Como surgiu o Correio Aéreo Nacional (CAN)?

27/09/2023 às 14:003 min de leitura

Poucas pessoas se lembram que muitos países possuem um correio aéreo nacional, um serviço de transporte de correspondências, encomendas e documentos. Ele é considerado um braço dos serviços postais convencionais, só que feito por meio de aeronaves para não só acelerar a entrega como superar obstáculos geográficos.

O serviço se faz menos necessário em países menores com infraestrutura de transporte terrestre bem desenvolvida. No caso de países geograficamente vastos, como o Brasil, repleto de regiões remotas de difícil acesso por terra ou fluvial, o correio aéreo é fundamental para garantir a conectividade, eficiência e a acessibilidade dos serviços postais em uma nação.

Na década de 1930, o Correio Aéreo Nacional (CAN) brasileiro foi inaugurado por dois jovens e mudou a história do país.

O primeiro voo

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Na década de 1930, voar era um desafio à parte. Uma vez que os pilotos não dispunham de equipamentos modernos de navegação como hoje, eles tinham apenas as referências do solo para voar e enfrentavam as mais imprevisíveis condições meteorológicas. Além disso, a falta de comunicação e as limitações de autonomia de combustível eram problemas tão graves que os pilotos conviviam com o risco de uma colisão.

Apesar disso, os dois jovens tenentes Casimiro Montenegro Filho e Nelson Freire Lavenère-Wanderley, da Aviação Militar, tiveram que decolar à noite do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, naquele 12 de junho de 1931. A bordo de um Curtiss Fledgling K-263, eles se preparavam para uma viagem histórica ao levar a primeira mala postal do então Correio Aéreo Militar (CAM).

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Não eram apenas duas cartas que precisavam chegar a São Paulo o mais rápido o possível, mas também a concretização do sonho de um grupo de pilotos, liderados pelo então major Eduardo Gomes. A viagem era para durar pouco mais de três horas, mas terminou com cinco horas de voo. Afinal, quando chegaram na capital paulista, os pilotos não conseguiram localizar o Campo de Marte, improvisando um pouso no Jockey Club do bairro da Mooca. Eles pularam o muro e pegaram um táxi até o centro da cidade para entregar o malote na estação central dos Correios.

Fora os perrengues, a missão foi um sucesso, marcando o início de uma nova era de explorações para as companhias de transporte, de correspondências e de passageiros. Uma vez que o uso comercial da aviação estava em seus primórdios, com aeronaves usadas apenas como instrumento de combate, ter um aeroplano servindo para interligar distâncias era um avanço significativo.

O primeiro passo para a transformação

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

A primeira vez que a aviação foi usada para transportar correspondências foi em meados de 1911, quando o francês Henri Pequet realizou o primeiro voo de correio aéreo na Índia. Depois, os Estados Unidos foi o primeiro país a estabelecer um serviço regular do correio aéreo, conhecido como Serviço Postal dos Estados Unidos (USPS), lançado em 15 de maio de 1918. Este serviço operou, a princípio, entre Washington e Nova York.

O Brasil demorou até 1927 para estabelecer um serviço aéreo postal, que não era próprio, mas parte de uma rede maior da companhia francesa Aéropostale. Operando na América do Sul desde o ano anterior, ela tinha como parte de sua rota as cidades de Natal, no Rio Grande do Norte, e do Rio de Janeiro.

A empresa foi a precursora desse modelo, sendo a responsável por lançar o famoso escritor e piloto Antoine de Saint-Exupéry, que se tornou diretor de sua filial sul-americana. A companhia encerrou suas atividades na América do Sul no início da década de 1930 devido à Grande Depressão, que a arruinou financeiramente.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Até lá, as Forças Armadas já possuíam um corpo aéreo militar, só precisava tirar do papel o projeto de criar o CAN. Após muita pressão interna de um grupo de jovens que se habilitaram para a missão de se tornarem pilotos postais, o então ministro da Guerra, general Leite de Castro, autorizou a criação do serviço. Ele colocou no comando da nova Unidade Aérea o major Eduardo Gomes.

Nos meses seguintes à viagem inaugural do serviço, o CAN se espalhou pelo país, se consolidando como o instrumento de integração nacional brasileira que esperavam que fosse. O país nunca mais foi o mesmo, principalmente com a expansão das linhas postais para outras regiões do Brasil.

Um serviço essencial

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

A ideia de criar diversas rotas com destino a lugares isolados surgiu depois que os militares se convenceram de que o avião de correspondência que chegava em determinada cidade forçava a respectiva prefeitura a fazer um campo de aviação. Dessa forma, as cidades se modernizariam à sombra da chegada do CAN.

Em novembro de 1931, o CAN iniciou sua rota Rio-Minas Gerais, e no ano seguinte foi a vez do Mato Grosso e Paraná, após a Revolução Constitucionalista. Dois anos mais tarde, o Nordeste estabeleceu o serviço com voos para Fortaleza, percorrendo e apoiando a população ribeirinha do rio São Francisco. Foi nesse período que aviões Waco começaram a ser usados para o serviço.

Finalmente, em 1935, concluindo o projeto de integração nacional, o CAN chegou à Amazônia. No ano seguinte, os pilotos iniciaram a primeira rota internacional, começando por Assunção, no Paraguai. Até 1939, o correio aéreo já possuía 19,7 mil quilômetros em linhas, tendo percorrido 1,8 milhão de quilômetros, transportado 542 passageiros e 65 mil quilos de carga.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Com a criação do Ministério da Aeronáutica, em 20 de fevereiro de 1941, foram unidos o Correio Aéreo Militar (mantido pelo Exército Brasileiro) e o Correio Aéreo Naval (mantido pela Marinha do Brasil), resultando oficialmente no CAN. No final da década de 1940, o serviço já operava 14 linhas e transportava 70 toneladas de correspondência em aviões do tipo C-47 Douglas pelo país.

O CAN hoje é a espinha dorsal em causas humanitárias, como na catástrofe natural que aconteceu no Rio Grande do Sul recentemente. O serviço faz total diferença na mediação desse tipo de emergência para salvar vidas de áreas em perigo e entregar suprimentos essenciais nos abrigos emergenciais.

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