Rich Alati se confinou em um banheiro para receber uma fortuna

21/10/2020 às 15:004 min de leitura

É cientificamente comprovado que a solidão causada pelo isolamento total provoca várias alterações no cérebro, podendo levar à depressão e a outros distúrbios de humor que podem se agravar com o tempo.

Estudos realizados em ratos de laboratório apontam que em 1 mês de isolamento os neurônios sofrem uma diminuição de 20% do volume total, ainda que os restantes estivessem se ramificando. Prolongando o confinamento para 3 meses, os pesquisadores notaram que essa ramificação extra não estava mais acontecendo e que os denominados “espinhos” (estruturas que os neurônios desenvolvem para se comunicarem entre si) havia diminuído significativamente.

Apesar disso, Rich Alati quis enfrentar o desafio de se manter em isolamento total do mundo por uma quantia de US$ 100 mil.

A aposta

(Fonte: Ace Pokers Solutions/Reprodução)
Rich Alati. (Fonte: Ace Pokers Solutions/Reprodução)

Em 10 de setembro de 2018, Rich Alati estava sentado a uma mesa de pôquer do Bellagio, um luxuoso hotel e cassino em Las Vegas, quando foi questionado por um colega jogador de pôquer profissional, Rory Young, quanto ele estaria disposto a receber se aceitasse ficar preso em um local escuro por 30 dias.

Alati chutou muito alto, mas, após 1 hora de negociação, ele conseguiu chegar a quantia de US$ 100 mil. Sem hesitar, Young aceitou o valor e já propôs as suas regras: o jovem teria que durar 30 dias em um banheiro à prova de som e na escuridão total. Ele receberia comida de um restaurante local, mas que seria enviada em intervalos irregulares para impedi-lo de determinar o tempo. Alati não teria acesso a nenhum meio de comunicação com o mundo exterior e teria apenas à sua disposição um tapete de ioga, uma faixa elástica e uma bola de ginástica. Se ele desistisse do desafio seria obrigado judicialmente a pagar os US$ 100 mil para Young.

Por incrível que pareça, Alati aceitou os termos e fechou acordo.

Rory Young. (Fonte: Paul Phua Poker/Reprodução)
Rory Young. (Fonte: Paul Phua Poker/Reprodução)

Para Young, o norte-americano não duraria muito tempo no confinamento. Enquanto isso, o Dr. Terry Kupers, psiquiatra do Wright Institute, em Berkeley, fez um alerta sobre como a aposta poderia banalizar o confinamento prisional em uma solitária, um método de punição que legisladores lutam até hoje para derrubar no sistema prisional dos Estados Unidos, por considerarem uma prática desumana e pior do que tortura, pois causa impactos irreversíveis à saúde. 

“Raiva, desespero, ansiedade, muitas vezes com alto risco de suicídio, é a apresentação clínica média de prisioneiros na solitária”, pontuou Dr. Kupers.

Young, por sua vez, consultou o Dr. Michael Munro para saber quais são os problemas que a aposta poderia acarretar na vida de Alati: “Se ele durar 30 dias, será extremamente desgastante para a sua saúde mental a curto e, potencialmente, a longo prazo”, explicou o psicólogo.

Longe do mundo

(Fonte: Action Network/Reprodução)
(Fonte: Action Network/Reprodução)

Alati usou o tempo que tinha até o dia de seu confinamento para preparar o corpo e a mente para os 30 dias. Ele praticou muito ioga e meditação, às vezes até por horas a fio. Em 21 de novembro de 2018, o jovem se sentia pronto e confiante para encarar o desafio.

Familiares e amigos se reuniram na casa escolhida para acontecer a aposta, onde o espaço já havia sido todo adaptado para o isolamento do jovem. Lá, o advogado de Alati e o de Young entregaram termos de consentimento e comprometimento para que ambos assinassem. O pai de Alati recebeu o poder de tirar o filho a qualquer momento caso sentisse que ele estava passando de seus limites. Além disso, uma equipe de cinegrafistas que ficaram interessados no bizarro desafio já havia posicionado suas câmeras para registrar tudo.

(Fonte: Bulldogz/Reprodução)
(Fonte: Bulldogz/Reprodução)

Às 20h05, Alati foi trancado no banheiro da casa. Por um momento, ele ficou apenas parado, permitindo que seus olhos se acostumassem à escuridão, então ele se deitou e adormeceu.

A princípio, o homem seguiu sua rotina normal: ele acordava, fazia suas refeições, apesar do horário incerto que elas chegavam, praticava ioga, alongava-se e tomava demorados banhos na banheira com essências de lavanda. “Era entediante de assistir”, confessou Young.

Solidão: uma inimiga

(Fonte: ABC/Reprodução)
(Fonte: ABC/Reprodução)

Foi depois de uma semana que Alati começou a sofrer de alucinações. Em entrevista, ele confessou que não esperava que esses pensamentos chegassem tão rapidamente. “Aconteceu tão rápido! Foram de pensamentos positivos para um monte de ‘ e se?’. E eu fui sendo consumido por isso”, descreveu ele.

Sem nenhuma companhia, esses pensamentos se tornaram perigosos e, por vezes, Alati se pegou expulsando alguém que não existia ou falando sozinho. “Os pensamentos simplesmente vem até você e se você não tiver certeza de que eles vão em uma boa direção, eles podem se tornar uma bagunça e te tirar do controle”, confessou o jovem.

Quando percebeu que a ansiedade que sentia poderia levá-lo ao desespero total, ele começou a se concentrar ainda mais na prática do ioga e voltou a focar a mente em seu corpo, buscando uma percepção mais sensorial dele.

A última jogada

(Fonte: The Guardian/Reprodução)
(Fonte: The Guardian/Reprodução)

Depois de 15 dias, temendo que Alati superasse o isolamento, Young entrou em contato com ele através de um alto-falante. Young disse que daria US$ 50 mil se Alati desistisse naquele momento, mas ele recusou a proposta. Após alguns dias, Young voltou a falar com ele e ambos chegaram ao acordo de US$ 62 mil. Depois de 20 dias, Rich Alati terminou o seu isolamento.

O jovem disse que o contato com a família e amigos foi estranho no início, pois ele já havia criado uma espécie de senso de solidão que só a sua mente entendia. Apesar de ter perdido dinheiro, Young se mostrou feliz por ter criado e realizado o desafio. “Acho que é uma boa história de quando duas pessoas querem testar se podem fazer algo”, confessou o jogador.

(Fonte: The Guardian/Reprodução)
(Fonte: The Guardian/Reprodução)

Além do dinheiro que tirou do desafio, Alati se mostrou empolgado com tudo e disse que esperava que sua história fosse positiva para outras pessoas, pois ele havia aprendido a valorizar a paciência e as coisas simples do dia a dia.

Por outro lado, o Dr. Terry Kupers esperava que as pessoas entendessem que a mente de Alati havia-se comportado bem porque lá no fundo sabia que poderia escapar daquilo a qualquer momento, muito diferente da mente de um prisioneiro que passa anos em uma solitária — como aconteceu com o ex-detento Robert King, que contou na Conferência da Sociedade de Neurociência sua experiência de 29 anos em uma solitária.

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