República das Letras: o conceito de rede social surgiu em 1700

01/10/2023 às 13:003 min de leitura

Lançado em meados de 1997, o SixDegrees.com é considerado o precursor da rede social moderna. Ele permitia que os usuários criassem perfis e se conectassem com outras pessoas, um modelo muito comum de plataforma online atualmente. Mas o site acabou não alcançando o sucesso massivo que seu criador Andrew Weinreich esperava e foi descontinuado logo em 2001.

No entanto, ele foi o responsável por popularizar o conceito e abrir caminho para que outras plataformas surgissem. No ano seguinte ao fim do SixDegrees, o Friendster surgiu com a ideia de o usuário criar perfis, adicionar amigos e compartilhar conteúdo mutuamente. A princípio, ele foi bem popular, mas o excesso de problemas técnicos e de escalabilidade o fez perder a adesão dos usuários para outras redes que emergiam.

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Desses períodos primórdios, o MySpace, lançado em 2003, foi o único que chegou e ficou por tempo considerável o suficiente para se consolidar, se tornando uma plataforma imensamente popular, principalmente entre os jovens. Apesar de o Facebook, lançado no ano seguinte, ter o superado em popularidade e se tornado uma das redes sociais mais dominantes do mundo, o MySpace conseguiu se infiltrar bastante na cultura pop dos anos 2000.

Mas engana-se quem imagina que o conceito de rede social surgiu lá com o SixDegrees. Na verdade, a República das Letras foi a primeira rede social do mundo, lançada nos anos de 1700.

A fuga de Voltaire

Voltaire. (Fonte: Getty Images)Voltaire. (Fonte: Getty Images)

Em 1734, o filósofo francês Voltaire estava em fuga. Ele havia publicado o seu controverso e ilícito Cartas Relativas à Nação Inglesa, um livro de estilo epistolar que catalogava a vida política, cultural e religiosa da Grã-Bretanha, elogiando seu poder em defender a liberdade e o comércio.

Naquela época, as relações entre a França e a Grã-Bretanha eram complexas e marcadas por rivalidades e conflitos, visto que ambas competiam por poder e influência em diversas partes do mundo, sobretudo pela Europa e nas colônias ultramarinas.

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Portanto, quando Voltaire lançou seu livro enaltecendo uma nação com a qual a França vivia em guerra, os censores reais queimaram as edições para que toda a Paris visse. Luís XV emitiu um mandado de prisão a Voltaire, que deveria ser aprisionado na Bastilha se fosse pego. Para sobreviver, o filósofo teve que se mudar para a região bucólica da comuna de Cirey, em Champagne, a cerca de 122 quilômetros da capital francesa, sob a proteção oferecida pelas conexões familiares do marquês Florent-Claude du Châtelet.

Ao longo dos 15 anos que Voltaire viveu em Cirey, ele se comunicou com seus amigos em Paris e outros que estavam no exterior por meio de cartas trocadas pela denominada "República das Letras". Foi assim que ele conseguiu promover suas peças, obras históricas e ensaios, e se manteve a par dos últimos desenvolvimentos intelectuais.

A rede mundial

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

A República das Letras era uma comunidade intelectual de longa distância criada em meados do século XVIII na Europa e nas Américas. Ela foi a responsável por promover a comunicação entre os intelectuais, estudiosos e figuras literárias, formando uma espécie de comunidade autoproclamada.

O termo surgiu como “republica literária” em uma carta escrita por Francesco Barbaro a Poggio Bracciolini, em 6 de julho de 1417. Mas foi Pierre Bayle quem traduziu o termo para o francês pela primeira vez em sua revista Nouvelles de la République des Lettres, em 1684. Há quem diga que, na verdade, o termo remonta à República de Platão, porém ainda não é um consenso entre os historiadores modernos.

De qualquer forma, o nome fazia jus ao que os participantes se propunham a fazer. Em uma época estruturada sob governos monárquicos, hierarquia de classe e divisões religiosas, o termo "república" tinha total sentido aos intelectuais que estavam engajados uns aos outros. “Letras” se referiu tanto à aprendizagem como à forma como os desenvolvimentos intelectuais e acadêmicos se espalharam por várias partes do mundo.

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Nesse círculo privado, esses homens compartilharam notícias, experimentaram novas teorias, criticaram ideias, transmitiram fofocas e narraram os assuntos mundanos de suas vidas. Tudo isso por meio de milhares de cartas, o mesmo que fazemos hoje em mensagens de textos e criando discussões em seção de comentários de postagens nas redes sociais.

Em 1721, em seu Cartas Persas, o filósofo Montesquieu definiu o conceito do que era a República das Letras naquele tempo: “Tenho muito pouco contato com as pessoas, e entre as que vejo, não há nenhuma que eu conheça. Mas há um homem em Estocolmo, e outro em Leipzig que eu nunca vi, e sem dúvida nunca verei, com quem mantenho uma correspondência tão regular que nunca deixo de escrever a cada um deles”.

Estima-se que mais de 100 mil cartas foram trocadas durante esse período. A República das Letras perdeu a força com a Revolução Francesa em 1790, quando o Iluminismo mingou à ascensão de movimentos opostos, como o Romantismo. No século XIX, ainda existia uma comunidade reunida em sociedades acadêmicas que mantinham uma rede de correspondência transnacional, mas nada que pudesse se equiparar a de 1700 em tamanho e influência.

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