Em 1982, ator e crianças morreram em set de filmagem em Hollywood

28/10/2021 às 02:004 min de leitura

A tragédia envolvendo o ator Alec Baldwin, que disparou acidentalmente e matou a diretora de fotografia Halyna Hutchins, foi um dos principais tópicos desses últimos dias. Mas, infelizmente, as mortes de profissionais em sets de filmagem são mais comuns do que muitos pensam. Hoje, a gente conta os detalhes de um dos mais horripilantes casos de Hollywood. 

Em 1982, o ator Vic Morrow e dois figurantes mirins, Myca Dinh Le (de 7 anos) and Renee Shin-Yi Chen (de 6), gravavam uma cena do filme Twilight Zone (No Limite da Realidade) à noite. Os três saíram mortos do set. 

Imagem: Reprodução

A volta de Vic Morrow às superproduções

O filme No Limite da Realidade recebeu esse título, mas era uma adaptação da famosa série de TV dos anos 1960, Além da Imaginação

O roteiro consistia em quatro segmentos distintos, com adaptações de episódios da série. Um deles era um roteiro original, feito por John Landis, celebrado em Hollywood na época por seu sucesso com Os Irmãos Cara de Pau. Steven Spielberg era outro dos diretores e coprodutores do filme, que teve ainda partes dirigidas por Joe Dante (Gremlins) e George Miller (Mad Max).

Vic Morrow ficou conhecido pela série de TV Combate!, nos anos 1960, e participou de alguns filmes hollywoodianos. Porém, ao longo da década de 1970, ele foi fazendo menos sucesso e estrelou produções de pouco prestígio. O convite de Spielberg e Landis para estrelar um dos segmentos de No Limite da Realidade poderia dar um novo fôlego para a carreira do ator.

No filme, Morrow interpretou Bill, um homem preconceituoso que prova do próprio veneno quando é transportado magicamente para situações em que é oprimido — como a França da ocupação nazista e a Guerra do Vietnã.

Imagem: Reprodução

A cena fatídica e os erros de John Landis

Aquela era a época da “Nova Hollywood”, com diretores temperamentais que mandavam como ditadores nos sets. John Landis tinha fama de ser um desses. 

A cena da Guerra do Vietnã foi justamente aquela em que a tragédia aconteceu. Pelo roteiro, Vic Morrow aparece magicamente no meio de um ataque americano a uma vila. Então, ele salva duas crianças vietnamitas e corre com elas nos braços, enquanto o helicóptero as perseguia e explosões aconteciam no fundo. Sua última fala nessa cena era: “Eu vou manter vocês seguros, crianças. Eu prometo. Nada vai machucar vocês”. 

Infelizmente, não foi isso que aconteceu. O helicóptero voava baixo, por ordem do diretor John Landis, e as explosões aconteciam muito perto da aeronave. Tudo isso enquanto Vic Morrow andava com as crianças por um lago, pouco abaixo. Algumas pessoas disseram que aquilo era perigoso, mas a produção do filme fez pouco caso, mandando a gravação continuar.

Por volta de duas e meia da manhã a tragédia aconteceu, em poucos segundos: o helicóptero perde o controle, tomba de lado e cai no lago — bem em cima de onde estavam Vic Morrow e as duas crianças. O ator e Myca Dinh Le, de apenas sete anos, foram decapitados pelas hélices da aeronave, suas cabeças voaram com a força do impacto. Já Renee Chen morreu esmagada pelo helicóptero. 

Há um vídeo do momento do acidente no YouTube. Como tudo acontece muito rápido, não é possível ver nada necessariamente perturbador. Segundo os comentários, você pode ver as cabeças de Morrow e Le voando se diminuir a velocidade para 0.25x aos 03:34 — mas eu não quis comprovar. Assista se quiser:

Um filme marcado pelo desastre

No início do vídeo acima, é possível ver que o primeiro homem que chega à cena cambaleia e parece chocado — talvez tenha visto a carnificina diante de seus olhos. Relatos da época dão conta de que o set ficou em completo silêncio nos momentos após a tragédia. Tal silêncio só foi quebrado quando a mãe de Renee começou a gritar desesperada sobre o corpo da filha. 

No Limite da Realidade foi lançado mesmo assim, no ano seguinte à tragédia. A cena com as crianças foi cortada e algumas mudanças foram feitas na edição para que a história pudesse fazer sentido sem ela. A crítica disse que o segmento de John Landis — o do desastre — foi o mais fraco do filme, mas a produção fez algum sucesso nas bilheterias.

Ironicamente, a cena com as crianças nem existia na primeira versão do roteiro. Landis incluiu essa parte depois que executivos do estúdio Warner Bros. disseram que o personagem de Vic Morrow era muito antipático. Esse foi o início de uma sequência de erros.

“Não vale a pena morrer por um filme”

Além de ser um completo ditador no set, John Landis contratou as duas crianças ilegalmente. Ele sabia que não podia trabalhar com atores-mirins à noite, nem deixá-los perto de explosões, então tratou direto com os pais das crianças “por debaixo dos panos”. 

Os pais sabiam que as filmagens quebravam a regra do trabalho noturno e concordaram, mas os produtores disseram apenas que haveria barulho — não explosões e um helicóptero. Dizem que o pai de Le chegou a perguntar se a cena era perigosa, e um assistente disse “não”.

Mas era perigosa — e muito. O piloto do helicóptero era Dorcey Wingo, um veterano da Guerra do Vietnã que estava começando em Hollywood. Ele chegou a dizer que era difícil controlar o helicóptero com tantas explosões e tão baixo, mas John Landis continuou ordenando que ele continuasse daquele modo. Talvez por medo de colocar sua carreira em risco, ele continuou.

Quando soube dessa tragédia, Spielberg — que já estava p*** da cara com Landis pelo uso de munições de verdade no set — cortou qualquer tipo de relação com o colega. Ele afirmou, em entrevistas, que “não vale a pena morrer por um filme”, condenando os abusos de diretores da época, como John Landis. Já George Miller nem quis finalizar a edição de seu segmento.

Imagem: NY Post(Fonte: NY Post/Reprodução)

O processo e mudanças em Hollywood

John Landis foi o primeiro diretor de cinema a sentar no banco dos réus por algo que ocorreu em um set de filmagens. Ele, o piloto e outros três envolvidos na produção foram acusados por homicídio culposo. As famílias também processaram o estúdio na esfera civil, recebendo uma indenização estimada em 200 milhões de dólares, muito maior que o faturamento.

No julgamento, que atraiu a mídia americana, os acusados tentaram colocar a culpa uns nos outros: Landis afirmou que a culpa era dos efeitos especiais, enquanto o piloto e a equipe de efeitos especiais disse que o diretor foi negligente e os expôs ao perigo. Contudo, todos eles foram absolvidos das acusações.

Landis continuou sua carreira como se nada tivesse acontecido, lançando sucessos como Um Príncipe em Nova York e videoclipes de Michael Jackson. Ele e sua família continuam dizendo que não têm culpa do acidente e que tudo foi um infeliz erro com os efeitos especiais.

Por outro lado, a tragédia com Vic Morrow, Renee Chen e Myca Dinh Le estimulou Hollywood a criar regras para cenas perigosas — antes não existia nenhuma. O texto orienta como proceder em gravações com explosões, armas e outros perigos. 

A partir disso, seguros em produções se tornaram obrigatórios — e possíveis, afinal, com mais cuidado nos sets, os contratos se tornaram vantajosos para as seguradoras. Profissionais de gerenciamento de risco passaram a fazer parte da equipe de produção. A cada novo acidente, as regras são atualizadas e é provável que isso aconteça após o desastre com Alec Baldwin e Halyna Hutchins.

Pena que pessoas precisaram morrer para que as regras mudassem.

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