Jorge Zalszupin: o refugiado polonês que mobiliou o STF

23/01/2023 às 06:302 min de leitura

Jorge Zalszupin é um nome pouco conhecido da maioria dos brasileiros. O arquiteto e designer polonês veio ao Brasil em 1949, e aqui construiu sua carreira como um dos mais importantes nomes da arquitetura modernista.

Seu nome voltou a ganhar destaque depois da tentativa de golpe ocorrida no dia 8 de janeiro. Entre as diversas obras de arte vandalizada pelos terroristas em Brasília, estava uma cadeira utilizada por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ela faz parte do mobiliário criado por Zalszupin e foi registrada em imagens após ser removida junto do Brasão da República.

Considerado o último grande designer modernista do Brasil, a vida de Zalszupin transitou entre arquitetura e design, além de ser marcada pela tragédia do holocausto.

Fugindo dos nazista

Cadeira e Brasão da República retirados do STF por terroristas. (Fonte: Bol/Reprodução)Cadeira e Brasão da República retirados do STF por terroristas. (Fonte: Bol/Reprodução)

Jerzy (nome de nascimento) Zalszupin nasceu em Varsóvia, no dia 1º de junho de 1922. Filho de uma família judia, ele perdeu a mãe em 1940, quando ela foi levada para um campo de concentração nazista. No mesmo ano ele conseguiu fugir da Polônia com o pai. Eles foram de carro para a Romênia, e na capital Bucareste Zalszupin estudou arquitetura durante a Segunda Guerra Mundial.

O jovem arquiteto decidiu deixar o país e se mudar para a França depois de formado. Lá ele iniciou sua carreira fazendo parte da equipe responsável pela reconstrução da cidade de Dunquerque. Foi nessa época também que ele teve contato com o trabalho de Oscar Niemeyer, e esse fato foi fundamental para a sua vida.

Chegada ao Brasil

Edifício Sumitomo. (Fonte: Wikimedia Commons)Edifício Sumitomo. (Fonte: Wikimedia Commons)

Zalszupin chegou ao Brasil durante o carnaval de 1949, e afirmou depois que foi a melhor recepção que poderia ter para um estrangeiro como ele. Seja pelo ritmo do samba, pela simpatia brasileira ou por estar longe do ambiente pós-guerra da Europa, Zalszupin se apaixonou pelo país e se naturalizou brasileiro alguns anos depois.

Por aqui, ele começou a trabalhar com Luciano Korngold, outro arquiteto polonês que também havia fugido da guerra. Korngold já era um nome conhecido e influente em São Paulo quando Zalszupin começou a trabalhar com ele. O jovem arquiteto participou de projetos como o CBI Esplanada — o primeiro arranha-céu do Vale do Anhangabaú — e do Edifício Intercap.

Durante a década de 1960, Zalszupin se especializou em design e, já no escritório próprio, foi convidado pelo próprio Niemeyer para criar os móveis que seriam utilizados no STF e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Suas criações ganharam o mundo e seus projetos iam de utensílios de cozinha à mesas de chá, em projetos que são copiados ou referenciados ainda hoje.

Na década de 1970, após vender sua empresa — a loja L'atelier —, Zalszupin continuou atuando como designer e arquiteto. Foi nessa época que ele trabalhou no projeto do edifício Sumitomo, sua obra mais conhecida em São Paulo. Na década de 1980, Zalszupinse viu atingido pela crise econômica, e viu seu trabalho perder relevância e sua empresa decretar falência. 

Ele se mudou para a França na década de 1990, pensando em se aposentar, mas em 2004 foi "redescoberto" e retornou à atividade. Zalszupin faleceu em 2020, aos 98 anos, depois de ter lançado a autobiografia intitulada De c* pra lua. No livro, ele narra com o bom humor os dramas vividos durante a guerra e seu encanto com o Brasil ao ser "recepcionado pelo carnaval carioca".

Atualmente, sua antiga residência — a Casa Zalszupin — serve como um museu, para que mais pessoas possam conhecer a sua vida e obra. Localizada na cidade de São Paulo, a entrada é gratuita mediante agendamento prévio. Em 2022 também foram realizadas exposições em museus e galerias, para celebrar o centenário do arquiteto.

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