Artes/cultura
09/05/2014 às 11:01•3 min de leitura
Imagine a cena: você está no hospital e nervoso porque sua esposa vai dar à luz. É chamado na sala de parto, segura a mão da sua esposa e acompanha o nacimento do seu rebento. Emocionado, você ouve o choro da sua criança e espera o parecer do médico que vai dizer se é menino ou menina. Momentos de atordoada alegria pela paternidade, você olha para o médico e diz: “Doutor, me vê a placenta para viagem!”.
Essa história parece a abertura de uma nova versão do filme Planeta dos Macacos, mas não! É uma prática que está se tornando comum atualmente – a placentofagia humana. A designição descreve o ato comum do consumo da placenta por animais mamíferos (e placentários, óbvio!) e que está conquistando adeptos também da família Homo sapiens.
A história que você vai acompanhar mais abaixo é real, e Nicholas Baines, um colaborador para o The Guardian, conta como foi comer a placenta de sua esposa – frita, com alho e páprica, além de tomar um milkshake com o ingrediente. Hummm, delícia!
“Desde que minha esposa e eu discutimos para ter um filho, o pensamento dessa oportunidade única para comer placenta humana foi rolando minha mente. Sendo um curioso onívoro, eu queria saber qual seria o gosto”, conta Nicholas Baines. Quando o fatídico dia chegou, Nick estava um pouco tenso.
“Eu não estava entusiasmado para comê-la ainda quente. Era uma massa mole, cheia de fibras, carne e coágulo, era maior do que eu esperava e um pouco intimidante. Enquanto eu vacilava, uma parteira de mente mais aberta sugeriu tomar "apenas alguns bifes carnudos". E assim, saí do hospital com a minha esposa, nosso filho recém-nascido e um saquinho cheio de placenta".
Nicholas Baines chegou em casa e foi buscar inspiração na internet. Apesar de existir um tabu, a placenta parece ser um ingrediente extremamente versátil. No Twitter, encontrou muitas mães elogiando milkshake de placenta. No Google, encontrou receitas para lasanha e pizza, e até mesmo um livro de receitas dedicado ao assunto.
“Eu finalmente decidi comer parte dela crua batida em um milkshake e outra cozida em um taco, frito com um pouco de alho e páprica”. Nick colocou parte do ingrediente no liquidificador com banana e água de coco, batendo por 10 minutos. “Tinha um sabor distinto de banana com um toque metálico. O cheiro era igual ao da sala de parto”.
“A placenta cozida, por outro lado, foi realmente muito boa. Na tábua de cortar, o bloco vermelho brilhante de placenta era mais atraente do que muitos cortes de miúdos que já preparei e parecia muito apetitoso. A carne era rica, com aspecto de uma peça de alta qualidade; era tenra, parecida com peito assado e diferente da carne de churrasco”.
Nickolas Baines não parece estar arrependido e até justifica sua decisão, difícil no começo, mas que o fez refletir sobre o aspecto do tabu: “Pedir para levar para casa a placenta foi a parte mais difícil da minha incursão na placentofagia”. E continua: “Afinal, muídos humanos não são mais horríveis do que comer carne de animais.
Foi nos anos 60 e 70 que a prática de comer placenta apareceu em comunidades de naturalistas. Nos últimos anos , mais e mais pessoas – principalmente as mães – aderiram a ideia de consumir a própria placenta. Há, inclusive, muitas celebridades que defendem o consumo de placenta, que incluindo January Jones e Kim Kardashian.
Normalmente, o consumo é feito por meio do processamento da placenta e consiste na desidratação e encapsulamento (pílula de placenta). Os defensores acreditam que comer placenta pode ajudar a evitar a depressão pós-parto. A ocitocina, o hormônio que ajuda a facilitar o parto, na produção de leite e está relacionado à empatia, é encontrado dentro da placenta.
O órgão também está repleto de células-tronco, consideradas por alguns necessárias para ajudar a restauração do corpo da mãe. Mas a evidência é anedótica, e a prática de comer placenta uma “modinha” moderna.
Mark Kristal, professor de psicologia na Universidade de Buffalo e um especialista no assunto, diz que placentofagia é praticamente inexistente nas culturas humanas do passado. E, quando se trata de alegações de saúde, muitos profissionais estão divididos.
“Embora seja uma rica fonte de proteínas, ela se destina a alimentar o bebê, e não a mãe”, diz o Dr. Rohan Lewis, da Universidade de Southampton na área de fisiologia. “Porém, se você decidir comer placenta, é preferível comer a sua própria, em vez de outras pessoas”. Pois é, ótimo conselho.
E você, nobre leitor, daria uma chance? E como você prepararia?