Estilo de vida
22/06/2016 às 09:03•3 min de leitura
Você se lembra de ter lido aqui no Mega Curioso a respeito de um controverso papiro que sugere que Jesus de Nazaré era casado? Em 2012, Karen King, da Harvard Divinity School, divulgou a notícia a respeito do material: uma lâmina de 4 por 8 centímetros do século 4 escrita na frente e no verso em copta, um antigo idioma que surgiu no Egito por volta do século 3.
Esse fragmento do tamanho de um cartão de visitas é o famoso papiro
Das 14 linhas do papiro, oito são legíveis e, em um primeiro momento, apenas quatro palavras foram traduzidas. Segundo os especialistas, os vocábulos significam “Jesus disse a eles, minha esposa...”, o que, para eles, serve de prova que alguns dos primeiros cristãos acreditavam que Cristo teria se casado — e com Maria Madalena. Mais tarde, os pesquisadores conseguiram traduzir mais um trecho do texto que diz “Ela poderá ser minha discípula”.
O fragmento ficou conhecido como “Evangelho da Esposa de Jesus” e, como você deve imaginar, o papiro causou uma enorme polêmica. Por um lado, muitos duvidaram da autenticidade da lâmina, defendo a hipótese de que se tratava de uma falsificação. Entretanto, em 2014, uma série de testes conduzidos no material — pela Universidade de Harvard, de Columbia e pelo MIT — comprovaram a sua autenticidade. Mas, calma, a saga do papiro está longe de terminar!
Karen King com o fragmento
No ano passado, a autenticidade da lâmina voltou a ser questionada — desta vez por conta da origem duvidosa do fragmento. Isso porque o dono do papiro (cuja identidade jamais foi revelada) adquiriu a peça de um homem chamado Hans-Ulrich Laukamp em 1999, o qual, por sua vez, teria comprado o item na Alemanha Oriental nos anos 60. Só que o alemão faleceu em 2002, e a família nega que ele tivesse qualquer interesse em egiptologia, muito menos que possuía documentos antigos.
Tradução da frente
Além disso, Laukamp vivia na Alemanha Ocidental na década de 60, o que significa que ele não poderia ter ido ao outro lado na época. Para engrossar ainda mais o caldo, um pesquisador chamado Christian Askeland decidiu analisar outro papiro do colecionador anônimo, também adquirido de Laukamp, e descobriu que esse segundo material era idêntico a um papiro redigido em licopolitano — um dialeto extinto do copta — que aparece em um livro de 1924.
Tradução do verso
Askeland encontrou muitas semelhanças entre o Evangelho da Esposa de Jesus e esse segundo fragmento e concluiu que existiam fortes evidências de que os dois fragmentos haviam sido produzidos pela mesma pessoa — indicando que eles provavelmente eram falsos. Como se fosse pouco, outros cientistas apontaram que o papiro sobre Maria Madalena traz o mesmo erro ortográfico que outro documento cristão cuja cópia online se tornou pública em 2002.
Agora, graças ao incansável e minucioso trabalho investigativo de Ariel Sabar, do portal The Atlantic, novas e comprometedoras evidências vieram à tona, levando Karen King, a pesquisadora da Harvard que traduziu o papiro e tentou provar sua autenticidade, a admitir que o fragmento pode ser falso. Isso porque a identidade do proprietário anônimo que entregou o papiro a King foi finalmente descoberta — e, com ela, uma verdadeira rede de intrigas.
Walter Fritz
Seu nome é Walter Fritz, um alemão que vive na Flórida interessado em coisas como pornografia, peças de carros e egiptologia. De acordo com Sabar, ele é o único proprietário do papiro e garantiu que não manipulou, alterou nem forjou o fragmento.
Contudo, investigações sobre a sua vida revelaram que ele estudou copta no passado, trabalhou para o Instituto de Egiptologia da Universidade Livre de Berlin, inclusive foi estudante de mestrado nessa instituição de ensino, e serviu como guia no Museu Egípcio da capital alemã.
Cópia da cópia da assinatura do contrato de compra e venda do papiro
Ademais, Fritz era sócio de Laukamp em uma fábrica de autopeças, o que significa que ele poderia ter conseguido uma assinatura do companheiro facilmente — possivelmente a que aparece no contrato de compra e venda do papiro. O alemão também admitiu que escondeu todas essas informações de Karen King, a pesquisadora que traduziu o fragmento, e que mentiu a ela.
King, enganada
Basicamente, as apurações de Sabar apontaram que, embora não tenha sido provado ainda, Fritz pode muito bem ter conseguido um fragmento de papiro antigo (aparentemente, é relativamente fácil encontrar esse tipo de material no eBay), preparado o pigmento de acordo com alguma receita antiga e redigido o texto em copta.
A única coisa que ele parece não ter conseguido forjar com perfeição foi o documento de autenticidade do fragmento. Afinal, foi a partir dele — e da história suspeita associada a ele — que o repórter conseguiu descobrir o envolvimento de Fritz e cavar todos os detalhes que o incriminam nesse caso.
A saga do Evangelho da Esposa de Jesus provavelmente não terminou ainda — e nós aqui do Mega Curioso continuaremos trazendo informações sobre essa fascinante intriga!