A história da fazenda que manteve escravos e disseminou o nazismo no Brasil

11/03/2014 às 06:392 min de leitura

A fazenda Cruzeiro do Sul, localizada a 160 quilômetros da capital paulista, foi um dos principais exemplos da presença da ideologia nazista no Brasil entre as décadas de 1930 e 1940. No entanto, a verdadeira história por trás dos símbolos espalhados pela propriedade veio à tona somente em 1990 e ganhou ainda mais força com a descoberta e os relatos de dois dos sobreviventes daquele lugar.

Os primeiros sinais vieram dos tijolos que foram revelados em uma das construções e tinham claramente a impressão da suástica nazista. Para reforçar o ideal, havia também fotos antigas (como a que se vê acima), que foram encontradam por José Ricardo Rosa Maciel – então dono da propriedade –, em que o símbolo aparecia. Tais pistas foram levadas até o historiador Sidney Aguilar Filho, que decidiu se aprofundar e desvendar os detalhes dessa história.

O nazismo e a ação integralista

Estudando o caso, o historiador descobriu que a fazenda Cruzeiro do Sul – que fica próximo à Campina do Monte Alegre, em São Paulo – pertenceu à família Rocha Miranda. A propriedade era administrada pelo pai, Renato, e seus dois filhos, Otávio e Osvaldo, que eram membros da Ação Integralista Brasileira (AIB) – um movimento político criado em 1932 a partir de ideais do facismo europeu.

Fonte da imagem: Reprodução/Revista de Historia

E, para manter os serviços da fazenda, 50 meninos (na sua maioria, órfãos, negros e na faixa dos dez anos de idade) foram enviados do Rio de Janeiro até o interior de São Paulo. Eles foram levados com a promessa de boas condições, com espaço para se divertir e a garantia de uma vida melhor. Porém, ao chegar à propriedade, eles foram forçados a trabalhar na terra e cuidar de animais, tendo as mesmas responsabilidades dos adultos e sofrendo duras consequências caso não correspondessem às expectativas.

Chamadas por números, as crianças não podiam sair da fazenda, raramente recebiam pagamento pelos seus serviços e apanhavam constantemente. Tais condições fizeram com que alguns fugissem, mas houve quem ficasse na propriedade até ser “liberado”. Boa parte do que se sabe da influência nazista e do sistema de escravidão utilizado na fazenda Cruzeiro do Sul foi descoberta a partir do depoimento dos sobreviventes e dos documentos que foram posteriormente encontrados pelo historiador.

Viver para contar

Argemiro dos Santos, hoje aposentado, foi um dos meninos que fugiu da propriedade e passou por várias cidades (e países) antes de chegar a Foz do Iguaçu, no Paraná, onde vive com sua esposa e seus filhos. O ex-trabalhador da fazenda serviu à Marinha durante a Segunda Guerra Mundial e também foi jogador de futebol amador.

Aloísio Silva, 90 anos, é um dos meninos que ficaram na fazenda até serem liberados e ainda mora na região, mas não gosta de comentar sobre o que passou. O que mais impressiona é que, mesmo sem nunca mais terem tido contato, os dois sobreviventes apresentam relatos muito parecidos sobre as terríveis condições em que viveram na fazenda Cruzeiro do Sul.

E, para explicar maiores detalhes sobre essa história que nos mostra claramente a influência que o nazismo teve no Brasil, a Revista de História, da Biblioteca Nacional, produziu o documentário que você confere abaixo:

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