Em 1906, até restos mortais humanos eram misturados com a carne

11/10/2019 às 08:003 min de leitura

O título pode até parecer tendencioso, porém tudo não passa de mais um fato dantesco de nossa História. Estamos falando da maior revolução industrial no ramo alimentício, que teve início nos Estados Unidos e atingiu o mundo todo graças ao livro-denúncia escrito pelo então jovem autor Upton Sinclair, intitulado como A Selva. Muito embora o romance pecasse em questões de literatura, com o maniqueísmo exacerbado e o apelo emocional pelo choque, foi a exposição da indústria de carne enlatada americana e a exploração da mão de obra imigrante que se destacaram.

    

(Fonte: Amazon/Reprodução)  /  (Fonte: National Geographic Society/Reprodução)    

Talvez a doentia narrativa de Sweeney Todd — com Mrs. Lovett triturando os corpos assassinados pela vingança do barbeiro diabólico para acobertar o crime e incrementar o recheio de suas tortas — não fosse uma ficção tão absurda e distante do que o jovem jornalista presenciou. A diferença era que os crimes eram outros, assim como o motivo das pessoas acabarem dentro da carne.

No ano de 1905, Sinclair foi contratado pelo jornal Appeal to Reason para fazer uma denúncia nas fábricas de carnes de Chicago — Swift e Armour. Durante meses, ele se fez passar por amigos ou parentes de operários para conseguir trabalho. Sinclair foi com o intuito de investigar apenas as condições de trabalho das pessoas, mas acabou descobrindo um descaso ainda maior para com o ser humano como consumidor.

O que o homem viu foi que a higiene nas indústrias basicamente não existia, tampouco era algo a ser levado em consideração, tendo em vista que se tratava de uma época em que a linha de produção nunca podia parar, que a empresa tinha que vender sempre mais e gastar menos. O ambiente acumulava doenças e sujeiras. Os ratos andavam por todo o local, por debaixo e por cima das máquinas e embalagens. Alimentavam-se dos restos que não eram limpos e devidamente descartados, inclusive andarilhavam pelas mercadorias prestes a serem despachadas e que ficavam amontoadas pelos cantos.

(Fonte: Gizmodo/Reprodução)

Nos depósitos, as ratoeiras recheadas com veneno não eram recolhidas pelos dirigentes. Os roedores então morriam em meio a carne e, por vezes, eram processados junto a ela.

Salsichas, linguiças, presuntos e outros tipos de carnes que estavam em processo de apodrecimento ou já mofados eram misturados com matéria prima boa para render mais e nem um grama ser desperdiçado. Os que ficavam aparentando ou cheirando mal eram devidamente maquiados com borato de sódio e glicerina.

(Fonte: Newsela/Reprodução)

Os abatedouros mal separados dos estoques, banheiros e outros ambientes, eram uma cena de crime. Os animais levados para morrer não possuíam distinção se estavam saudáveis ou doentes. Todos entravam para os ganchos e ganiam por horas a fio até chegar o seu momento na esteira. O sangue coagulado que impregnava o madeirame e quase nunca era lavado respingava na água limpa armazenada. Ninguém usava toucas, aventais ou máscaras. Suor, cabelos, catarro de trabalhadores tuberculosos, germes e resíduos diversos entravam em contato direto com as carnes.

Crianças eram contratadas e forçadas a trabalhar por horas sem parar, sob tantas ameaças quanto os mais velhos. O maquinário sem manutenção e a falta de proteção ou instruções adequadas era o lacre que faltava para fechar essa grande lata de abuso. Era comum as pessoas perderem dedos para as serras. Todos os dias Sinclair testemunhara um caso diferente. E esses membros caíam na comida junto com o sangue, e a linha de produção seguia sem interrupção. Nada era jogado fora. Nada parava. Em casos mais extremos, durante o preparo das sopas desidratadas, iam-se pessoas inteiras para dentro dos caldeirões ferventes e gigantescos, sendo resgatados apenas os ossos. E a comida seguia sendo preparada. Sem desperdícios.

    

 (Fonte: Ranker/Reprodução)      /     (Fonte: Newsela/Reprodução)

Mas não havia nenhuma fiscalização?

Bem, claro que havia. Nos dias de inspeção, os fiscais iam até a sala da diretoria, recebiam uma grande quantia em dinheiro e partiam sem sequer olhar a fábrica.

Com a publicação de A Selva, em 1906, que só em duas semanas vendeu mais de 25 mil cópias e horrorizou a população, o presidente Theodore Roosevelt enviou o Comissário do Trabalho Charles Neil e o assistente social James Bronson para fazer uma inspeção nas fábricas. No entanto, ainda que o aviso dessas batidas fosse antecipado e os donos tivessem tempo de se preparar, o que os dois encontraram não foi nada diferente do que Sinclair havia relatado em seu livro.

Cerca de quatro meses depois da publicação do best-seller, Roosevelt assinou a lei do Ato das Drogas e Alimentos Puros, que deu origem ao FDA (Food and Drug Administration). No mesmo ano, entrou em vigor o Ato de Inspeção de Carnes.

Com todos esses métodos que visavam garantir uma fiscalização rígida em tudo o que era consumido nos Estados Unidos, para importação e exportação, através de testes e exames científicos, a indústria da carne virou de cabeça para baixo e seguiu destino para um novo futuro. Talvez um pouco mais limpo e digno do que poderiam ter.

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