Me deixa ser burra!

27/10/2011 às 14:502 min de leitura

Você não pode assistir ao BBB. Novela é alienação. Rede social é perda de tempo. Roupa é futilidade. Cuidar do corpo é diminuir a mente. Estamos cercados por dizeres em prol do desenvolvimento intelectual, condenando todas essas formas de “emburrecimento”.

Anuncie no Twitter que você gostou de uma comédia romântica hollywoodiana. Em poucos instantes, você será julgado porque perdeu seu tempo com um filme mainstream, em vez de assistir a uma película iraniana muda em tons de sépia – porque isso é ser inteligente.

Me deixa ser burra!

A Polícia da Inteligência é implacável: assuma que você vê televisão e ganhe um “superficial” tatuado na testa, independente do que você tenha feito no restante do dia. Mencione que você prefere sertanejo universitário e tenha seu gosto musical tachado de “inferior” (afinal, música de qualidade é MPB, mesmo que você ronque no primeiro acorde). Apareça na faculdade com um Dan Brown embaixo do braço e seja arremessado pela janela.

Desligue a TV e vá ler um livro

Claro que é importante ler e que a leitura é indispensável para a formação (alô, sou revisora e faço Letras), mas quero ter o direito de ligar a TV quando estiver cansada. Já leio tanto para a faculdade e no trabalho, será que realmente vou regredir por assistir a uns minutinhos do programa do Sílvio Santos? Meu Q.I. vai diminuir porque estou vendo Friends?

Mesmo que você opte por um livro, não é qualquer um que serve. Se não for um romancista russo, não é literatura. E não adianta comemorar ao ver uma pré-adolescente com um livro na mão: “Crepúsculo” não é leitura; o esperado é que meninas de 12 anos achem o máximo um Machado de Assis. Não importa se as crianças estão com um livro de 300 páginas na mochila: por ser “Harry Potter”, elas vão emburrecer.

Tô lendo Dan Brown.

Para mim, parece que esse pessoal aí do profundo esquece que nem todo mundo está interessado em James Joyce – a cultura de massa é diferente (e, por vezes, bem mais atrativa, diga-se de passagem).

Uma ode à futilidade

Tenho a impressão de que não há espaço para o lazer pelo lazer. Tudo o que eu faço precisa ter como objetivo meu enriquecimento cultural. Assim, ir à academia ou fazer uma aula de dança, por exemplo, são perda de tempo – o ideal seria gastar meus momentos livres com aulas de um idioma obscuro ou leituras sobre filosofia.

Mas acontece que futilidade é gostoso. Faz bem se preocupar com o cabelo, com as unhas e com as roupas. Faz bem assistir a uma série leve e engraçada, para rir um pouco no fim do dia. Faz bem e melhora o sono ler um best-seller antes de dormir. Tudo isso faz bem – e nos transforma em pessoas menos entediantes.

Vou assistir ao BBB, me larga.

Veja bem, não estou dizendo que devemos abandonar os “assuntos sérios e profundos” da vida, mas sim que há (ou deveria haver) espaço para a descontração, para a cultura pop, para o conhecimento inútil. Isso dá colorido à vida.

Assim como os músculos daquelas pessoas que passam o dia todo na academia ficam enormes e deformados, sem um equilíbrio a cabeça desse pessoal inteligente vai passar pelo mesmo processo, até ficar desproporcional.

Este texto surgiu depois da leitura dos posts da Ledi e da Aline – muito inspiradores!

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