Nepal deve se preparar para terremotos com muito mais força, diz estudo

13/08/2015 às 10:004 min de leitura

O Nepal foi atingido por um terremoto de proporções devastadoras em abril deste ano. Foram mais de 9 mil mortos, milhares de feridos e regiões habitadas inteiras colocadas abaixo. Uma catástrofe que afetou e comoveu o mundo inteiro. Passados alguns meses da grande tragédia, o país continua tentando se reerguer, recuperando as famílias desabrigadas e reconstruindo ruas, casas e cidades inteiras. De qualquer maneira, o trabalho não é fácil, mas a descoberta de uma equipe de pesquisadores pode (e deve) deixar a população nepalesa mais atenta e até retardar todo o processo de reconstrução as áreas afetadas.

A constatação, feita pelo geofísico Jean-Philippe Avouac e sua equipe, da Universidade inglesa de Cambridge, revelou que o terremoto de abril pode ter sido apenas uma “amostra” do que pode acontecer no futuro. Os cientistas acreditam que o tremor, de magnitude 7,8 na escala Richter e que atingiu a região de 80 quilômetros a noroeste da capital Katmandu, foi originado na falha tectônica conhecida como Impulso Principal dos Himalaias. Segundo o líder do estudo, essa falha produz enormes terremotos a cada século.

Segundo Avouac, na realidade, o desastre de abril foi relativamente pequeno. “Embora tenha se tratado de uma tragédia, pois teve quase 10 mil mortos, esse tremor não está inserido na família dos maiores terremotos que podem acontecer na região”, declarou ao site Live Science o pesquisador.

Mudanças na concentração de energia ficam evidentes no local onde aconteceu o terremoto de 7,8 graus na escala Richter em abril de 2015

A observação, feita sobre a região do Impulso dos Himalaias, mostrou que a o tremor não liberou toda a tensão que está concentrada nas placas. Dessa forma, a energia preservada no local é suficiente para causar um desastre inimaginavelmente maior do que o ocorrido em abril. Na verdade, a tensão liberada em abril representa apenas uma pequena fração da energia total concentrada na falha tectônica. “Há uma faixa da falha com aproximadamente 120 quilômetros de largura que está totalmente bloqueada de uma extremidade do Himalaia a outra, em uma distância de 2 mil quilômetros”, revelou Avouac.

Os cientistas conseguiram estimar que a propagação do tremor aconteceu em direção ao leste e percorreu uma extensão de 140 km com velocidade aproximada de 10,8 mil km/h. De acordo com Avouac, a liberação aconteceu na parte mais baixa do Impulso Principal dos Himalaias, por baixo do local onde estão constituídas as montanhas que formam a cordilheira do Himalaia.

Para os pesquisadores, a tensão de proporções catastróficas é liberada em falhas ou rachaduras na terra, em lugares propensos a deslizamentos e nos quais há rochas bloqueadas. São em locais desse tipo que aconteceram os maiores terremotos registrados no mundo. Para realizar a investigação de quanta energia foi liberada e quanto ainda restou na falha do Impulso do Himalaia após o terremoto de abril, os pesquisadores usaram sismômetros, no chão, e imagens de radar, enviadas por satélites no espaço, para analisar as consequências e todo o efeito do desastre. Dessa maneira, os cientistas concluíram que a energia não liberada no Impulso dos Himalaias tem força para causar estragos muito maiores que os ocorridos neste ano.

Avouac afirmou que é muito provável que o terremoto de abril tenha se propagado em direção ao leste, e não ao oeste. Se tivesse acontecido o contrário, os danos poderiam ser muito piores, pois, atualmente, há uma enorme quantidade de pessoas vivendo na região frontal do Himalaia. O pesquisador lembrou que essa habitação é relativamente recente e se tornou maior depois da década de 60, quando foi iniciado um desmatamento na região. Hoje quase não há mais florestas. Antes dessa situação, a incidência de malária era grande, então poucas pessoas se instalavam no local.

Outro estudo

Em outra linha de pesquisa, a equipe de Avouac constatou que o tremor ocorrido em abril não produziu a ondas sísmicas de alta-frequência que derrubam prédios mais baixos, os quais, em sua maioria, possuem pessoas morando. O líder do estudo contou que quando ouviu que o terremoto possuía magnitude 7,8 e aconteceu tão perto de Katmandu, ficou transtornado. “Eu estava preparado para mais de 300 mil mortes, quem sabe até 400 mil”, ressaltou.

Como ficou a superfície do monte Everest após o terremoto: o antes, em 23 de abril, e o depois, em 28

Avouac citou o terremoto de 2005, ocorrido na região da Caxemira, outro ponto do Himalaia. Ele lembrou que a região é menos habitada e que o tremor alcançou 7,6 pontos na escala Richter. Mesmo assim o número de mortos foi de 85 mil pessoas, um número quase nove vezes maior que o total ocorrido em abril no Nepal. “Esse tremor (...) não matou tantas pessoas justamente em função da ausência de ondas sísmicas de alta-frequência”, explicou.

Para chegar a essa conclusão, Avouac e sua equipe monitoraram como foi exatamente a ruptura da falha, utilizando redes de GPS na área afetada pelo terremoto. Eles viram que o movimento para cima aconteceu com velocidade, mas a descida era mais suave, devagar. Por isso, não ocorreram ondas sísmicas de alta-frequência.

A torre de Dharahara antes do terremoto de abril

Entretanto, ao mesmo tempo em que não atingiu tanto as construções mais baixas, o terremoto de abril causou grandes estragos nas mais altas devido à grande incidência de ondas sísmicas de baixa-frequência. Conforme explicou o pesquisador, essas ondas ressoaram na parte de fora da bacia da pedra-base de Katmandu e as vibrações originadas foram mandadas para cima, derrubando os prédios altos e deixando os menores em pé.

Entre as construções atingidas está a torre de Dharahara, monumento histórico e a edificação mais alta do Nepal. Ela foi construída por um antigo monarca nepalês para ser uma torre de relógio.

Os destroços da Torre de Dhararahara: Ondas sísmicas de baixa-frequencia derrubaram construções mais elevadas

Um terremoto ocorre pela ação de duas placas tectônicas, que, ao se movimentarem acabam indo de encontro. Enquanto uma vai para cima, a outra vai para baixo, causando os tremores e deformando a superfície terrestre. Sobre isso, as conclusões do estudo realizado pela equipe do sismólogo Jean-Philippe Avouac podem significar um avanço na análise desse tipo de desastre, como o que aconteceu em abril no Nepal. De acordo com ele, isso pode significar uma boa notícia, na medida em que é possível deduzir a existência de alguma propriedade nos grandes terremotos que impeça a ocorrência de muitas ondas sísmicas de alta-frequência nas extremidades das zonas de ruptura.

O futuro

Avouac aproveitou para alertar que as pessoas que moram nessas regiões pensem em se preparar para um desastre em grandiosas proporções. “É importante que Os residentes nessas áreas fiquem cientes do sério risco da ocorrência de grandes terremotos e se preparem, construindo casas mais fortes”, ressaltou.

Ele lembrou que, na parte oeste da falha do Himalaia, não há uma liberação de tensão deste tipo desde o início do século XVI, portanto, a energia está sendo concentrada no local desde a última ocorrência, há mais de 500 anos. “Em algum momento futuro, vai ocorrer um terremoto ali e pode ser assustador”, declarou.

Entretanto, os pesquisadores não conseguem estimar quando haverá o próximo grande terremoto. “Pode levar uma ou mais décadas para acontecer”, completou Avouac.

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