Estilo de vida
07/08/2019 às 05:00•5 min de leitura
Calígula, como você deve saber, ganhou fama de ser um dos personagens mais cruéis, depravados e insanos de todos os tempos. Aliás, você já deve ter ouvido mais de uma história sinistra envolvendo esse antigo Imperador Romano — como os relatos de que ele supostamente cometia incesto com suas irmãs, alimentava animais selvagens com seus prisioneiros e que ele tentou nomear seu cavalo, Incitatus, como cônsul.
Entretanto, existe muito debate sobre o que realmente é fato sobre a vida de Calígula — e o quão biruta ele era — e o que não passa de mito. Assim, confira a seguir o que se sabe sobre esse polêmico Imperador Romano, quais são algumas das barbaridades atribuídas a ele, e o que os historiadores têm a dizer com relação a tudo isso.
Calígula nasceu no ano 12, em Antium — atual Anzio —, na Itália, e era um dos seis filhos do ilustre general romano Germanicus e de Agrippina Maior, que era ninguém menos que neta do primeiro imperador romano, Augusto.
Essa era uma cáliga
Na verdade, seu nome era Gaius Julius Caesar Augustus Germanicus, mas Calígula ficou conhecido pelo apelido — que significa “Botinhas” — que recebeu dos legionários a serviço de seu pai, que achavam graça de vê-lo quando ainda era pequenino vestido de militar e usando “cáligas”, como eram chamadas as sandálias usadas pelos soldados.
Os problemas começaram quando Augusto, o Imperador, adoeceu e decidiu nomear Tibério, seu enteado, como sucessor. Nós já falamos um pouquinho sobre esse cara — pra lá de perverso — aqui no Mega Curioso, e a realidade é que ele não era uma figura muito querida pelos romanos. Então, sabendo que a população não aceitaria muito bem sua decisão, Augusto convenceu Tibério a adotar Germanicus como filho e nomeá-lo como herdeiro.
Quando Augusto faleceu, Tibério se tornou imperador e, rapidamente, despachou Germanicus em missões diplomáticas pelas províncias romanas. Só que o pai de Calígula acabou morrendo de forma estranha, levantando suspeitas de que ele teria sido assassinado — e Agrippina, furiosa, não pensou duas vezes antes de acusar Tibério de se livrar de seu marido por considerá-lo um perigoso rival.
Pintura retratando a morte de Germanicus
O Imperador ordenou que Agrippina fosse aprisionada em uma ilha remota — onde ela morreu de fome — e mandou prender dois dos irmãos de Calígula, um que cometeu suicídio e outro que também morreu de inanição. “Botinhas”, que ainda era muito pequeno, foi enviado junto com suas irmãs para viver com a bisavó Lívia, esposa de Augusto, e permaneceu afastado da vida política até o ano 31, quando foi adotado por Tibério, o homem que causou todo esse drama familiar.
No fundo, Calígula odiava Tibério, mas, como no início ainda tinha um pouco de juízo, ele tratava o Imperador com respeito. Entretanto, todos os traumas vividos pelo jovem romano — assim como ter que suportar a ideia de ser “filho” de Tibério — acabaram por afrouxar alguns parafusos na cabeça de Calígula. Dizem que ele adorava assistir a torturas e execuções e passava suas noites em orgias malucas.
Muitas coisas horríveis foram atribuídas a Calígula
Pois Tibério morreu no ano de 37, e Calígula, então com 24 anos, foi nomeado Imperador e começou seu governo com o pé direito: mandou libertar cidadãos presos injustamente, eliminou vários impostos e patrocinou inúmeros eventos públicos — como lutas com gladiadores, corridas de bigas e peças teatrais. No entanto, seis meses após assumir o posto, Calígula adoeceu e quase morreu. Foi a partir daí que as coisas começaram a degringolar.
Dizem que Calígula era meio esquisitão. Ele era alto, branquelo e, apesar de estar ficando calvo, tinha o corpo bastante peludo, o que o tornava alvo de muitas brincadeiras. Tanto que ele começou a punir com a morte qualquer um que falasse sobre cabras em sua presença. Além disso, Calígula se tornou incrivelmente paranoico e começou a exilar pessoas próximas a ele ou ordenar a sua morte.
Ele era meio esquisitão
Ele inclusive ordenou a execução de seu primo e filho adotivo — sim, as coisas eram um pouco diferentes na Roma Antiga —, Tibério Gemelo, e começou a declarar para todo mundo que ele era um deus. Calígula começou a aparecer em público vestido como várias divindades da época, como Hércules, Mercúrio, Júpiter, Apolo e até Vênus, a deusa do amor. O Imperador também mandou substituir as cabeças de deuses de vários templos por bustos seus.
Dizem ainda que Calígula mandou construir uma ponte entre seu palácio e o templo de Júpiter — para que ele pudesse visitar a divindade —, e que o Imperador costumava conversar com a Lua. Mas isso não era nada... Segundo alguns relatos, Calígula desenvolveu vários métodos de tortura horripilantes e transformou as sessões em espetáculos públicos. Ademais, ele adorava mutilar seus prisioneiros ou jogá-los para serem devorados por leões famintos.
Calígula seria um sádico cruel e lunático
Tem ainda a história envolvendo Incitatus, o amado cavalo que Calígula teria tentado nomear como cônsul e para quem mandou construir um estábulo de mármore equipado com uma manjedoura de marfim. O animal teria vários serventes ao seu dispor — e era alimentado com grãos misturados com flocos de ouro. Na verdade, existem listas e mais listas de barbaridades atribuídas a Calígula, e nós aqui do Mega Curioso selecionamos três das mais escabrosas que circulam por aí:
Pois o comportamento cada vez mais insano de Calígula teria acabado por despertar a ira do povo e, pior, a do Senado. Então, no ano de 41, quando ele tinha apenas 28 anos de idade, um grupo de guardas o atacou, matando o jovem imperador insano com mais de 30 facadas.
Ninguém parece discutir muito o fato de que Calígula realmente era meio biruta e que ele cometeu incontáveis atrocidades. Entretanto, muitos pesquisadores apontam que a maioria dos relatos mais horripilantes surgiram muito depois da morte do romano, como é o caso da prática de incesto com suas irmãs, ato descrito pela primeira vez por Suetônio, um historiador meio fofoqueiro, 80 anos após Calígula ser assassinado.
O assassinato de Calígula, quando ele tinha apenas 28 anos
Sêneca e Fílon, por outro lado, que foram contemporâneos a Calígula e não economizaram críticas ao Imperador, jamais mencionaram nada de relações incestuosas. Sobre seu comportamento errático, muitos historiadores parecem concordar que esse papo de que Calígula aterrorizava Roma com sua loucura — ordenando execuções públicas a torto e direito, falando com a lua ou nomeando seu cavalo para um cargo público — também é exagero.
O consenso é que, se Calígula tivesse sido tão terrível como dizem, ele teria sido afastado do poder rapidamente por sua conduta. Além disso, pelo menos por um período, ele foi apoiado e muito amado pela população de Roma, e não podemos nos esquecer que ele era um jovem sem qualquer experiência que teve o poder absoluto do maior Império da época colocado em suas mãos. Quem não gostava nada de seus excessos e suas extravagâncias era o Senado!
Existe ainda a teoria de que Calígula possivelmente sofria de vários problemas de saúde, entre eles o hipertireoidismo, a epilepsia e a Doença de Wilson, uma doença hereditária que pode provocar instabilidade mental. Isso sem falar na dramática infância do romano que, certamente, teria deixado qualquer um meio maluco.
*Publicado em 7/2/2017