Além de combustível, para o que mais os dejetos humanos podem servir?

04/12/2014 às 12:553 min de leitura

Há alguns dias, você pôde conferir aqui no Mega Curioso sobre o ônibus movido a um tipo diferente de combustível que fez a sua estreia nas ruas de Bristol (na Inglaterra). Esse veículo britânico foi produzido para funcionar à base de energia gerada pela combustão de um material obtido da decomposição de lixo orgânico, esgoto e fezes.

Sim, o cocô está sendo usado como combustível e de uma forma muito eficiente com o gás biometano, que é derivado desse resíduo humano e passa por uma estação de tratamento, é claro, e não há nenhum sinal de cheiro desagradável exalando do ônibus. Mas, será que existem outros usos para as fezes humanas e também para a urina?

De acordo com um artigo de Sarah Jewitt, do The Conversation, esse é um assunto muito complexo, já que a maioria das sociedades associa as necessidades fisiológicas com algo nojento e malcheiroso (o que não deixa de ser mesmo).

Além disso, as fezes (e toda a gama de bactérias e doenças que podem carregar) ameaçam a saúde de cerca de milhares de pessoas que convivem em áreas sem saneamento básico.   

No entanto, esses dejetos também podem representar um importante recurso, que já foi usado aos montes de diferentes formas ao longo da história e até na atualidade. Confira abaixo mais alguns usos das fezes e urina de humanos:

A versatilidade da urina

Rica em amônia, a urina é um líquido particularmente versátil e pode ter vários usos. Por exemplo, na Europa Medieval, o famoso xixi foi amplamente utilizado para limpar roupas, enquanto os romanos utilizaram-no para curtimento de couro e limpeza de lã. Claro que tudo isso não devia ficar lá muuuito cheiroso não é, mas pelo jeito funcionava para esses fins.

De acordo o The Conversation, a urina também produz um excelente fertilizante agrícola. Antes da realização do século 19, de que dejetos humanos eram um risco para a saúde, o esgoto era rotineiramente transportado de cidades para aldeias para utilização como adubo.

A questão é que a maioria dos riscos para a saúde só pode ser eliminada se a urina (inofensiva, mas desagradável) e as fezes (cheias de doenças) forem separadas na fonte através de alguma forma ainda nas instalações sanitárias.

Esse tipo de tratamento é ideal em termos ambientais e econômicos, pois a urina produzida anualmente por cada adulto contém nutrientes que podem ser benéficos para plantas em uma quantidade suficiente para cultivar cerca de 250 quilos de grãos, que seriam o suficiente para alimentá-los também por um ano.

A ideia dos banheiros que separam os dejetos já está sendo usada em alguns países algum tempo, como a China, que utiliza esse sistema para coletar urina para o uso como fertilizante. Além desse país, em algumas regiões da Suécia, esses sanitários são agora obrigatórios para a melhoria da qualidade ambiental, bem como para a criação de uma economia significativa nos custos de fertilizantes para os agricultores.

O poder do cocô

Segundo o The Conversation, o conceito do biogás a partir de resíduos humanos não é um novo, pois os assírios usavam-no para aquecer a água do banho no século 10 antes de Cristo. No entanto, o potencial de gerenciar simultaneamente os dejetos e a geração de energia a partir deles tem atraído cada vez mais atenção nas últimas décadas.

Atualmente, os tratamentos de resíduos que existem ainda deixam para trás um tipo de lodo de depuração que tem sido difícil de eliminar. No entanto, quando esse material é colocado em um grande recipiente e deixado para “digerir” (como uma planta de digestão anaeróbia), ele pode produzir biogás valioso e resíduo rico em nutrientes.

Enquanto o biogás pode ser usado diretamente como combustível limpo para criar o biometano ou até para gerar eletricidade, o resíduo rico em nutrientes pode ser usado como fertilizante ou condicionante do solo, ajudando no processo de redução das emissões de metano, promovendo o crescimento vegetal e captando carbono através da fotossíntese.

Em áreas rurais da China, os sistemas de biogás desempenham um papel importante na eliminação de agentes patogênicos mesmo com métodos de saneamento de baixa tecnologia, proporcionando combustível limpo para uso em fogões de cozinha e fertilizantes com os resíduos anaeróbios.

A Suécia e Alemanha também são grandes usuários dos resíduos anaeróbios. Na Alemanha, por exemplo, as estações de águas residuais podem vender sua energia excedente para a rede nacional e o custo atraente promove as energias renováveis.

Já no Reino Unido, a indústria de biogás fica atrás de países como Suécia e Alemanha, porém algumas obras de esgoto já estão liberando biogás na rede nacional e há muito potencial de crescimento.

O uso nos transportes e até na comunicação

Um futuro com a utilização completa do biometano como combustível seria ideal. Isso porque os benefícios são muito claros: o biometano produz 95% menos emissões de CO2 e 80% menos óxido nitroso do que o diesel, bem como não tendo as emissões de partículas. Essas porcentagens tão reduzidas seriam essenciais para o meio ambiente.

Há quatro anos, engenheiros desenvolveram um Volkswagen Beetle movido a esse gás gerado na estação de tratamento Avonmouth perto de Bristol. É esta mesma planta de esgoto que já está alimentando o apelidado de “ônibus do cocô” e que poderia produzir ainda mais, podendo atender às necessidades de gás até para o uso em 8,3 mil casas.

Na Suécia, a política de transportes tem priorizado o desenvolvimento de biometano para caminhões e ônibus, sendo uma iniciativa que tem ajudado a limpar o ar e cumprir as metas de energias renováveis.

Já de uma forma mais experimental, pesquisadores do Laboratório de Robótica de Bristol conseguiram carregar a bateria de um telefone celular usando a eletricidade gerada a partir da urina.

Eles fizeram isso usando uma pilha de combustível microbiano, conseguindo tirar proveito do metabolismo de micro-organismos vivos para criar eletricidade a partir da conversão de matéria orgânica, da urina.

Outras equipes de pesquisa têm trabalhado em tecnologias similares de conversão, conseguindo já gerar eletricidade, água limpa e hidrogênio a partir de dejetos humanos. Uma boa expectativa para um futuro com energia renovável e, com certeza, de matéria-prima abundante.

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