4 avanços científicos que causaram revolta

08/05/2012 às 12:075 min de leitura

Protestos bem humorados foram organizados quando Plutão deixou de ser planeta (Fonte da imagem: Wikipedia)

Muitos pensam na ciência como uma forma de autoridade. Não é à toa, por exemplo, que propagandas de creme dental ou sabão em pó costumam ter como garoto-propaganda alguém de jaleco branco pronunciando palavras incomuns. Mas há uma característica da ciência que a difere das outras “autoridades”: ela gosta de ser questionada.

Obviamente, há um método a ser seguido durante esse questionamento, ou seja, não se pode refutar uma descoberta ou teoria científica com ideias tiradas de uma cartola mágica. Mas é essa mania constante de pôr à prova o conhecimento científico que torna a ciência tão confiável.

O problema é que, com esse processo, muitos fatos tidos como certos precisam ser revistos. E a situação se complica um pouco mais quando o avanço mexe com o imaginário popular, como alterar o número de planetas do nosso Sistema Solar ou colocar penas no corpo de dinossauros ferozes e de aparência reptiliana.

Sendo assim, preparamos a seguir uma pequena lista de descobertas ou convenções científicas que causaram algum tipo de revolta na sociedade, seja de maneira séria ou até mesmo cômica. Portanto, vamos às maiores “trolladas” da ciência.

1. A Terra não é o centro do universo

Até o século XVI, acreditava-se que os planetas e o Sol giravam em torno da Terra (Fonte da imagem: NASA)

Uma pessoa que simplesmente olha pra o céu tem a impressão de que a Terra está parada, enquanto estrelas e planetas giram ao redor dela. Talvez por isso, esse tenha sido o modelo de universo usado pelos humanos durante boa parte de nossa história.

Apesar de o heliocentrismo ― modelo que define o Sol como centro do universo ― ter sido proposto pela primeira vez no século IV a.C., por Aristarco de Samos, ele só começou a ser aceito durante o século XVI, quando apresentado pelo matemático renascentista Nicolau Copérnico.

Mais tarde, esse modelo foi aperfeiçoado por Johannes Kepler e, depois, confirmado por Galileu Galilei, graças às melhorias que o “Pai da Ciência Moderna” implementou ao telescópio. Posteriormente, novas descobertas foram feitas e o que se conhecia por “universo” continua sendo expandido até hoje.

Irritando as autoridades da época

O heliocentrismo entrou em choque com autoridades religiosas em diversas etapas de nossa história. Mesmo Aristarco de Samos, que não chegou a atrair muita atenção com sua teoria, acabou sendo citado em um dos diálogos de Plutarco como alguém que deveria ser punido com impiedade. O crime? Perturbar as fundações do universo com as  ideias de que a Terra se move e gira em torno de seu próprio eixo, enquanto o céu permanece parado.

Felizmente, os opositores do heliocentrismo não conseguiram barrar as pesquisas (Fonte da imagem: NASA)

Mas o grande mártir desse avanço científico foi Galileu Galilei, convocado inúmeras vezes pela Igreja Católica para dar explicações sobre seus estudos, que contrariavam as escrituras sagradas. Galilei acabou sendo condenado à prisão domiciliar pelos últimos anos de sua vida, tendo cometido o suposto crime de heresia.

Felizmente, o julgamento de Galilei não conseguiu barrar a ideia heliocentrista, e o modelo continuou ganhando espaço na comunidade científica da época. Mas ainda hoje há quem duvide do fato de que a Terra se move.

De acordo com a Reuters, 32% dos russos acreditam que o Sol gira em torno do nosso planeta. Nos EUA, a proporção é de um defensor do modelo geocentrista para cada cinco americanos, como conta o The New York Times. Infelizmente, não encontramos estatísticas sobre o Brasil.

2. O ser humano é só mais uma espécie de primata

Todos os hominídeos possuem um ancestral em comum (Fonte da imagem: Wikipedia)

Outro avanço científico que rende polêmica até os dias de hoje é a publicação de “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin, em 1859. Considerada como uma das obras científicas mais importantes de todos os tempos, o livro é o fundador da chamada biologia evolutiva, que se baseia na ideia de que características hereditárias são modificadas com o passar das gerações.

Dessa forma, todos os organismos que existem hoje no planeta fazem parte de uma mesma árvore da vida, com adaptações que levaram a criaturas cada vez mais complexas ao longo de bilhões de anos. Os seres humanos, por exemplo, compartilham um ancestral em comum com os macacos de hoje, enquanto que as aves guardam muitos aspectos evolutivos em comum com os dinossauros.

Cartoon satírico retratou Darwin com corpo de orangotango, em 1871 (Fonte da imagem: Wikipedia)

Mesmo em criaturas aparentemente distintas, como homens e baleias, há a presença de traços evolutivos comuns. Nesse caso, por exemplo, os ossos das nadadeiras dos cetáceos possuem relações com a anatomia da mão humana. Casos semelhantes acontecem entre as outras espécies.
E, assim como o heliocentrismo, a teoria da evolução causou um grande mal-estar não apenas na sociedade da Inglaterra vitoriana, como ainda levanta polêmicas nos dias de hoje por ser, aparentemente, contrária a algumas ideias religiosas.

Em 2008, o choque entre fé e ciência chegou a invadir até mesmo as salas de aula brasileiras, levando o Ministério da Educação (MEC) a tomar partido publicamente a favor da teoria científica de Charles Darwin. Infelizmente, a discussão parece longe de acabar, já que também acontece em outras partes do mundo. Nos EUA, por exemplo, existe até mesmo um museu dedicado ao criacionismo.

3. A desclassificação de Plutão

Plutão fotografado pelo telescópio Hubble (Fonte da imagem: NASA/ESA/SWRI)

Quem aprendeu sobre o nosso Sistema Solar antes de 2006 já tem uma história para contar aos mais novos: “Eu sou da época em que Plutão era planeta”. E, aparentemente, ninguém perceberá que esses saudosistas podem ter sido os primeiros a se levantar contra o “rebaixamento” de Plutão para a categoria de planeta-anão.

Na ocasião, muita gente conseguiu rir da situação, organizando até mesmo protestos satíricos a favor ou contra a “morte” do astro. Mas houve também quem levou a reclassificação muito a sério e chegou a demonstrar sua indignação de maneira colérica. Normalmente, as mensagens de ódios foram (e continuam a ser) destinadas a um astrônomo muito famoso e que se identifica online como “the Pluto killer”: Michael E. Brown.

Por que Plutão deixou de ser planeta?

Representação de Éris, planeta-anão mais massivo que Plutão (Fonte da imagem: ESO/L. Calçada and N. Risinger)

Desde a descoberta de Plutão, em 1930, cientistas ficaram intrigados com a possibilidade de que outros mundos, tão distantes quanto o nono planeta, pudessem existir nos confins do nosso Sistema Solar. Durante muito tempo, nenhuma novidade foi encontrada, até que Michael Brown resolveu acreditar em suas intuições e pesquisar a fundo a região além do Cinturão de Kuiper.

Entre os inúmeros objetos que Brown descobriu desde 2001, estava Éris, um planetoide com cerca de 27% mais massa do que Plutão e que também orbita o Sol, além de ter o mesmo diâmetro que o nosso querido ex-planeta.

Sendo assim, logo após o anúncio da descoberta do novo corpo celeste, em 2005, a União Astronômica Internacional (IAU) se viu diante de um dilema: deveriam adicionar um décimo planeta ao nosso Sistema Solar ou retirar Plutão de seu posto atual? E ainda mais importante, definir, de uma vez por todas, o que constitui um planeta.

Dessa forma, em 2006, a IAU decidiu considerar como planetas do nosso Sistema Solar apenas os objetos que:

  1. orbitam o Sol;
  2. possuem massa suficiente para atingir o equilíbrio hidrostático (que dá ao corpo a forma arredondada); e
  3. possuem domínio orbital, ou seja, que não existam em suas órbitas outros objetos de tamanho semelhante ao do planeta, a não ser suas possíveis luas.

Infelizmente, nem Plutão e nem Éris atendem ao terceiro requisito e, por isso, passaram a ser classificados, desde então, como planetas-anões. Bastou isso para que Brown passasse a receber mensagens de pessoas indignadas com o “fim” de Plutão. Até mesmo petições online foram organizadas na tentativa de evitar a reclassificação. Nada disso surtiu efeito.

De acordo com Brown, que conta suas memórias sobre essa época no livro “How I Killed Pluto and Why It Had It Coming” ("Como eu matei Plutão e por que ele mereceu", ainda sem tradução para o português), a IAU fez a coisa certa, já que Plutão sempre se diferenciou demais da Terra e de seus vizinhos.

4. As penas dos dinossauros

Até mesmo os tiranossauros apresentam penas em certas etapas da vida (Fonte da imagem: Nobu Tamura)

Um processo semelhante ao enfrentado pelos fãs do planeta Plutão chega agora ao mundo da paleontologia. Quem adorava pensar nos terríveis dinossauros com garras, dentes enormes e corpos de aparência reptiliana agora se vê obrigado a aceitar a nova imagem que descobertas recentes têm moldado dessas feras: a de um animal grande e cheio de penas, que mais parecem uma galinha gigante.

De acordo com o blog Dinosaur Tracking, do Instituto Smithsonian, bastou ser anunciada a descoberta do Yutyrannus, um “primo” chinês e emplumado dos tiranossauros, para que muitas pessoas começassem a reclamar na internet da nova aparência dos dinos, chegando a compará-los, inclusive, com “galinhas vindas do inferno”.

O Yutyrannus huali possuía plumagem que cobria o corpo todo (Fonte da imagem: MSN News)

Realmente, pode ser um pouco decepcionante imaginar algumas cenas de "Jurassic Park" com dinossauros cheios de penugem ou plumas. Mas não há como evitar o avanço científico. Muitas vezes, é possível atrasá-lo por alguns anos, mas a verdade sempre será escavada: tendo penas ou não.

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