Ciência
20/02/2015 às 08:20•4 min de leitura
Lembra que comentamos aqui nesta matéria do Mega Curioso que Abu Bakr al-Baghdadi, o autoproclamado califa do (hipotético) Estado Islâmico, é extremamente influente e poderoso? Segundo as estimativas, só com a venda de petróleo no mercado negro, a organização terrorista que ele comanda acumula US$ 1 milhão por dia — e esse não é o único meio que o EI usa para levantar verbas para financiar suas barbáries.
O pior é que essa não é a única organização terrorista em atividade no mundo com um bocado de dinheiro em caixa para ser usado em ações criminosas. Mas, além de vender petróleo ilegalmente, você sabe como é que esse pessoal consegue acumular tantos recursos para bancar sua guerra?
Seth Garben do portal Guff escreveu um fascinante — e assustador — artigo sobre essa questão e, segundo explicou, tradicionalmente, as organizações terroristas conseguem dinheiro por meio de doações realizadas por instituições de caridade corruptas e indivíduos endinheirados que defendem as causas dos extremistas, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e através da comercialização de produtos falsificados.
De acordo com Seth, na cultura islâmica existe uma contribuição — equivalente a 2,5% da renda familiar — que é paga por todos os muçulmanos na forma de doações a instituições de caridade. A grande maioria dessas entidades realmente está focada em usar os donativos para o bem, mas, assim como ocorre por todo o mundo, no meio dessas associações todas, também existem algumas que são corruptas.
O problema é que, além de encher os bolsos com o dinheiro desviado pelas entidades do mal, muitas vezes acontece de as instituições do bem acabarem sendo dominadas por células extremistas — e serem obrigadas a servir ao terror. Outra prática comum é a de integrantes de organizações terroristas viajarem ao exterior como peregrinos e, uma vez em seus destinos, contatar entidades para solicitar verbas.
Destinos comuns são a Arábia Saudita, o Qatar e o Kuwait, onde também não faltam indivíduos endinheirados dispostos a fazer generosas doações para financiar os grupos terroristas. Desta forma, o dinheiro que deveria ser usado para a construção de hospitais, escolas e na melhoria da infraestrutura desaparece e ressurge na forma de mísseis e bombas. O mais assustador é que as doações não ocorrem apenas em países muçulmanos.
Segundo Seth, uma doação realizada pelo governo britânico a uma instituição muçulmana, por exemplo, acabou sendo desviada e foi parar nas mãos de uma organização terrorista. Isso significa que até mesmo países que lutam contra o terror podem acabar contribuindo sem querer.
Outra forma comum de arrecadar fundos é através do tráfico de drogas. De acordo com Seth, fontes do governo norte-americano revelaram que no Afeganistão — país responsável pelo cultivo de 90% do ópio de todo mundo em 2013 — o comércio de heroína gera entre US$ 70 e US$ 100 milhões por ano, embora existam fontes que apontam que essa quantia poderia chegar a US$ 400 milhões. Esse dinheiro todo vai parar nos bolsos dos insurgentes.
E as operações não envolvem apenas a comercialização do ópio propriamente dito. Os militantes ainda extorquem os fazendeiros, exigem pagamentos em troca de segurança, fabricam a droga e vendem seu produto. O pior é que atualmente o mercado do ópio está favorável, portanto, os terroristas estão lucrando ainda mais com as transações.
Aqui, assim como no caso das doações, também ocorre a participação indireta de países que lutam contra as organizações terroristas. Isso por que grande parte das drogas vai parar em locais como os EUA — que consomem o equivalente a US$ 37 bilhões em cocaína por ano — e a Inglaterra, onde um único esquema interceptado pelas autoridades evitou a entrada de 4 toneladas da droga no país, equivalentes a US$ 260 milhões.
Segundo Seth, não é nenhum segredo que organizações como o Hezbollah, o Hamas e a Jamaat ul-Fuqra estão envolvidas na produção e comercialização de produtos falsificados como roupas, cigarros e até medicamentos. Sendo assim, podemos dizer que, ironicamente, foi o dinheiro obtido através venda de camisetas e bolsas falsas nos metrôs e ruas de Nova York que financiaram os ataques ao World Trade Center.
As organizações terroristas estão, cada vez mais, funcionando como verdadeiras corporações do crime organizado — ou se unindo a essas corporações criminosas em países aliados —, e essa parceria significa que as autoridades precisam combater o terror vindo fora e também o que está se ramificando dentro de casa.
Considerado como o mais poderoso grupo terrorista da atualidade, o Estado Islâmico atua de uma forma um pouco diferente das demais organizações extremistas que existem por aí. Primeiro que o grupo não costuma arrecadar dinheiro de parceiros localizados no exterior, mas sim através das receitas geradas pela economia local dos territórios que suas tropas ocupam, com como qualquer governo faria.
Ao invadir os territórios, os militantes mantêm a força de trabalho básica e substituem os ocupantes de altos cargos de gerência por integrantes do próprio grupo terrorista. Assim, depois de invadir grandes áreas da Síria e do Iraque, a organização assumiu o controle de aproximadamente uma dúzia de poços e refinarias de petróleo, por exemplo, e passou a exportar os barris.
A organização fez o mesmo com as fornecedoras de energia dos territórios invadidos e, depois de assumir o controle das plantas, os terroristas passaram a vender a eletricidade para o governo que eles pretendem derrubar. Para conseguir o comando das companhias, os terroristas ameaçam com sequestrar e assassinar os executivos que administram essas empresas, e também cobram uma taxa chamada jizya para garantir que ninguém saia ferido.
O EI ainda coleta os impostos das companhias estabelecidas nos territórios ocupados, e usa essa verba para financiar suas ações. Assim, os extremistas estão estabelecendo um novo Estado baseado na opressão e no medo — sem falar no sangue da população dos territórios invadidos. A eficiência e requinte de seu funcionamento são assustadores.
De acordo com Seth, embora o custo de ataques terroristas simples não seja obrigatoriamente elevado, a verba necessária para que uma organização possa operar é extremamente alta. Portanto, é vital que as autoridades encontrem formas de garantir que o fluxo de dinheiro seja bloqueado.
Os EUA estão pressionando países do golfo para sejam adotadas medidas mais duras no sentido de frear as doações e garantir que as leis antiterror sejam aplicadas — ou que, na sua falta, elas sejam criadas. Uma das formas de conseguir isso é por meio de sanções às instituições que financiam o terrorismo, fazendo com que os bancos fechem suas portas aos extremistas e obriguem esse pessoal a lidar com sua verba através de meios menos eficazes e seguros.
Seth propõe que outra medida seria policiar as redes sociais e fóruns, já que muitos militantes usam esses meios descaradamente para solicitar doações. Além disso, com respeito ao dinheiro levantado através do pagamento de resgate de sequestros, as autoridades precisam encontrar formas mais eficientes de prevenir que as abduções ocorram — e devem se recusar a pagar os terroristas.
Por último, em relação às pessoas que vivem nos territórios ocupados — e que são obrigadas a ceder seus negócios, propriedades e pagar em troca de segurança —, a melhor saída talvez seja educar e informar a população, e equipá-la tecnologicamente para que as informações sobre as ações terroristas circulem.
Afinal, quanto mais as pessoas souberem sobre as atividades dos extremistas, sobre como seu dinheiro está sendo empregado e sobre a forma como a população está sendo enganada, mais elas estarão dispostas a lutar contra esses grupos e a corrupção que permite que eles continuem derramando o sangue de inocentes e espalhando o terror.