro filho, nasceu em 4 de novembro de 1894. No entanto, para o horror da mulher, a criança acabou morrendo no dia 20 de janeiro de 1895. A causa de sua morte é desconhecida.

Com isso, Jean Weber cedeu totalmente e se tornou um alcoólatra declarado. Eles se mudaram e logo Jeanne passou a fazer incansáveis tentativas para engravidar, mas nenhuma delas bem-sucedidas. Analfabeta e com modos rústicos, cuidar de crianças era tudo o que a mulher sabia fazer e precisava daquele filho para poder superar a morte de seu primogênito e também dar continuidade a própria vida.

O segundo filho nasceu no dia 9 de janeiro de 1898 e ela o nomeou também de Marcel Jean Weber, em homenagem ao primogênito. Os cônjuges decidiram se mudar novamente para renovar os ares. Pouco tempo depois, Jeanne deu à luz a sua primeira filha, Juliette Weber, em 3 de janeiro de 1900. A felicidade, contudo, durou menos do que a mulher poderia imaginar. Afetada por uma pneumonia aguda, os médicos fizeram de tudo, mas não puderam salvar a pequena, que morreu em 22 de janeiro de 1901.

A morte me ronda

(Fonte: Unknow Misandry/ Reprodução)

Maltratada, rejeitada e incapaz de manter vivo os próprios filhos, Jeanne Weber se endureceu de vez por dentro, tornando-se uma mulher mais quieta do que o habitual. Fingindo conformidade, ela não quis mais engravidar e decidiu que se dedicaria a criar o seu único filho e a viver como a boa babá que sempre foi, prestando os seus serviços na área e também oferecendo a assistência a família Weber na hora de tomar conta dos sobrinhos de seu marido. Para os outros, Jeanne demonstrava que estava feliz assim, muito embora uma faceta obscura tivesse dominado a sua mente e a impregnado de revolta e ódio.

Em março de 1905, Jeanne Weber foi chamada por sua cunhada, Blanche Weber, que estava doente, para tomar conta de seus filhos. No dia 2 do mesmo mês, Gorgette, a filha de 18 meses do casal, morreu nos braços de Jeanne, acometida por convulsões, segundo o laudo médico. Em 11 de março, Suzanne Weber, com 2 anos e dez meses, também morreu aos cuidados da babá, acabando com aquele galho na árvore genealógica da família.

De uma maneira inexplicável, todos sempre morriam na presença de Jeanne, como se ela trouxesse a morte para o seio das famílias, uma espécie de mau agouro. No dia 26 de março, morreu a pequena Germaine, de apenas 7 meses, filha de Léon e Marie Weber, novamente na presença nefasta da mulher. A causa da morte foi um súbito ataque de asfixia.

Em 29 de março, Marcel Weber, o filho de Jeanne, morreu aos 7 anos de idade, depois de a mãe deixar o seu quarto. Num curto espaço de tempo, todas as crianças que eram deixadas aos cuidados da mulher, acabavam em um caixão.

O anjo da morte

(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Embora a maioria das crianças ficassem doentes antes de sucumbirem, todos os médicos pareciam ignorar as estranhas contusões que coincidentemente todos os cadáveres possuíam ao redor do pescoço.

A sucessão de mortes sempre na presença de Jeanne passou a levantar dúvidas das pessoas a respeito da mulher. Porém, não da maneira apropriada. Os pais das crianças chegaram à conclusão de que a babá era amaldiçoada e que carregava o fantasma de suas perdas para outras famílias.

Os mais céticos e nada supersticiosos, continuaram a usar das habilidades maternais da mulher. Tanto que, em 5 de abril de 1905, as duas cunhadas de Jeanne Weber não hesitaram em aceitar o convite dela para que jantassem em sua casa. Ela não quis acompanhá-las quando essas saíram para o mercado, preferindo ficar com o seu sobrinho, Maurice, de 10 anos.

Elas voltaram a tempo de pegar Maurice resfolegando, repleto de vergões em sua garganta e Jeanne Weber, com uma expressão odiosa, encarando-o, ofegante, ao lado da cama.

Mãos incontroláveis

(Fonte: Look and Learn/Reprodução)

A mulher foi denunciada e levada para a prisão, onde aguardaria o seu julgamento. A promotoria alegou que haviam 8 casos de crianças que morerram misteriosamente sob os cuidados de Jeanne, incluindo 5 de seus sobrinhos. O assassinato de seu filho teria sido proposital, no intuito de eliminar as suspeitas sobre ela. Afinal, que tipo de mãe - que inclusive já havia perdido dois filhos - mataria o único que lhe restara?

Foi nisso que o seu advogado, Henri Robert, se apoiou e fez os jurados decidirem acreditar nele, pois não parecia certo atribuir crimes tão bárbaros a uma mulher enlutada. Sendo assim, Jeanne foi absolvida pelo juiz.

Em 7 de abril de 1907, a polícia foi chamada até uma pensão de um camponês onde uma criança havia sido encontrada morta ao lado de uma mulher chamada Madame Moulinet, que na verdade era Jeanne Weber. O menino de 9 anos, Maurice, foi encontrado na cama da mulher adormecida, entre lençois cheios de nós, ensopado de sangue, com o pescoço dilacerado e a língua mordida. Quando acordada, Jeanne disse que não sabia o que tinha acontecido e fitou a criança morta com indiferença.

Eles prenderam Jeanne mais uma vez e apressaram o seu julgamento. Mas, por algum motivo, o legista definiu a morte de Maurice como fruto de convulsões misteriosas, apesar de tudo. A babá contratou Henri Robert e esse levou até o tribunal um laudo da autópsia de uma das crianças que sua cliente tinha sido acusada de matar, e lá constava morte por febre tifóide e não por estrangulamento ou outra coisa. Por isso, Jeanne foi absolvida novamente.

O fim pelos próprios meios

(Fonte: Taringa/Reprodução)

Jeanne sumiu por algum tempo e aceitou trabalhar num orfanato em Orgeville, que era dirigido por amigos que visavam compensar os erros que a justiça infligia na mulher inocente que acreditavam que ela era. Em menos de uma semana, ela foi flagrada estrangulando uma criança em seu leito. Os proprietários a dispensaram e encobriram o ocorrido, assim como as falhas da Justiça.

A mulher voltou à Paris e chegou a ser confinada num asilo em Nanterre por má conduta nas ruas, mas os médicos a declararam sã e a libertaram. Ela caiu na prostituição e acabou se casando em 8 de maio de 1908 com um de seus clientes. Não demorou para que ela fosse pega enforcando Marcel Poirot, de 10 anos, com um lençol. Ela estava tão tomada pela loucura que o pai do menino a espancou incansavelmente para que o soltasse, mas Jeanne só o fez depois que a criança deu o seu suspiro final.

Jeanne Weber foi a julgamento e dessa vez, porém, ela foi condenada por 10 homicídios depois de tantas evidências e erros ao longo do caminho. Naquele 25 de outubro de 1908, após anos vivendo com o respaldo de possíveis laudos fraudados ou apenas pela inaptidão dos médicos da época em determinar causas de morte, Jeanne Weber foi considerada insana e condenada a passar o resto de seus dias miseráveis e perturbados em um hospital psiquiátrico em Mareville.

Ela suportou a si mesma e a vontade assassina em suas mãos tempo o suficiente, até que decidiu beber de sua própria loucura, reservando o último nó do lençol que ceifara a última vida de seu histórico para ela mesma, se enforcando em seu quarto numa noite fria de 1918.

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