Ciência
30/07/2014 às 12:43•6 min de leitura
Em muitas rodas de conversa e, principalmente, fóruns da internet, as teorias da conspiração são alguns dos assuntos mais comentados pelas pessoas, que desfiam suas opiniões sobre os mais diversos mistérios e acontecimentos.
Muitas delas são falsas e comprovadas como tal. No entanto, existiram algumas que acabaram por, no fim, serem de verdade e não apenas imaginação ou mesmo mentira que partiu de uma pessoa ou grupo. Confira abaixo algumas delas:
Imagem capturada do USS Maddox em 2 de agosto de 1964, mostra barcos de patrulha norte-vietnamitas
A teoria da conspiração: o incidente do Golfo de Tonkin, o motivo que levou ao envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, nunca realmente ocorreu.
É isso mesmo. O incidente envolveu o destroier (um tipo de navio de defesa e espionagem) norte-americano USS Maddox, que teria sido supostamente atacado por três torpedeiros da marinha norte-vietnamita, respondendo ao fogo com a ajuda de aviões da força tarefa a que ele pertencia.
Prontamente, o Presidente dos Estados Unidos, Lyndon B. Johnson, elaborou a Resolução do Golfo de Tonkin, que se tornou a justificação legal (e o pretexto perfeito) de seu governo para entrar definitivamente na guerra do Vietnã. O problema é que o evento nunca de fato aconteceu.
O governo vietnamita assegurou que não houve ataque. Tanto que, em 2005, documentos secretos da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana foram revelados, divulgando o fato de que a presença dos torpedeiros norte-vietnamitas nos ataques nunca foi realmente confirmada.
Mas, então, o USS Maddox atirou em que? Curiosamente, em 1965, o presidente Johnson comentou: "pelo que eu saiba, a nossa Marinha estava atirando em baleias por lá".
Vale destacar que o próprio historiador da NSA, Robert J. Hanyok, escreveu um relatório afirmando que a agência tinha deliberadamente distorcido os relatórios de inteligência em 1964. Ele também declarou: “Os paralelos entre a inteligência defeituosa no golfo de Tonkin e a inteligência manipulada usada para justificar a Guerra do Iraque tornam ainda mais interessante a reexaminar os acontecimentos de Agosto de 1964".
A teoria da conspiração: entre 1932 e 1972, o Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos realizou um estudo clínico em homens afro-americanos rurais que tinham contraído sífilis. O serviço nunca informou esses homens que tinham uma doença sexualmente transmissível, nem mesmo ofereceram o tratamento, mesmo depois de a penicilina tornar-se disponível como uma cura na década de 1940.
Infelizmente, é verdade. Ao invés de receber tratamento, os sujeitos desses estudos foram informados de que tinham "sangue ruim". Quando a Segunda Guerra Mundial começou, 250 dos homens registrados para o projeto (e apenas esses) foram informados pela primeira vez que eles tinham sífilis. Mesmo assim, o serviço negou-lhes o tratamento.
No início da década de 1970, 128 dos originais 399 homens já tinham morrido em decorrência das complicações relacionadas com a doença, enquanto 40 de suas esposas também tinham a condição e 19 de seus filhos nasceram com sífilis congênita.
Um experimento semelhante, realizado em prisioneiros, soldados e pacientes de um hospital psiquiátrico na Guatemala, infectou os indivíduos e os tratou com antibióticos.
A teoria da conspiração: a CIA (A Agência Central de Inteligência) executou experimentos secretos de controle mental sobre cidadãos norte-americanos da década de 1950 até 1973.
Sim, isso aconteceu, sendo que foi tão verdade que, em 1995, o presidente Clinton realmente emitiu um pedido formal de desculpas em nome do governo dos Estados Unidos.
Essencialmente, a CIA usou drogas, eletrônicos, hipnose, privação sensorial, abuso verbal e sexual, e tortura para conduzir experimentos de engenharia comportamental experimentais. O programa dividiu centenas desses projetos em mais de 80 diferentes instituições, incluindo universidades, hospitais, prisões e empresas farmacêuticas.
A maior parte foi descoberta em 1977, quando a Lei de Liberdade de Informação expôs 20 mil documentos previamente classificados e desencadeou uma série de audiências no Senado. Como o diretor da CIA, Richard Helms, destruiu a maioria dos arquivos mais contundentes do MK Ultra em 1973, grande parte do que realmente ocorreu durante esses experimentos ainda é desconhecida e, obviamente, nem uma única pessoa foi levada à justiça.
A título de curiosidade, há uma crescente evidência de que Theodore Kaczynski, conhecido como Unabomber, foi um indivíduo que participou do projeto MK Ultra enquanto estava na Universidade de Harvard na década de 1950 e 1960.
Além disso, qualquer referência do MK Ultra com a “Ultraviolência” citada no filme Laranja Mecânica, dirigido Stanley Kubrick (da adaptação do livro de Anthony Burgess), além dos esquemas de tortura de Alex, talvez não seja mera coincidência.
Anthony Burgess trabalhou para a inteligência britânica e, de acordo com um biógrafo, ele testemunhou os experimentos do MK Ultra, enchendo o seu livro com algumas pinceladas sobre o projeto.
A teoria da conspiração: a Joint Chiefs of Staff dos militares dos Estados Unidos elaborou e aprovou planos para a criação de atos de terrorismo em solo norte-americano, a fim de influenciar a opinião pública nacional em apoiar uma guerra contra Cuba.
É verdade e os documentos que comprovam a teoria existem. Felizmente, o presidente Kennedy rejeitou o plano maligno, que incluía: americanos inocentes sendo mortos a tiros nas ruas, barcos com refugiados de Cuba sendo afundados em alto mar, uma onda de terrorismo violento que seria lançado em Washington, Miami, e em outros lugares, pessoas sendo acusadas de atentados que não cometeram e aviões sendo sequestrados.
Além disso, a Joint Chiefs of Staff, liderada pelo presidente Lyman Lemnitzer, planejava fabricar provas que implicaria Fidel Castro e refugiados cubanos em estarem por trás dos ataques.
Talvez uma das “metas” mais assustadoras foi a que Lemnitzer planejou um incidente “minuciosamente encenado” em que um avião cubano iria atacar e abater um avião cheio de estudantes universitários norte-americanos.
A teoria da conspiração: durante os anos 1980, a CIA facilitou a venda de cocaína para gangues de rua de Los Angeles e canalizou milhões em lucros do tráfico a um exército de guerrilha da América Latina.
É complicado e complexo, mas é verdade. O livro de Gary Webb Dark Alliance: The CIA, the Contras, and the Crack Cocaine Explosion descreve como os “Contras” — grupos de oposição ao governo da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) na Nicarágua, que surgiram a partir de 1979 —, apoiados pela CIA contrabandearam cocaína para os Estados Unidos e, em seguida, distribuíram crack para gangues de Los Angeles, embolsando os lucros.
A CIA ajudou diretamente os traficantes de drogas a arrecadar dinheiro para os Contras em troca de informações. Segundo o que Gary Weeb escreveu em um artigo de 1996, “essa rede de drogas abriu também espaço para os cartéis da Colômbia e os bairros negros de Los Angeles”.
Vale destacar que, em 10 de dezembro de 2004, Webb se suicidou em circunstâncias suspeitas, pois foram usadas duas balas para atirar na própria cabeça. Tenso!
A teoria da conspiração: no final de 1940, quando a Guerra Fria estava começando a se desenvolver, a CIA lançou um projeto secreto chamado Operação Mockingbird. Seu objetivo era comprar influência e controle entre os principais meios de comunicação.
De fato, eles também planejavam colocar jornalistas e repórteres diretamente na folha de pagamento da CIA, o que alguns afirmam estar em curso até hoje. Os arquitetos deste plano foram Frank Wisner, Allen Dulles, Richard Helms e Philip Graham (editor do The Washington Post), que planejavam se alistar organizações de notícias americanas para se tornar basicamente espiões e propagandistas.
Sua lista de agentes acabou por incluir jornalistas nas grandes redes ABC, NBC, CBS, Time, Newsweek, Associated Press, United Press International (UPI), Reuters, Hearst Newspapers, Scripps-Howard, Copley News Service, entre outras. Na década de 1950, a CIA havia se infiltrado nas empresas de mídia e universidades, com dezenas de milhares de agentes de plantão.
A teoria da conspiração: um programa do FBI foi realizado para desestabilizar grupos de protestos, de esquerda, ativistas e dissidentes políticos dentro dos Estados Unidos.
Verdade. A COINTELPRO foi uma série de projetos clandestinos, ilegais do FBI, que se infiltraram em organizações políticas nacionais para desacreditá-las e difamá-las. Isto incluiu os críticos da guerra do Vietnã, líderes dos direitos civis como o Dr. Martin Luther King e grande variedade de ativistas e jornalistas.
Os atos cometidos contra eles incluíram guerra psicológica, calúnia usando documentos falsos e falsos relatos na mídia, assédio, prisão ilegal e, segundo alguns, a intimidação e, possivelmente, violência e assassinato. Táticas semelhantes e, possivelmente, mais sofisticadas são usadas ainda hoje, incluindo o monitoramento da NSA.
A teoria da conspiração: durante os anos 1970, a Igreja da Cientologia roubou os arquivos confidenciais do governo sobre eles e sobre o seu fundador (L. Ron Hubbard ) para limpar registros desfavoráveis em dezenas de agências governamentais. Essa ação criminosa foi chamada de Operação Branca de Neve.
De fato, aconteceu. Este projeto incluiu uma série de infiltrações e furtos de 136 agências governamentais, embaixadas e consulados estrangeiros, bem como as organizações privadas da Cientologia, que foram realizadas em mais de 30 países.
Foi a maior infiltração no governo dos Estados Unidos na História, envolvendo até cinco mil agentes secretos, que eram membros da igreja, funcionários públicos corruptos ou chantageados e investigadores particulares.
Onze executivos da Igreja altamente colocados, incluindo Mary Sue Hubbard (esposa do fundador), declararam-se culpados ou foram condenados em um tribunal federal por obstrução da justiça, roubo de escritórios, de documentos e de propriedades do governo.
Edward Snowden
A teoria da conspiração: o governo americano espiona toda a sua população.
Esse tipo de informação costumava ser ridicularizado como uma fantasia derivada de imaginação fértil e uma desconfiança juvenil do governo. Porém, mesmo depois de ter sido revelado que a NSA (Agência de Segurança Nacional) tem feito escutas ilegais em grande parte dos norte-americanos, coletando ainda dados de celular por mais de uma década, as pessoas tentam se enganar que isso não acontece.
Sim, eles analisam tudo isso (além de dados transmitidos pela internet), mas é sob a “égide da segurança nacional”. Usando os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 como desculpas, eles afirmam que certas liberdades devem ser sacrificadas em prol da segurança. Certo?
Não só não existe nenhuma evidência de que a NSA tem protegido a população contra o terrorismo, como há cada vez mais evidências de que ela a torna mais vulnerável.
Graças às revelações sobre a NSA e seu projeto Prism (de vigilância global, que foi revelado pelos documentos de Edward Snowden), sabemos que o âmbito da espionagem da NSA vai além do que muitos teóricos da conspiração originalmente acreditavam.
No início de junho de 2014, o The Washington Post relatou que quase 90% dos dados que estão sendo coletados pelos programas de vigilância da NSA são de usuários de Internet sem conexão com atividades terroristas. De acordo com a American Civil Liberties Union, esta é uma clara violação da Constituição. Nessa coisa toda, até o Brasil entrou na dança, tendo milhares de usuários espionados, incluindo a presidente Dilma.