O dia em que uma mera ferramenta quase fez o Arkansas desaparecer do mapa

16/01/2017 às 14:223 min de leitura

Não é nenhum segredo que os EUA mantém um pequeno arsenal nuclear — com quase 2 mil ogivas operacionais — sob sua guarda. E o normal seria imaginar que a manutenção dessas armas todas é realizada com todo o cuidado do mundo, e que os envolvidos, além de seguirem rígidos protocolos de segurança, certamente sabem o que fazer em caso de emergência, não é mesmo? Afinal, esse pessoal não está lidando com bombinhas corriqueiras, certo?

No entanto, de acordo com Javier Salas, do portal El País, parece que a coisa não é bem assim não — e o cuidado com o arsenal nuclear norte-americano não é lá muito eficiente. Salas mencionou como exemplo um episódio que aconteceu no dia 18 de setembro de 1980 e que, por muito pouco, não apagou o Arkansas, estado norte-americano natal do ex-presidente Bill Clinton, do mapa.

Acidente bobo

Segundo Salas, nesse dia, cerca de 20 jovens soldados custodiavam um silo que guardava nada menos do que o míssil balístico intercontinental — ou ICBM — Titan II que se encontrava na cidade de Damascus, no Arkansas. Então, depois de um longo turno de 12 horas, um desses rapazes recebeu a missão de realizar a manutenção do “pequeno”. Aliás, dê uma olhadinha no míssil a seguir:

Esse é o topo do Titan II visto de cima do silo

Como você viu acima, o Titan II não era brincadeira — e media o equivalente a um edifício de oito andares. Pois, enquanto realizava a manutenção na parte superior do ICBM, o soldado deixou escorregar uma ferramenta com cerca de três quilos das mãos. Esse item despencou lá de cima, quicou no chão e bateu contra a parte inferior do míssil, provocado um vazamento de combustível.

Foi então que o caos se instaurou no silo, porque, por mais que procurassem por uma solução para o problema no manual do míssil, não demorou até que os soldados — apavorados — descobrissem que não havia uma. Na verdade, de acordo com um dos presentes, a “cartilha” não trazia qualquer informação sobre o que fazer em uma situação como aquela e, além de terem um plano A, não existia um plano B.

Para piorar, enquanto as horas foram passando e o combustível do Titan II continuava vazando, nenhum dos superiores dos militares se atrevia a tomar uma decisão sobre como lidar com o problema. E, enquanto o tanque interno esvaziava, aumentava o risco de que o míssil desabasse sobre ele mesmo — se isso acontecesse, as consequências seriam... bombásticas.

Booom

As consequências seriam bombásticas porque, segundo Salas, o Titan II tinha um poder destrutivo três vezes superior às bombas nucleares utilizadas durante a Segunda Guerra Mundial combinadas.

Olha o pequenino voando

Coincidentemente, enquanto os soldados se desesperavam com a situação, a cerca de 80 quilômetros de Damascus, estava acontecendo uma convenção democrata em Little Rock, comandada pelos então vice-presidente do país, Walter Mondale, e governador do Arkansas, Bill Clinton.

Os participantes da convenção chegaram a ser informados da crise que se desenrolava no silo, mas os militares preferiram não confirmar se havia ou não uma ogiva nuclear no local. E havia, evidentemente.

No fim, ninguém tomou decisão nenhuma e o silo voou pelos ares — matando um dos soldados. Em um primeiro momento, os militares pensaram que a explosão havia sido provocada pela ogiva nuclear, mas por (muita, muita!) sorte, essa parte do míssil foi “cuspida” para fora do silo e recuperada mais tarde.

Momento tenso

Como você deve saber, a escalada armamentista que se instalou no mundo durante a Guerra Fria levou à fabricação de milhares de bombas atômicas. Em meados dos anos 60, os EUA haviam produzido cerca de 32 mil delas quando, na verdade, bastariam entre 50 e 200 unidades para destruir a União Soviética inteira. A URSS, por sua vez, chegou a contar com 40 mil dessas belezinhas em seu arsenal!

O Presidente Reagan ordenou que os Titan II saíssem de cena em 1982

É claro que com tantas ogivas nucleares e protocolos para lidar com possíveis crises para lá de falhos, o risco de que algum incidente acontecesse era enorme, então, pense no perigo! O que se criou na época foi uma falsa sensação de segurança, e casos como o que foi registrado em Damascus se repetiram milhares de vezes. O mais recente, até onde se sabe, foi um que ocorreu em 2014 e que causou sérios danos em um silo no Colorado.

Segundo Salas, isso fica evidente em um documentário lançado recentemente chamado Command and Control, baseado no livro homônimo — e finalista do Pulitzer de 2014 — de Eric Schlosser. Nele, são os sobreviventes do episódio envolvendo o Titan II quem contam essa curiosa (e ligeiramente assustadora) história que poderia ter acabado muito mal.

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