Romana Didulo: a 'rainha' do Canadá que manda matar migrantes

26/02/2023 às 12:003 min de leitura

Ela é chamada de “rainha do Canadá”, não porque evoca algum tipo de majestade, mas porque seus seguidores e teóricos da conspiração realmente acreditam que ela seja. Ainda assim, Romana Didulo não possui nenhum título acompanhando seu nome, apenas o legado torpe da realeza de querer a destruição do que considera minoria e escória.

Em um trailer coberto por uma bandeira canadense, a mulher viaja pelo país em uma comitiva, cumprimentando apoiadores em cidades pequenas por onde passa, enquanto os convoca para executar profissionais de saúde e políticos que apoiam, por exemplo, as campanhas de vacinação em massa, como aconteceu no apogeu da pandemia da COVID-19.

Romana Didulo. (Fonte: The Official Kingdom of Canada Channel/Youtube/Reprodução)Romana Didulo. (Fonte: The Official Kingdom of Canada Channel/Youtube/Reprodução)

Didulo possui mais de 60 mil seguidores em suas redes sociais, em que se autodenomina "Rainha do Canadá". Ela é considerada um ícone, líder de um movimento marginal associado ao Q-Anon, uma teoria da conspiração criada pela extrema-direita norte-americana que alega a existência de uma cabala secreta formada por adoradores de Satanás, pedófilos e até canibais.

Didulo reivindicou a soberania sobre o Canadá, ganhando popularidade em meio à erosão da confiança nas instituições democráticas e civis do país. Para as autoridades policiais e de segurança nacional, Romana Didulo representa a ameaça de que teóricos da conspiração conseguem infligir muitos danos no mundo real.

Um problema crescente

(Fonte: Patrick Doyle/Reuters/Reprodução)(Fonte: Patrick Doyle/Reuters/Reprodução)

Em agosto de 2022, Didulo ganhou as manchetes nacionais depois que seus seguidores tentaram prender um departamento inteiro de policiais em Peterborough, uma cidade de Ontário a quase 300 km a sudoeste de Ottawa, despertando um alerta máximo nas autoridades sobre o poder e influência desses grupos ideológicos online que crescem a cada dia.

Sob influência dela, como se fosse sob o mesmo efeito que Wiliam Miller causou em 1844, as pessoas pararam de pagar suas contas e hipotecas, acabando despejadas e desempregadas. E como se essa arquitetação não fosse o suficiente, Didulo foi mais longe, encorajando-as a atirar em migrantes.

A líder alegou que enfrenta uma guerra contra o Estado paralelo, emitindo um aviso a seus seguidores, em 6 de fevereiro de 2022, sobre caravanas de migrantes da América do Sul atravessando as fronteiras do Canadá. Didulo implorou aos seus seguidores para "agirem por conta própria" se encontrassem algumas dessas pessoas insistindo em cruzar a fronteira para o "Reino do Canadá".

(Fonte: @eatsfood2/Twitter/Reprodução)(Fonte: @eatsfood2/Twitter/Reprodução)

Por meio de mensagens em grupos do Telegram, Didulo observou que os migrantes são pagos pelos Cabals do Estado paralelo para criarem o caos e desestabilizar o reino, como aconteceu com a União Europeia. Apesar de alguns poucos terem se inclinado para a violência proposta, ficaram satisfeitos com o aval para tal e por Didulo proteger o país deles.

“Fico feliz em aceitar um emprego na fronteira, atirando em ilegais”, escreveu um de seus seguidores em resposta. “Homens, mulheres ou crianças, eu atiraria em todos”, observou.

O rosto por trás da loucura

(Fonte: Patrick Doyle/Reuters/Reprodução)(Fonte: Patrick Doyle/Reuters/Reprodução)

É, no mínimo, irônico o ódio de Didulo por migrantes, visto que ela imigrou das Filipinas para o Canadá quando tinha apenas 15 anos, após se tornar órfã. Em meados de 2007, ela montou uma empresa de recrutamento e consultoria de engenharia e uma consultoria de saúde – ambas com sucesso limitado.

Demorou até 2021 para que Didulo fundasse seu próprio partido político nacionalista, o Canada1st, com a promessa de acabar com a "escravização" dos canadenses e retirar o país das alianças internacionais.

Engana-se quem imagina que Didulo não fatura nada com sua ideologia. Há mais de um ano em turnê por pequenas cidades do Canadá em um comboio de trailers, flanqueada por seus assessores pessoais, a mulher extraiu milhares de dólares de seus discípulos.

Nem mesmo aqueles que trabalham com ela escaparam de suas falcatruas. Seguidores antigos alegaram abusos nas mãos de sua líder, como o uso de suas contas bancárias, ameaças de morte, privação do sono e alimentação precária.

(Fonte: Doug McLean/Shutterstock)(Fonte: Doug McLean/Shutterstock)

Essa conduta violenta é o cerne do verdadeiro culto que Didulo criou. Diariamente, seus seguidores pedem execuções de figuras políticas, jornalistas ou outros inimigos, comemorando aqueles que Didulo os convenceu de que ela executou, como o presidente Joe Biden.

Essa alucinação é a mesma que sustenta a ideia de que a Rainha Elizabeth II foi executada por crimes contra a humanidade em 2022, e de que tropas aliadas globais e seus governos ajudaram a instalar Didulo como soberana do "Grande Branco Norte", outra maneira para se referirem ao Canadá.

Além disso, ela concorda com teorias da conspiração como o movimento dos cidadãos soberanos, uma crença infundada de que políticos norte-americanos fazem parte de uma cabala de tráfico de crianças, e a alegação de que alienígenas visitaram o planeta há 300 mil anos.

O que mais assusta em meio a tudo isso, porém, é o mínimo crédito que as autoridades dão à capacidade desse tipo de grupo sob a desculpa de que dar atenção seria o mesmo que estender uma lona sobre um circo.

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