Moças do calutron: as mulheres que carregaram a bomba de Hiroshima

11/08/2023 às 11:002 min de leitura

O filme Oppenheimer, de Christopher Nolan, trouxe lembranças — ufanistas para alguns e terríveis para outros— de alguns aspectos do final da Segunda Guerra Mundial. Entre as histórias não conhecidas daqueles dias, está a das chamadas "garotas do calutron", cerca de 10 mil jovens que, na prática, prepararam o combustível que matou 140 mil pessoas em Hiroshima.

A palavra "calutron' é um acrônimo de “California University cyclotron”, uma referência à Universidade da Califórnia, em Berkeley, onde os dispositivos foram criados. Esses aparelhos eram espectrômetros de massa que separavam os isótopos de urânio, usando um campo magnético para destacar o urânio 235 — material físsil da bomba atômica Little Boy — do urânio 238, mais pesado e comum. 

Nesse cenário pré-apocalíptico, em 1943, milhares de moças recém-formadas no ensino médio deixavam diariamente suas comunidades para trabalhar na cidade de Oak Ridge, no estado americano do Tennessee, na chamada Planta de Separação de Isótopos Eletromagnéticos Y-12, uma instalação do Projeto Manhattan, comandado por J. Robert Oppenheimer. 

Como as moças do calutron trabalhavam?

(Fonte: Ed Westcott/Departamento de Energia dos EUA)(Fonte: Ed Westcott/Departamento de Energia dos EUA)

Para se ter uma ideia da importância desse trabalho no desfecho da guerra, é preciso citar que a Y-12 tinha 1.152 calutrons instalados, nos quais um exército de "calutron girls" conseguiu produzir, entre 1944 e 1945, um total de 64 quilos de urânio 235, o suficiente para abastecer a bomba lançada sobre Hiroshima no dia 6 de agosto de 1945

Outro detalhe importantíssimo dessa história é a confidencialidade. Para manter o sigilo dentro de uma comunidade de trabalho que contava à época com mais de 75 mil trabalhadores e residentes, os administradores do Projeto Manhattan não deram às 10 mil jovens a menor ideia do que elas estavam fazendo. E aquelas curiosas sobre o trabalho simplesmente desapareciam dos seus postos.

A justificativa para a contratação dessas jovens para operar os mostradores dos calutrons é de que elas poderiam fazer o trabalho com mais eficiência do que os cientistas justamente pela ignorância do assunto. Sem saber o que faziam, elas eram mais propensas a notificar seus supervisores sobre qualquer tipo de problema que surgisse. 

Depois da explosão: alegria e horror

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Somente no fatídico dia 6 de agosto, quando a cidade de Hiroshima ardia em chamas, as moças do calutron ficaram sabendo exatamente no que estavam trabalhando nos últimos dois anos. No dia 5 de abril de 2018, uma das calutron girls, deu uma entrevista ao canal AtomicHeritage do YouTube, na qual falou sobre a sensação de conhecer a verdade. 

"Eu estava no trabalho quando foi anunciado. A princípio, ficamos felizes em pensar que a guerra havia acabado. A primeira coisa que pensei foi: 'Meu namorado poderá voltar para casa'", disse ela. Mas, quando soube do número de mortos, ela concluiu: "Não gostei da ideia de ter feito parte disso".

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