Descubra como o álcool afeta nosso cérebro e nos torna dependentes

12/07/2016 às 03:584 min de leitura

Beber é perigoso por inúmeros motivos, e isso você já deve ter ouvido por aí, mas o que será que, de fato, o álcool faz com o nosso cérebro? Por que é tão difícil parar de beber depois de começar? A verdade é que essa substância historicamente popular nos deixa desinibidos, e é só você ver uma pessoa bêbada dançando na pista de uma balada para perceber isso.

Além de tirar nossa inibição e muitos de nossos freios sociais, pelo ponto de vista comportamental, o álcool afeta estruturas cerebrais que controlam nosso desejo de beber. Ou seja... Existe uma determinada “repartição” no seu cérebro, destinada a controlar seus impulsos de beber, e, assim que você bebe, essa “repartição” entra em greve, digamos assim.

Uma questão de dopamina

É assim que o cérebro trabalha: com energia.

Especificamente falando, o álcool afeta nossos receptores de dopamina, que desempenham funções importantes tanto no momento de nos dizer para começar como para parar de beber. Quanto mais bebemos, mais esses receptores são afetados, e aí entendemos por que é que tomar a primeira cerveja é sempre a melhor maneira de ficar com vontade de tomar a segunda, a terceira...

A dopamina é uma substância fantástica que, quando liberada, nos proporciona uma sensação de bem-estar e de prazer. Acontece que, como muitas coisas na vida, a dopamina tem seu lado negativo: se ela é produzida em excesso em nosso cérebro por causa de algum tipo de droga, o cérebro fica viciado nessa droga, afinal é da nossa natureza gostar e querer sensações de bem-estar.

Essa dependência tem relação direta com a região do cérebro de recompensa – é quase um sistema parecido com o do cachorro que, uma vez adestrado, sabe que se seguir determinados comandos vai ganhar petisco.

Equilíbrio entre receptores

A todo o vapor, para o bem e para o mal.

Um estudo realizado pela Universidade do Texas conseguiu mostrar que alguns receptores cerebrais são capazes de se adaptar quando estão expostos a altas doses de dopamina, mudando suas próprias estruturas para conseguir reagir mais intensamente ao álcool.

Para compreender melhor o funcionamento da dopamina, precisamos saber que existem duas classes de receptores amigáveis dessa substância: os receptores D1 ou “receptores do ‘vai’” e os receptores D2 ou “receptores do ‘não vai’”. O equilíbrio entre esses dois receptores nos ajuda a controlar a bebedeira, mas se bebemos demais e constantemente, ou se usamos outras drogas estimulantes como a cocaína, esses receptores D2 vão ficando desativados e aí o autocontrole vai embora.

Em 2015, um estudo mostrou que ratos expostos a doses altas de álcool tinham receptores D1 mais fortes, o que facilitava a procura desses animais por meios de alimentar a necessidade de liberar mais e mais dopamina. Quanto mais eles bebiam, mais queriam beber. Outro estudo, publicado em maio deste ano, mostrou que o álcool tem, sim, a capacidade de enfraquecer os receptores D2. A combinação de receptores D1 fortes e de receptores D2 fracos é o que abre a porta para o vício.

Vício químico

Cilada

Sabendo disso, fica fácil entender como o álcool vicia e como, de fato, estamos falando de uma substância realmente perigosa. Uma vez que a pessoa esteja viciada, o que fazer, então? Entender o mecanismo da chamada “força de vontade”, grande aliada de quem quer parar.

Os mesmos ratinhos que ficaram viciados em bebidas alcoólicas foram colocados pelos pesquisadores em um ciclo de beber em excesso e depois se recuperar. Após esses dias de bebedeira, os receptores D2 já estavam funcionando de maneira bem mais fraca, indicando que os ratinhos já estavam sentindo desejo compulsivo de consumir álcool.

Os dois receptores foram então manipulados e o que se viu foi que o fortalecimento dos receptores D2 fez com que os ratos ficassem com menos vontade de beber – já o fortalecimento dos receptores D1 causava o efeito contrário e os bichinhos se tornavam beberrões compulsivos. A grande descoberta desse estudo foi a percepção de que é possível manipular o cérebro a ponto de reverter casos de vício – pelo menos em ratos. A esperança é a de que um dia isso seja uma possibilidade para humanos também.

Alcoolismo é uma doença – que tem cura

É só tratar. E querer.

As pesquisas a respeito desses dois receptores de dopamina já são realizadas há anos, e a responsável por identificar essas estruturas é Nora Volkow, precursora nos estudos de estímulos cerebrais de prazer e bem-estar. Entender esses mecanismos e a maneira como os vícios são quimicamente formados nos ajuda a compreender por que é tão difícil abandonar um vício: seu cérebro não apenas incentiva você a ir atrás do que libera dopamina como, uma vez que você faça isso, ele vai desativar seu poder de autocontrole. É só mais uma prova de que, realmente, o cérebro humano é uma máquina extremamente complexa.

Abandonar um vício, especialmente o da bebida, é, de fato, uma tarefa difícil e por isso há tantas recaídas, principalmente na fase inicial. A boa notícia é que, com o passar do tempo, o alcoolista pode encontrar outros meios de liberar dopamina – atividades físicas são uma ótima pedida. Contar com grupos de apoio, como o Alcoólicos Anônimos, é uma ótima maneira de se manter sóbrio, afinal, em termos psicológicos, conseguimos ter mais sucesso quando conhecemos histórias de pessoas que enfrentaram os mesmos problemas que os nossos.

Só por hoje

Um dia de cada vez. Você consegue.

Um dos lemas dos Alcoólicos Anônimos é o famoso “só por hoje”, cuja filosofia funciona para várias áreas na vida. Cada dia sem beber, para quem é ou já foi alcoolista, é uma grande vitória, e por isso é fundamental estipular um compromisso para a vida toda de nunca mais tomar o primeiro gole: como descobrimos hoje, depois dele nosso cérebro literalmente perde o controle.

Em alguns casos, a pessoa pode precisar de medicamentos para controlar a ansiedade e, claro, sempre vai precisar do apoio da família, afinal é normal que os primeiros dias e até mesmo as primeiras semanas de abstinência sejam marcadas por muito mau humor e irritabilidade. Passada essa primeira fase, no entanto, vem a sensação de bem-estar causada por se perceber saudável, sob controle e com sobriedade mental e emocional.

Quando há um alcoolista na família, todos os membros dela adoecem junto devido à grande carga emocional que é ver uma pessoa amada perder a vida aos poucos por causa de um vício. É difícil fazer com que o alcoolista se aceite como tal, mas vale sempre lembrar que existem doses aceitáveis de bebidas alcoólicas. Se uma pessoa bebe em exagero e com frequência, se seus amigos e familiares falam sobre isso, se ela já deixou de fazer outras atividades ou pagar outras contas para poder beber, possivelmente significa que ela tem, sim, dependência alcoólica. Aceitar e buscar ajuda é o primeiro passo para uma vida longa, saudável e mais feliz.

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