Artes/cultura
02/04/2021 às 12:00•3 min de leitura
O famoso e infame Tomoyuki Yamashita, general do Exército Imperial Japonês, continuou sendo motivo de polêmica mesmo após sua morte, em 23 de fevereiro de 1946. Ele foi o responsável por alimentar uma espécie de “guerra” no melhor estilo David e Golias do século XX entre o caçador de tesouros filipino Rogelio Roxas e o ex-presidente filipino Ferdinand Marcos.
Conhecido como “Tigre da Malásia”, por ter conquistado Malásia e Singapura dos britânicos em 70 dias na Guerra do Pacífico, Yamashita teria, supostamente, roubado um tesouro no sudeste da Ásia com suas tropas imperiais durante a Segunda Guerra Mundial e escondido em cavernas, túneis ou complexos subterrâneos nas montanhas filipinas.
Tomoyuki Yamashita. (Fonte: Pinterest/Reprodução)
Na jornada do herói dentro do folclore filipino, perder tesouros ou objetos valiosos de forma deliberada é uma maneira de moldar a conduta adequada e o caráter do herói ao longo de sua aventura, sem permitir que ele se desvie de seus objetivos ou se deslumbre com as oportunidades que lhe são oferecidas. Na maioria dessas histórias, as cavernas são descritas como “fontes sobrenaturais” de generosidade, por isso são consideradas locais ideais para se preservar itens valiosos de olhares e mãos repletos de malícia.
Quando as tropas dos Aliados começaram a se aproximar dos territórios conquistados pelos japoneses, em setembro de 1944, em uma súbita reviravolta da Guerra do Pacífico, o general Yamashita foi enviado às Filipinas para estruturar a defesa das ilhas.
O comandante, no entanto, ordenou que seus soldados recuassem para as montanhas de Sierra Madre, a nordeste da capital do país, visto que seria impossível defender Manilla sem que milhares de civis e militares morressem. O contra-almirante, Sanji Iwabuchi, recusou as ordens e seguiu para um combate que resultou na perda de aproximadamente 100 mil civis.
(Fonte: International Press/Reprodução)
Os rumores de que Yamashita havia escondido tesouros nas montanhas de Sierra Madre surgiram conforme ele e suas tropas avançavam pela China e pelo sudeste asiático acumulando fortunas em tesouros roubados. Reza a lenda que foi quando os japoneses começaram a perder a guerra que o príncipe Tsuneyoshi Takeda, líder do Exército Kwantung, teria ordenado a construção de uma rede de túneis subterrâneos chamada de “Golden Lilly” nas montanhas das Filipinas para proteger toda a riqueza que os japoneses haviam roubado.
De acordo com essa lenda, os vassalos de Yamashita construíram um túnel conhecido como “Número 8”, localizado em algum lugar do Vale Cagayan, no nordeste da Ilha de Luzon (Filipinas). Tanto os escravos que construíram o sistema de túneis quanto os japoneses que supervisionaram as obras teriam sido lacrados lá dentro para morrer, assim apenas o príncipe Takeda e Yamashita saberiam da localização do tesouro.
Rogelio Roxas. (Fonte: History Yesterday/Reprodução)
Com a rendição do Japão em 15 de agosto de 1945, Yamashita foi levado a julgamento, condenado por crimes de guerra e enforcado, carregando consigo qualquer chance de descoberta se de fato havia algo escondido nas montanhas filipinas.
Sua morte impulsionou a lenda e caçadores de tesouros de diversas partes foram até Luzon com a esperança de localizar a fortuna lendária escondida pelo infame general. Apesar de ninguém ter descoberto qualquer pista, outras pessoas continuaram tentando.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Em 1971, o caçador filipino Rogelio Roxas surgiu afirmando que um ex-soldado japonês que teria conseguido escapar de ser preso nos túneis de Yamashita desenhou, em 1960, um mapa que mostrava a exata localização do túnel “Número 8”. Roxas disse que o local ficava na região montanhosa de Baguio e estava repleto de esqueletos dos soldados e escravos. Além disso, o caçador revelou que havia encontrado um Buda feito de cerca de uma tonelada de ouro maciço, que levou para sua casa com uma caixa de barras de ouro.
Ainda que a declaração parecesse um tanto quanto estranha, a história de Roxas se espalhou rapidamente, causando uma espécie de “epidemia” de caçadores seguindo as dicas do homem em jornadas em que muitos morreram ou se mataram tentando encontrar a fortuna.
Em meio a esse caos, de repente, Roxas desapareceu.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Somente em 1988 o caçador de tesouros reapareceu, à frente da Golden Buddha Corporation – uma empresa de escavações –, e processando o ex-presidente filipino exilado Ferdinand Marcos e sua esposa Imelda Marcos pelo roubo de seu Buda de ouro. Ele também os acusou de tortura, cárcere privado e obstrução dos direitos humanos.
De acordo com Roxas, assim que ele comunicou a imprensa em 1971 sobre sua descoberta, os soldados de Ferdinand foram enviados para invadir sua casa e roubar o Buda. Roxas teria sido levado preso e torturado durante vários anos para entregar a localização do túnel de Yamashita.
Infelizmente, Roxas acabou morrendo pouco antes de o Tribunal Estadual do Havaí decidir, em 1996, a favor dele, ordenando que Imelda pagasse a quantia de US$ 22 bilhões, visto que seu esposo faleceu logo em seguida, em 1989. No entanto, a decisão foi anulada devido à avaliação do tesouro, e não porque houvesse dúvida de que o regime do ex-presidente tivesse roubado Roxas.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
A primeira-dama foi então condenada a pagar US$ 26 milhões, mas até então só desembolsou US$ 1, 4 milhão da quantia. Sendo assim, a filha de Roxas levou o processo para a Suprema Corte de Manhattan sob a alegação de que Imelda, famosa por sua coleção de mais de 1 mil pares de sapatos de grife, tem dinheiro escondido o suficiente para pagar a dívida.
Sabe-se que a estátua de ouro é verdadeira, assim como as barras que Roxas alegou ter roubado, porém ainda é incerto que ele tenha encontrado essa caverna que Yamashita, supostamente, construiu. Ninguém contestou a procedência de nada, tampouco Roxas se deu ao trabalho de provar.
A dúvida que permanece é: como o caçador de tesouros foi de prisioneiro a um homem milionário em tão pouco tempo?