Terror na Síria: entenda a ação dos agentes tóxicos usados como armas

06/04/2017 às 07:273 min de leitura

Você deve ter visto as estarrecedoras imagens do último ataque químico que aconteceu na Síria e que acabou com a morte de pelo menos 85 pessoas, entre elas, 20 crianças. A ação aconteceu na cidade de Khan Sheikhoun, em Idlib, uma província localizada na região norte do país e que se encontra sob o controle de uma aliança de grupos rebeldes.

Depois de assistir às revoltantes cenas das pessoas sufocando e morrendo nas ruas — enquanto socorristas e civis tentam desesperadamente prestar ajuda —, a Organização Mundial da Saúde acredita que os sintomas das vítimas são condizentes com a ação do sarin. Esse composto foi classificado pelas Nações Unidas como arma de destruição em massa e sua produção e seu armazenamento foram proibidos pela Convenção sobre Armas Químicas de 1993.

Armazém ilegal contendo o agente VX

Além do possível uso do sarin no início da semana, outro agente químico, o VX — cuja fabricação e armazenagem também são ilegais —, foi empregado recentemente no assassinato de Kim Jong-nam, meio-irmão do ditador norte-coreano Kim Jong-un. Você pode saber mais a respeito do VX em uma matéria que nós aqui do Mega publicamos sobre ele (através deste link), mas, e o sarin, você sabe como ele surgiu e como funciona? E não menos importante: existem formas de tratar as pessoas que foram expostas a ele?

Armas do mal

O sarin — assim como outras armas químicas chamadas soman e tabun — foi desenvolvido entre os anos 1930 e 1940, quando um cientista alemão chamado Gerhard Schrader tentava criar pesticidas mais potentes. Ele consiste em um gás incolor e inodoro extremamente tóxico, mas, como esse composto tem forte ação nervosa — isto é, afeta o funcionamento do sistema nervoso de quem entra em contato com ele —, não demorou até que alguém percebesse seu potencial uso como arma química.

Criado por acaso enquanto cientistas tentavam desenvolver pesticidas mais potentes

Essa substância pertence a uma classe de compostos conhecidos como organofosfatos e tem ação semelhante à de agentes nervosos como o VX. Eles agem inibindo a ação de uma enzima chamada acetilcolinesterase, envolvida na metabolização da acetilcolina, um neurotransmissor responsável por passar os impulsos entre as células nervosas.

Então, com essa enzima “desligada”, a acetilcolina provoca uma superestimulação de determinados receptores nervosos — que ficam constantemente ativos. No caso do sarin e dos outros agentes parecidos com ele, como esses compostos tendem a se ligar às enzimas presentes em glândulas, o resultado de sua ação no organismo é a profusa liberação de fluidos.

Sua ação é extremamente rápida

As pessoas que infelizmente entram em contato com esse agente tóxico geralmente apresentam sintomas como lacrimejamento, contração das pupilas, liberação de urina, diarreia, sudorese, salivação excessiva e edema pulmonar — que consiste no acúmulo de líquido nos pulmões.

As vítimas podem se afogar nas próprias secreções, além de sofrer fortes e dolorosos espasmos intestinais e na bexiga até que seus conteúdos sejam esvaziados. Os afetados também sofrem queda na pressão sanguínea e convulsões — até que a combinação de sintomas leva à perda de consciência e à morte.

O VX e demais agentes nervosos, em contrapartida, tendem a se ligar às enzimas presentes nas junções entre os nervos e músculos. Aqui, o acúmulo da acetilcolina provoca a superestimulação muscular — levando à contração constante de determinadas estruturas. Nesse caso, o que geralmente ocorre é que os músculos envolvidos na respiração param de funcionar e as vítimas morrem lenta e dolorosamente de asfixia. Também pode acontecer de o agente se ligar a enzimas presentes no cérebro, levando os afetados a sofrer convulsões.

Antídotos

Todos esses agentes que mencionamos acima agem rapidamente, e os sintomas geralmente surgem poucos minutos depois da exposição. O ideal é que as vítimas sejam tratadas imediatamente após o contato — mas, em se tratando de compostos usados (covardemente) como arma de destruição em massa, dificilmente existem equipes de resgate de prontidão para ajudar as vítimas.

Um dos sobreviventes do último ataque na Síria

Uma das opções é remover as roupas do afetado e lavar seu corpo com água e sabão abundantes — que foi o que muitas das pessoas que tentaram ajudar as vítimas do último ataque na Síria foram vistas fazendo. Os olhos também devem ser lavados, bem como a boca. Se o indivíduo conseguir fazer gargarejos, melhor.

Mas, se as vítima já estiver paralisada, os socorristas podem usar máscaras de oxigênio ou dispositivos manuais para ajudá-la a respirar. Além disso, existem dois “antídotos” que podem reverter a ação dos agentes tóxicos: a antropina, que atua bloqueando os receptores da acetilcolina e, portanto, previne a superestimulação, e a pralidoxima, que elimina o agente tóxico das enzimas e freia o acúmulo desse neurotransmissor. Contudo, ambos devem ser aplicados dentro de 10 minutos do contato para que sua ação seja efetiva.

E muitos ainda se perguntam o motivo de tantos sírios estarem fugindo de seu país...

Sobre o ataque que ocorreu na Síria, ninguém assumiu a autoria ainda, e o governo, além de negar sua participação na ação, culpou os rebeldes que controlam a região. No entanto, vários especialistas em armas químicas explicaram que o processo de produção do sarin é complicado demais para os grupos armados e notaram que, se o agente foi roubado, os insurgentes não teriam como conseguir grandes quantidades.

Bashar al-Assad

Como se fosse pouco, testemunhas sírias disseram que, horas depois do ataque químico, aeronaves de guerra do regime de Bashar al-Assad teriam voltado a Khan Sheikhoun e bombardeado uma clínica que tratava sobreviventes. Esse, aliás, não é o primeiro ataque com sarin conduzido pelo governo sírio. Em 2013, mais de mil pessoas morreram em uma ação nos arredores de Damasco e, na ocasião, Assad teria prometido parar a produção de armas químicas e destruir as fábricas e os armazéns do país.

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