A coincidência incrível de Laura Buxton e seu balão dourado

04/08/2020 às 15:003 min de leitura

Para Paul Kammerer, um biólogo austríaco, as coincidências surgem de uma força física básica chamada “serialidade”, descartando ideias sobrenaturais que podem, por exemplo, vincular sonhos a eventos futuros.

Por outro lado, Carl Jung revelou ideias paranormais (como a telepatia, o inconsciente coletivo e a percepção extrassensorial) e gerou o termo “sincronicidade”, descrevendo-o como uma espécie de “princípio de conexão acausal místico”, que não apenas explica as coincidências físicas como também as premonições.

“Uma coincidência é uma surpreendente ocorrência de eventos percebidos como significativamente relacionados, mas na verdade sem conexão causal aparente”, definiram os matemáticos Diaconis e Mosteller em um artigo publicado na Methods for Study Coincidences, em 1989. Partindo do princípio da probabilidade, eles disseram que a coincidência é um “evento raro”, mas que inclui muitas variáveis para permitir que um estudo seja feito.

Sem saber, Laura Buxton e seu balão dourado, mais do que nunca, reforçaram a tão famosa frase: "quais são as chances?”.

A menina seu balão

(Fonte: Anomalien/Reprodução)(Fonte: Anomalien/Reprodução)

Em junho de 2001, Laura Buxton, de apenas nove anos, celebrava o 50º aniversário de casamento de seus avós em Staffordshire, a oeste da Inglaterra. Ela se divertia com os balões dourados repletos de gás hélio quando foi encorajada pelo seu avô a escrever um recado e colar em um deles. Ela decidiu por algo bem simples: “Por favor, volte para Laura Buxton” junto de seu endereço e telefone . A garota correu para o jardim da frente da casa e soltou o seu balão, que foi carregado pelo vento forte para o céu vespertino.

Dois dias depois, o fazendeiro Andy Rivers, que morava no vilarejo de Milton Lilbourne, no condado de Wiltshire, estava pastoreando as vacas em seu campo quando encontrou o balão vazio enroscado em sua cerca. Ele estava prestes a jogá-lo no lixo quando viu a etiqueta com o nome "Laura Buxton". 

Andy sabia que os seus vizinhos Peter e Eleanor Buxton, que moravam a cerca de 200 metros dali, tinham uma filha com aquele nome. Apesar de o endereço escrito no bilhete ser incompatível com o da família, o homem imaginou que fosse "coisa de criança", por isso resolveu entregá-lo mesmo assim.

Vidas paralelas

(Fonte: Her Moments/Reprodução)(Fonte: Her Moments/Reprodução)

A Laura Buxton, essa com 10 anos, que recebeu o balão de Andy Rivers estudava na Kingsbury Hill House School, em Marlborough, no condado de Wiltshire. Curiosa, ela decidiu obedecer as instruções na etiqueta colada no balão e entrou em contato com a Laura Buxton de Staffordshire, a cerca de três horas de carro de onde morava.

A história ficou ainda mais bizarra quando as duas foram descobrindo as coincidências que as conectavam, como se vivessem uma espécie de vida espelhada. Além de serem homônimas e terem só alguns meses de diferença de idade, ambas eram filhas únicas; tinham a mesma cor de cabelos e olhos; apresentavam peso e altura iguais; estavam no 5º ano do Ensino Fundamental; tinham uma cadela labradora preta de três anos de idade, um coelho e um porquinho-da-índia com manchas laranjas nos mesmos lugares ao longo do corpo.

Surpresos com a quantidade de coincidências, os pais das garotas decidiram marcar um encontro para que todos pudessem se conhecer. Por incrível que pareça, no dia da ocasião, as meninas vestiam roupas iguais: um moletom rosa e calças jeans.

(Fonte: Dossiers Secrets/Reprodução)(Fonte: Dossiers Secrets/Reprodução)

Em junho de 2009, a RadioLab entrevistou uma das Lauras Buxton e o quadro Acredite Ou Não fez uma matéria sobre elas. “Não temos ideia de o motivo disso tudo ter acontecido, mas aconteceu, e foi assim que surgiu uma amizade maravilhosa”, declarou para um jornal local a mãe da Laura Buxton que havia soltado o balão.

Em 2014, ambas as jovens ainda se recusavam a acreditar que o incidente foi qualquer coisa além de o destino movendo as suas peças. Convencidas de que alguma força maior do que o acaso as uniu, atualmente elas ainda são muito amigas, apesar da distância e do rumo que suas vidas tomaram.

Explicando Laura

(Fonte: Reader's Digest/Reprodução)(Fonte: Reader's Digest/Reprodução)

David J. Hand, professor de Matemática do Imperial College, em Londres, e autor do livro The Improbality Principle, discorda do caso Buxton ter alguma coisa a ver com as estatísticas. Ele acha que existe uma implicação ainda mais profunda no processo em relação a incidentes como esse.

Tendo como base o que ele mesmo estudou e escreveu sobre o princípio da improbabilidade, Hand explicou que os eventos altamente improváveis são comuns e meramente: “uma consequência da matemática do acaso associada à psicologia dos seres humanos”. Ele ainda reforçou: “É o famoso ‘coisas estranhas acontecem o tempo todo’, e nós subestimamos muito as chances das coincidências”. 

Por fim, o professor complementou: “Certamente parece que o Universo está tentando nos dizer algo que simplesmente não conseguimos ver ou entender. No entanto, ao mesmo tempo, ele é uma confusão crescente e agitada de eventos. Coisas incontáveis estão acontecendo ao nosso redor o tempo todo e nós ignoramos quase todas elas. Então, o que nos faz prestar atenção só em alguns eventos, mas não na maioria? Simplesmente alguns deles tem significado para nós. Portanto, a relevância deles chama nossa atenção e nós os notamos, nem mesmo conscientes de que trilhões de outras coisas estão acontecendo”.

Em 2015, o jornal acadêmico New Ideas in Psychology publicou um artigo dizendo que as coincidências são “uma consequência inevitável da mente que busca a estrutura causal na realidade”. Sendo assim, essa busca por estrutura seria uma espécie de mecanismo que nos permite a aprender e a nos adaptar ao nosso ambiente.

Magda Osman, psicóloga experimental da Universidade de Londres, disse que a própria definição de coincidência depende de escolhermos semelhanças e padrões. “Quando detectamos uma regularidade aprendemos algo sobre quais eventos acontecem e qual a probabilidade de ocorrência”, argumentou Osman. “Essas são fontes valiosas de informação para começar a navegar pelo mundo”, finalizou a especialista.

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