Marcas de nascença: conheça o folclore bizarro por trás dos sinais na pele

Em maio de 1927, um leitor do jornal Spokesman-Review em Spokane, nos Estados Unidos, escreveu para uma coluna médica com uma questão urgente relacionada à gravidez. Em seu depoimento, o leitor questionou "se uma grávida não tiver seus desejos atendidos após o quarto mês de gravidez, como a vontade de comer morango, seu filho nascerá com manchas vermelhas que lembrem a fruta?".

Embora o colunista em questão, o Dr. W.A. Evans, tenha respondido com bom sendo, afirmando que a visão estava errada em todos os sentidos, tal pergunta só evidenciou um medo irracional que os seres humanos tinham no passado: as famosas marcas de nascença. Naquele período, não era nada anormal que elas provocassem uma série de superstições.

A história por trás das marcas de nascença

(Fonte: GettyImages)

Segundo estudos feitos no passado, estima-se que cerca de 10% de todos os bebês no mundo nascem com algum tipo de marca de nascença, que pode ser elevada ou achatada, vermelha ou marrom, grande ou pequena. As marcas de nascença vasculares são o resultado de vasos sanguíneos crescidos, enquanto outros exemplares são simplesmente células com pigmentação diferente do resto da pele.

Alguns desses sinais podem ser bem grandes e provavelmente não existe uma marca de nascença mais famosa do que a ostentada pelo ex-líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev. À medida que as tensões da Guerra Fria aumentavam na década de 1980, a grande mancha em forma de um "mapa" na testa do líder político tornou-se imediatamente algo reconhecível.

A maioria dos sinais de nascença, assim como o de Gorbachev, é benigna. Ocasionalmente, uma delas pode acabar necessitando de intervenção dermatológica — mas esses casos são considerados bem raros. Além disso, a ciência até hoje não tem certeza do que as causa, o que permitiu que muitos mitos e superstições surgissem com o tempo.

Velhas teorias sobre as marcas de nascença

(Fonte: GettyImages)

Como dito anteriormente, o desconhecimento ao redor das marcas de nascença sempre abriu brecha para que teorias bizarras pipocassem por todos os cantos. Talvez o equívoco mais bizarro sobre elas fosse a noção de que um sinal desses poderia ser uma "evidência" de que uma comunidade tinha uma bruxa em seu meio.

Durante os infames julgamentos das bruxas de Salem, no século XVII, suspeitava-se de bruxaria se uma mulher apresentasse uma marca de nascença consigo, uma verruga ou outra lesão na pele. Em vez de serem consideradas uma anomalia de pigmento, os sinais foram apelidados de "marcas da bruxa" ou "marcas do diabo" e foram adicionados à pilha de tolices científicas que levaram a condenações por bruxaria.

As marcas de nascença também estão há muito tempo interligadas com a ideia de "impressões maternas". Ou seja, acreditava-se que os pensamentos e atividades realizados por uma pessoa grávida tinham o potencial de influenciar o feto. Logicamente, nunca foi encontrada qualquer evidência científica que apoiasse essa ideia. 

Surgimento de explicações racionais

(Fonte: GettyImages)

Embora crenças como as do preocupado leitor que escreveu para a Spokesman-Review tenham perdurado até o século XX, explicações racionais a respeito do assunto passaram a circular muito antes disso. Em 1898, por exemplo, um correspondente de uma revista médica já havia se posicionado contra os mitos que surgiam na época.

Embora a grande maioria das pessoas tenham rejeitado amplamente algumas das ideias mais tolas a respeito das marcas de nascença, o folclore ainda pode informar como as pessoas interpretam esses sinais. Por exemplo, durante séculos, a cegonha foi vista como um símbolo de fertilidade, entregando bebês a famílias felizes.

Se uma criança nascesse com uma marca de nascença na nuca, isso também poderia ser interpretado como uma marca deixada pela cegonha enquanto carregava o recém-nascido para seus novos pais. Esse tipo de folclore, evidentemente, soa muito mais agradável do que chamar um sinal de nascença de "marca do diabo".