Thomas Midgley Jr.: conheça o inventor que quase destruiu o nosso planeta

02/06/2017 às 03:004 min de leitura

Já pensou que coisa mais chata entrar para História como uma das figuras mais perigosas de todos os tempos? Esse, infelizmente, é o legado de Thomas Midgley Jr., um inventor que, sem querer, acabou sendo responsável — indiretamente — por danos ambientais terríveis e irreversíveis, assim como pela morte de milhares de pessoas em todo o mundo.

Thomas Midgley Jr. foi um brilhante químico e engenheiro mecânico que, ao longo de sua vida, conseguiu registrar mais de 100 patentes e ganhar o respeito da comunidade científica em sua época. Em 1915, Midgley iniciou sua carreira trabalhando para o Dayton Research Laboratories, laboratório subsidiário da General Motors.

Solução perigosa

Sua missão era encontrar uma solução para a autoignição dos motores — ou seja, para evitar a avaria produzida nas bielas provocada quando a explosão da mistura de combustíveis ocorre antes da hora. Midgley sabia que o problema era causado pela maneira como a gasolina queimava nos cilindros do motor, e sua primeira proposta foi a de adicionar iodo ao combustível para tingi-lo de vermelho e, assim, alterar suas propriedades de absorção de calor.

No entanto, tornar a gasolina vermelha não deu certo, e Midgley, basicamente, começou a testar todos os elementos da tabela periódica até ele chegar ao “Pb” ou chumbo. Assim nasceu o Tetraetilchumbo, um aditivo que eliminou o problema da autoignição — e até melhorou um pouco o consumo dos veículos —, mas criou uma dor de cabeça muito maior.

Aditivo letal

Evidentemente, não demorou até o aditivo ser misturado à gasolina em todo o mundo. Só que o tetraetilchumbo libera partículas de chumbo no ar — e esse elemento é extremamente tóxico para os seres humanos, especialmente para as crianças.

Isso porque o chumbo ocorre naturalmente no ambiente, mas, quando é ingerido ou inalado, ele pode causar uma série de problemas graves de saúde, além de prejudicar o desenvolvimento neurológico de crianças menores de 6 anos, provocando danos permanentes. A exposição ao elemento pode resultar em aumento na falta de atenção, inabilidade de seguir instruções, dificuldade na solução de problemas e irritabilidade.

Acontece que, com a descoberta de Midgley, as pesquisas em aditivos acabaram sendo abandonadas na década de 20. E, a partir de então, milhões de automóveis movidos à gasolina com chumbo começaram a circular pelo planeta — todos eles liberando partículas do metal pesado através de seus escapamentos. "Legal", né?

Negligência

O pior é que todo mundo sabia do problema com o chumbo e, em 1923, vários médicos e especialistas expressaram sua preocupação com relação à liberação do elemento no ambiente. Porém, como o uso aditivo estava gerando uma soma absurda de dinheiro, a GM optou por ignorar os alertas — mesmo depois de seus operários começarem a sofrer as consequências da intoxicação pelo metal.

Só para que você tenha uma ideia, em uma planta que a GM mantinha com a Standard Oil — atual Exxon Mobil —, mais de 80% dos trabalhadores sofreram envenenamento e até morreram por conta do chumbo! Surpreendentemente (ou não, em se tratando de operações envolvendo muito dinheiro), se passaram cinco décadas até que alguém tomasse algum tipo de providência.

O uso do aditivo começou a ser abandonado entre os anos 70 e 80, e na década de 90 o tetraetilchumbo foi finalmente banido. Mas não pense que, depois de intoxicar milhares de operários e três gerações de crianças com chumbo, Midgley resolveu se aposentar e parar de contaminar o planeta. Que nada... O inventor ainda tinha mais uma contribuição importante!

Refrigeradores

As geladeiras, como você sabe, são caixas metálicas com uma porta isolante, e o frio é gerado através da absorção do calor dos itens de seu interior e a sua liberação no ambiente. Elas contam com uma série de tubos em seu exterior (na parte de trás) que contêm um fluido refrigerante — que, nessa fase do ciclo, se encontra na forma líquida devido à alta pressão.

Um compressor faz o fluido passar por uma válvula e, depois de ele sofrer uma forte redução de pressão, entrar em estado gasoso e se resfriar drasticamente. O gás então circula por uma serpentina localizada no interior da geladeira, onde começa a “roubar” o calor dos alimentos — e a se aquecer.

Depois, o gás segue pela serpentina até passar pelo compressor, onde é novamente submetido à alta pressão — que provoca o aumento de sua temperatura e faz com que ele volte ao estado líquido. Por último, o fluido passa por um novo tubo onde perde calor para o ambiente, antes de todo o ciclo começar novamente.

Acontece que, para funcionar corretamente, os fluidos refrigerantes devem apresentar determinadas propriedades, como ser voláteis — para evaporar facilmente — e inertes, para que essas provoquem a oxidação do equipamento e não se liguem quimicamente com outros elementos. Mas, voltando a Midgley...

Danos ambientais

Na década de 30, depois de abandonar os trabalhos com os aditivos, Midgley foi contratado para trabalhar em uma divisão da GM chamada Frigidaire, voltada para a produção de geladeiras. Sua nova missão era a de encontrar uma alternativa barata para o propano, a amônia, o dióxido de enxofre ou o clorometano — substâncias tóxicas e altamente inflamáveis —, que eram as opções de fluidos refrigerantes que existiam na época.

Pois em meros três dias de trabalho, Midgley conseguiu a proeza de desenvolver o Diclorodifluorometano — o primeiro clorofluorocarbono halometano já sintetizado no mundo. Traduzindo: Midgley criou nada mais do que o infame CFC, aquela substância que era usada em refrigeradores, aparelhos de ar-condicionado e aerossóis no passado e cuja produção é proibida em todo o planeta atualmente. Calma, você já vai descobrir o motivo.

O CFC é inerte, o que significa que, quando ele é liberado no ambiente, nenhum processo químico natural é capaz de degradá-lo. Assim, todo o CFC liberado pelas geladeiras que começaram a surgir na década de 30, passando pelos sprays de cabelo que permitiam que os penteados dos anos 50 e 60 se mantivessem no lugar — incluindo as cabeleiras rebeldes dos 70 e 80 — continua na atmosfera. Sem falar nos desodorantes, nas latinhas de tinta etc.

Acontece que, apesar de o CFC ser usado aqui na superfície, ele eventualmente vai parar nas camadas mais altas da atmosfera, onde é bombardeado por raios cósmicos. E quando as moléculas de CFC interagem com os raios cósmicos, os elementos que compõem o diclorodifluorometano — o cloro, o metano e o flúor — são liberados e, além de contribuírem para o efeito estufa, um deles (o cloro) é capaz de destruir a camada de ozônio.

Todo mundo sabe que o ozônio presente na atmosfera ajuda a filtrar os raios ultravioletas do Sol. Mas, a camada de ozônio não serve apenas para prevenir o surgimento de câncer de pele entre os terráqueos. O excesso de radiação pode interferir na taxa de crescimento das plantas terrestres e aquáticas, o que, por sua vez, pode afetar ecossistemas inteiros, além de potencialmente reduzir a absorção de dióxido de carbono da atmosfera.

Karma?

Os efeitos provocados pelo CFC só foram descobertos muito tempo depois de sua criação, e a produção, conforme já mencionamos, foi proibida em meados da década de 90. Com relação à Midgley, ele não provocou esses danos todos deliberadamente e morreu tragicamente em 1944, sem saber a real dimensão dos problemas catastróficos que as suas invenções causaram. Aliás, podemos dizer que, de certa forma, ele pagou pelo que fez, coitado.

Em 1940, Midgley contraiu poliomielite e inventou uma engenhoca para ajudá-lo a sair da cama. Tratava-se de um sistema de polias e alavancas que ele instalou em seu quarto, e um belo dia, ele foi encontrado morto — tendo sido estrangulado pelos cabos de sua própria criação.

*Publicado em 16/7/2015

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