Imagem de Desmatamento na Amazônia: mundo corre risco de novas pandemias no megacurioso

A humanidade já passou por diversos momentos em que a população vivenciou a disseminação de doenças, que tomaram o cenário global. Diversas partes do

A humanidade já passou por diversos momentos em que a população vivenciou a disseminação de doenças, que tomaram o cenário global. Diversas partes do mundo presenciaram epidemias que se transformaram em pandemias, desafiando a sobrevivência dos seres humanos.



Microrganismos como vírus, fungos, parasitas e bactérias estão em diversas partes do planeta — em animais, águas contaminadas, lixos e no ambiente como um todo — e podem em algum momento chegar até determinada população humana.



A pandemia surge exatamente quando esses organismos transitam entre diversos tipos de seres vivos e conseguem se produzir de maneira rápida ao ponto em que a transmissão se torne descontrolada até mesmo entre os seres humanos.



<h2>O que é uma pandemia?</h2>



Pandemia é quando há uma disseminação mundial de uma nova doença. Os termos epidemia e surto deixam de ser usados e dão lugar a pandemia para caracterizar a transmissão sustentada de uma doença, que passa rapidamente pelos continentes.



Conforme a&nbsp;<a href="https://www.who.int/eportuguese/countries/bra/pt/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Organização Mundial de Saúde</a>&nbsp;(OMS), existem três pré-requisitos para a ocorrência de uma pandemia. O primeiro é o aparecimento de um novo vírus, ao qual a população humana tenha pouca ou quase nenhuma imunidade como defesa. O segundo é a possibilidade de o vírus replicar na humanidade e causar uma doença severa. Já o terceiro se refere à transmissão fácil de pessoa para pessoa.



<h2>O contexto histórico das pandemias</h2>



<div class="mt-2"><figure class="aligncenter"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2020/10/05/infografico-atualizado-2-05190531406106.png" alt="Infográfico atualizado 2" /></figure></div>



<h2>Fatores que influenciam o surgimento de novas pandemias e a sua relação com a natureza e o desmatamento da Amazônia</h2>



O monitoramento por satélite realizado pelo&nbsp;<a href="http://www.inpe.br/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais</a>&nbsp;(Inpe) registrou nos últimos 12 meses um aumento de 34% nos alertas de desmatamento na Amazônia.



Durante a pandemia do novo&nbsp;<a href="https://www.tecmundo.com.br/coronavirus/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">coronavírus</a>, o bioma apresentou um aumento de 25% nos alertas de&nbsp;<a href="https://www.tecmundo.com.br/ciencia/156017-desmatamento-extincoes-aumentam-risco-novas-pandemias.htm" target="_blank" rel="noreferrer noopener">desmatamento</a>, divulgados pelo&nbsp;<a href="http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/deter/deter" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real&nbsp;</a>(Deter) do Inpe. Somente neste ano,&nbsp;6.756,73 km² da Amazônia já foram desmatados.



Conforme dados do&nbsp;<a href="https://imazon.org.br/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia</a>&nbsp;(Imazon), os alertas de desmatamento tiveram um aumento de 68% em agosto, com relação ao ano passado.



Há diversos anos cientistas e ONGs avisam sobre os prejuízos que o desmatamento e a exploração da Amazônia podem causar para a população mundial. Um dos principais riscos é o surgimento de doenças e zoonoses, que podem desencadear pandemias como a do novo coronavírus.



O&nbsp;<a href="https://www.greenpeace.org/brasil/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Greenpeace</a>&nbsp;é uma organização ambiental criada há mais de 40 anos para construir um mundo mais verde e pacífico; atua em questões relacionadas à preservação do meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável, trabalhando para proteger o meio ambiente, promover a paz e engajar pessoas a transformarem suas realidades. A ONG atua em 55 países de modo ativista, global e independente e está presente no Brasil desde 1992, sem receber doações de governos, empresas ou partidos políticos, apenas de pessoas físicas.



A gestora ambiental e porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil, Cristiane Mazzetti, comenta os principais problemas que o desmatamento pode trazer para o surgimento de uma nova pandemia.



“Uma mensagem já reforçada por cientistas é que, se quisermos evitar futuras pandemias, precisamos parar a destruição do meio ambiente. Ao desmatar entramos em contato com patógenos (vírus e bactérias que podem nos causar doenças). Por exemplo, desde 1940, 31% das doenças zoonóticas (que passam de animais para humanos) tiveram suas causas na mudança do uso do solo, ou seja, desmatamento. O risco é maior em florestas tropicais que têm maior biodiversidade. É o caso de HIV, ebola e zika”, diz Cristiane.



O doutor, pesquisador e coordenador de pesquisas em Ecologia no&nbsp;<a href="http://portal.inpa.gov.br/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia</a>&nbsp;(INPA), Adalberto Luis Val, explica a possibilidade de migração dos vírus para os seres humanos.



“Estamos sempre preocupados com o que se chama em inglês de ‘jumping virus’, ou seja, é o vírus pulando lá do reservatório da floresta para a sociedade humana. É preciso entender também que existe uma quantidade muito grande desses mesmos vírus pulando para organismos que estão dentro da própria floresta ou então para organismos que têm um potencial econômico, e os próprios peixes são um exemplo disso”, afirma Val. &nbsp;



Os animais podem ser fontes de doenças infecciosas causadas por vírus, bactérias e parasitas e, quando há um contato próximo com um ser humano, podem transportar esses microrganismos para o organismo humano. Val destaca que “a nossa tendência é domesticar alguns desses organismos que vivem na floresta, portanto eles são também muito vulneráveis a esses vírus, que estão soltos na floresta”.



A floresta é um dos principais locais no mundo que guardam centenas de milhares de espécies de organismos de todos os tipos que podem servir como um “habitat” para novos vírus.



“O&nbsp;<a href="https://www.iec.gov.br/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Instituto Evandro Chagas</a>, que fica em Belém (PA), está hoje trabalhando justamente com essa questão dos vírus. Em uma conversa, um professor que trabalha nesse instituto disse que já existem alguns milhares de vírus em organismos na floresta — desde pequenos mamíferos da floresta até plantas têm vírus. E sabemos que alguns desses são capazes de infectar humanos e produzir doenças endêmicas locais”, conta Val.



A floresta tropical amazônica passa pelo noroeste do Brasil e vai até Colômbia, Peru e outros países da América do Sul. A floresta tropical é a maior do mundo em biodiversidade e abriga milhares de rios em toda a sua extensão: no total são 5.500.00 km² de área, sendo o ponto mais alto o Pico da Neblina, com 2.993 metros.



Doutor e pesquisador que atuou por durante quase 38 anos no Inpe, Carlos Nobre confirma que a Amazônia é o local com a maior biodiversidade de microrganismos e que pode apresentar uma nova pandemia a qualquer momento.



“As cidades cresceram muito em cima da floresta, bem nessa fronteira da floresta. Então um vírus, uma bactéria ou um protozoário pode migrar, sim. A probabilidade de zoonoses aumenta muito, e é por isso que se diz que, se continuarmos com o desmatamento da Amazônia nesse ritmo globalmente, é ‘sorte’ que uma grande pandemia mundial não tenha se originado ainda na Amazônia, o lugar com mais espécies de microrganismos do mundo”, alerta Nobre.



Um dos principais fatores que podem influenciar o surgimento de uma pandemia direto da floresta é a possibilidade de um vírus “saltar” para um novo hospedeiro. Esse processo é denominado de zoonose e pode se tornar ainda mais grave no novo hospedeiro.



O pesquisador Adalberto Val acrescenta que, “uma vez que um vírus acaba chegando ao homem, se for um vírus com características de rápida disseminação e que cause problemas, ocorre o que temos vivido com a covid-19”. Val lembra que já houve diversos casos na humanidade de vírus que “pulavam” para a espécie humana.



“Nós já tivemos alguns episódios de vírus pulando para humanos e causando epidemias, mas o potencial para que isso aconteça é muito alto. Alguns autores dizem que não é se vai acontecer, mas uma questão de quando isso vai acontecer.”



O cientista destaca que o principal caminho para evitar esse tipo de acontecimento é trabalhar na preservação do meio ambiente que a floresta compõe. “Precisamos parar de ‘cutucar a floresta com vara curta’, pois isso pode nos colocar em risco em um futuro próximo. Não colocou até agora porque a quantidade de intervenções que fazíamos na floresta era relativamente pequena; o cenário muda à medida que ampliamos isso com novas áreas de mineração e expansão das cidades — não só no Brasil, mas também nos demais países amazônicos. Tudo isso acaba aumentando dramaticamente o risco de algumas dessas pessoas atuarem nessas intervenções como portadoras de uma virose de lá do meio da floresta para as sociedades que vivem nas cidades”, alega Val.



O pesquisador Carlos Nobre também alerta que ataques à floresta aumentam as chances de que haja um vírus com grau elevado de disseminação para a população, como outros já conhecidos pela humanidade.



“É ‘sorte’ que nenhuma pandemia até hoje do grau de letalidade e severidade de covid-19, Sars 1, ebola, HIV e zika tenha se originado na Amazônia, mas isso não é impossível, porque todos os elementos estão lá: perturbação da vida selvagem e humanos que vão na florestas e podem ser os vetores para trazer vírus, bactérias, parasitas, protozoários ou patógenos para cá.”



<h2>Distribuição de área de desmatamento ao longo do tempo</h2>



<div class="mt-2"><figure class="aligncenter"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2020/10/02/02185051358347.jpg" alt="Gráfico 01" /><figcaption>Fonte: TerraBrasilis/Inpe</figcaption></figure></div>



A gestora ambiental Cristiane Mazzetti explica que “trabalhamos há muitos anos para conter e zerar o desmatamento na Amazônia, pois ele contribui negativamente para a crise do clima e a perda da biodiversidade. Quando ocorre o desmatamento, o carbono presente na floresta é liberado e também acabamos com o habitat das espécies da biodiversidade”.



Os dados do Inpe de 1º de agosto coletados pelo satélite mostram 6,8 mil regiões dentro da Amazônia que foram tomadas por incêndios em julho, tendo um aumento de 28% com relação ao mesmo período em 2019. Já o início de agosto registrou um crescimento de 17% com relação ao mesmo mês no ano passado e demonstra que as temporadas de incêndio começaram antecipadamente em 2020.



Mestre e perito criminal federal na área de meio ambiente, Gustavo Geiser explica como funciona o trabalho de atuação da polícia diante dos alertas de desmatamento na amazônia.



“A polícia judiciária trabalha provocada; isso significa que existe uma denúncia, um alerta de desmatamento, enfim, algo que provoca o Estado a agir. Havendo essa denúncia, surge uma hipótese para ser verificada. Nós buscamos a autoria, para verificar quem cometeu aquele crime e a materialidade, exatamente qual é aquele crime. O meu papel é a descrição dessa materialidade”, afirma Geiser.



O perito ainda destaca as dificuldades diante do processo. “Infelizmente, não temos pernas para abrir inquéritos para cada um dos desmatamentos, então temos a esfera administrativa, Ibama, ICMBio, entre outras, que atuam primeiro e, quando chega na esfera criminal, nós instruímos o processo.”



O cientista Carlos Nobre previu em 1997 que, se o processo de desflorestamento for mantido, parte da Amazônia irá se tornar uma savana em período que pode variar de 50 a 100 anos. Esse processo pode influenciar diretamente o processo da disseminação de novas zoonoses e doenças infecciosas de alto risco para a população humana.



“Essa transformação é como se você libertasse centenas de milhares de espécies de microrganismos que estão naquele equilíbrio. De repente, não existe mais a floresta, e eles espalham — em inglês, conhecido como ‘spillover’, que é o espalhamento. A grande preocupação quanto a zoonoses é justamente o espalhamento”, confirma Nobre.



“Os microrganismos estão em um ambiente com clima típico de dentro da floresta, com pouca variação de temperatura, e de repente se encontram em um clima de savana, muito seco durante uma parte do ano, com uma temperatura bem mais alta. Eles vão morrer, buscar adaptação e ir para outros animais”, descreve Nobre.



Os riscos da migração de zoonoses para a população diante de uma savanização da floresta é grande, devido à perturbação do ambiente onde milhares espécies de vírus vivem atualmente. “Há diferentes espécies de formigas vivendo em cada área da Amazônia; o Reino Unido inteiro não tem 300 espécies de formigas, nem a Escandinávia. Então, essa comparação é só para mostrar que se trata de um local com várias espécies, microrganismos, plantas, animais — e tudo está em equilíbrio, interagindo e evoluindo”, acrescenta Nobre.



“A perturbação das florestas tropicais coloca um risco de virar um fenômeno e, a cada semana, ter uma nova zoonose. Nós precisamos combater as mudanças climáticas, a crise climática, a perda de biodiversidade e manter o clima das florestas para evitar esse enorme risco de pandemias”.



<h2>Estados com maior área de desmatamento</h2>



<div class="mt-2"><figure class="aligncenter"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2020/10/02/grafico-02-02185127655351.jpg" alt="Gráfico 02" /><figcaption>Fonte: TerraBrasilis/Inpe</figcaption></figure></div>



Conforme os&nbsp;<a rel="noreferrer noopener" href="http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/" target="_blank">dados de alertas de desmatamento do Inpe</a>, diversos estados tiveram picos. Cristiane Mazzetti ressalta que “enquanto muitos estavam em home office, esse não foi o caso daqueles que destroem a Amazônia, e o desmatamento tem aumentado significativamente”.



O cientista Carlos Nobre também destaca a importância de investir na preservação na floresta para evitar prejuízos maiores como o da covid-19. “Um estudo recente mostrou que o custo de preservar as florestas tropicais é uma ‘fraçãozinha’ do prejuízo que a covid-19 está gerando para a economia mundial.”



<h2>Municípios com maior área de desmatamento</h2>



<div class="mt-2"><figure class="aligncenter"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2020/10/02/grafico-03-02185206140353.jpg" alt="Gráfico 03" /><figcaption>Fonte: TerraBrasilis/Inpe</figcaption></figure></div>



Os 5 municípios com maiores alertas de desmatamento são: Altamira (633,28 km²), São Félix do Xingu (468,87 km²), Porto Velho (414,07 km²), Lábrea (379,47 km²) e Novo Progresso (286,91 km²). Segundo Cristiane Mazzetti, isso vem acontecendo principalmente “porque temos, infelizmente, um governo que atua contra o meio ambiente. Desde que assumiu, o governo atual tem enfraquecido os órgãos que exercem a proteção ambiental e enfraquecido as operações para o controle do desmatamento. Com isso, desmatadores, garimpeiros, grileiros (aqueles que roubam terras públicas) e grandes proprietários de terra aproveitam a situação e avançam sobre a floresta. A verdade é uma só: o desmatamento está fora de controle na Amazônia”.



O perito Gustavo Geiser apresenta os principais problemas e impasses da atuação da polícia nos alertas de desmatamento, que ocorrem na floresta durante a pandemia do novo coronavírus.



“O coronavírus acaba dificultando a ação do Estado. Várias pessoas na delegacia tiveram coronavírus — eu mesmo fiquei afastado 3 semanas de cama. Então, a equipe disponível diminuiu; o planejamento era de reunir 40 pessoas, mas levamos em consideração o risco agora. E ainda tem a questão das terras indígenas: devemos ter contato com eles nesse momento? São decisões delicadas, porque corremos o risco de levar o coronavírus para a aldeia. Porém, se eu não tirar os garimpeiros de lá, eles é que vão levar o coronavírus até os povos indígenas”, relata Geiser.



O pesquisador Adalberto Val separa em três grupos esse processo de exploração ligado à possibilidade de surgirem novas pandemias como a da covid-19. “O primeiro é o grande grupo chamado ‘uso da terra’, que envolve o desmatamento raso para a criação de bois, plantação de cana, soja etc. O mundo já acordou para essa realidade e tem plena consciência de que precisamos parar com isso; também há as questões de mineração, abertura de estradas e coisas desse tipo.”



O segundo grupo traz o contexto das mudanças climáticas e a emissão descontrolada de dióxido de carbono. “Nós podemos não ser os maiores emissores de dióxido de carbono, mas dividimos com o mundo os problemas que esse aumento das emissões de dióxido carbono causa em todo o planeta”, acrescenta Val.



“O terceiro ponto é a informação, que é central para todos esses processos. Primeiramente, a vasta informação sobre a Amazônia não é de domínio dos países amazônicos. Para a região da Amazônia, que representa cerca de 60% do território brasileiro, o Brasil hoje recebe 2 e não mais que 2,5 % dos investimentos para a área de ciência e tecnologia. Ou seja, se quisermos colocar a Amazônia na nossa agenda de ciência e tecnologia, precisamos sair desses investimentos históricos e galgar para um investimento massivo na região e, de tal forma, fixar pessoas qualificadas lá para produzir as informações que queremos.”



O cientista amplia o contexto da Amazônia e da possibilidade do surgimento de doenças que podem afetar a humanidade para reiterar a importância da ciência como meio de conhecer e prevenir a sociedade de acontecimentos como a pandemia da covid-19. “Se não conhecermos a nossa casa — e a Amazônia é parte da nossa casa —, não teremos soberania sobre essa parte. Essa questão não pode ser dissociada das questões sociais e culturais. Lembrando sempre que a ciência é uma atividade social com fins sociais. Fazemos ciência para a sociedade em que estamos inseridos”, conclui Val.



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Desmatamento na Amazônia: mundo corre risco de novas pandemias

Imagem de Saúde e Economia: impactos da quarentena no Brasil, segundo especialistas no megacurioso

Economistas, médicos e cientistas analisam o cenário de lockdown devido ao coronavírus no Brasil

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Saúde e Economia: impactos da quarentena no Brasil, segundo especialistas

Imagem de Quantos podem morrer pelo coronavírus no Brasil? Cientistas respondem! no megacurioso

Pesquisadores realizam um modelo matemático capaz de prever casos e mortes pela COVID-19 nos próximos meses no Brasil

Dois pesquisadores montaram um <a href="https://github.com/wlyra/covid19/blob/master/covid19.ipynb">modelo matem&aacute;tico</a> em Python, que prev&ecirc; desastres para o coronav&iacute;rus no Brasil caso n&atilde;o sejam tomadas medidas para conter a epidemia no pa&iacute;s. Os autores desse feito s&atilde;o Jos&eacute; Dias do Nascimento J&uacute;nior &mdash; professor e doutor em Astrof&iacute;sica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e astr&ocirc;nomo associado ao&nbsp;Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics&nbsp;&mdash; e Wladimir Lyra, doutor da New Mexico State University.
Pelo mundo, pesquisadores de todas as &aacute;reas demonstram esfor&ccedil;os para controlar e prever casos de coronav&iacute;rus com o objetivo de auxiliar as pessoas nas decis&otilde;es diante da pandemia que se alastra pela humanidade.&nbsp;
<h2 dir="ltr">A ideia do modelo de predi&ccedil;&atilde;o da COVID-19</h2>
O estudo realizado pelos pesquisadores surgiu devido &agrave; pandemia do novo <a href="https://www.tecmundo.com.br/coronavirus">coronav&iacute;rus</a> (COVID-19), que est&aacute; tomando o mundo e j&aacute; chegou a mais de 4 mil v&iacute;timas fatais no planeta.
Jos&eacute; Dias do Nascimento J&uacute;nior explica que ap&oacute;s o in&iacute;cio do surto come&ccedil;ou a pesquisar o assunto e as maneiras de contribuir e colaborar para diminuir a pandemia. &ldquo;Assim que come&ccedil;aram aparecer as primeiras rea&ccedil;&otilde;es globais, comecei a me perguntar sobre as hip&oacute;teses dos modelos utilizados no estudo da propaga&ccedil;&atilde;o do v&iacute;rus. Quais equa&ccedil;&otilde;es seriam v&aacute;lidas e sob quais aspectos. O novo surto demonstrava que iria fazer hist&oacute;ria, e eu j&aacute; sabia de outras pesquisas, das limita&ccedil;&otilde;es de algumas condi&ccedil;&otilde;es matem&aacute;ticas utilizadas nos modelos. Foi a&iacute; que encontrei Wladimir Lyra em conversas da rede social&rdquo;, conta Nascimento.
&nbsp;Lyra afirma que a ideia de ambos se complementam e, partir disso, as hip&oacute;teses evolu&iacute;ram em um modelo para "matematizar" os casos de coronav&iacute;rus j&aacute; existentes e novos. &ldquo;A ideia e o motivo da pesquisa se devem &agrave; presente pandemia do coronav&iacute;rus, para compreender a din&acirc;mica da propaga&ccedil;&atilde;o da infec&ccedil;&atilde;o. Pela leitura de artigos cient&iacute;ficos na &aacute;rea de Epidemiologia Matem&aacute;tica, deparei-me com o modelo SIR, que foi o primeiro a buscar 'matematizar' uma epidemia&rdquo;, ele destaca.
O doutor da New Mexico State University explica que percebeu semelhan&ccedil;as entre as equa&ccedil;&otilde;es de modelos matem&aacute;ticos de epidemias e as que ele estuda diariamente. Por isso, havia meios de resolv&ecirc;-las e assim agregar conhecimento ao campo de estudo do corona. &ldquo;N&atilde;o &eacute; nada que j&aacute; n&atilde;o tenha sido feito no campo de Epidemiologia, foi um projeto para eu aprender sobre o assunto&rdquo;, ele afirmou.
A COVID-19 &eacute; provocada por uma fam&iacute;lia de v&iacute;rus que gera infec&ccedil;&otilde;es respirat&oacute;rias e foi descoberta em 31 de dezembro de 2019 na China. No Brasil, de acordo com as secretarias estaduais de sa&uacute;de, j&aacute; s&atilde;o 413 casos confirmados, mais de 30% em rela&ccedil;&atilde;o ao &uacute;ltimo balan&ccedil;o divulgado pelo Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de em 17 de mar&ccedil;o. Nessa data, foram contabilizadas 291 pessoas infectadas pelo v&iacute;rus, sendo registrada uma morte pela COVID-19 no estado de S&atilde;o Paulo.
<h2 dir="ltr">Como funciona o modelo</h2>
Diante do caos da pandemia, Lyra explica que o estudo dele e de Nascimento "matematiza" a din&acirc;mica da propaga&ccedil;&atilde;o de uma infec&ccedil;&atilde;o e pode auxiliar no combate dela.&nbsp;
O trabalho considera que a popula&ccedil;&atilde;o do pa&iacute;s seja dividida em quatro categorias: suscet&iacute;veis, infectados, curados e mortos. Essas categorias interagem segundo regras preestabelecidas:&nbsp;
<ul>
<li>Quando infectados e suscet&iacute;veis interagem, uma parcela &eacute; removida da&nbsp;categoria suscet&iacute;veis e colocada na categoria infectados.</li>
<li>Parte dos infectados se curam em um dado intervalo de tempo. Estes s&atilde;o&nbsp;removidos da categoria infectados e colocados na categoria curados.</li>
<li>Outra parte dos infectados morrem devido &agrave; doen&ccedil;a. Estes s&atilde;o removidos da categoria infectados e colocados na categoria mortos.</li>
<li>Os curados desenvolvem imunidade e, portanto, n&atilde;o s&atilde;o colocados de volta na categoria suscet&iacute;vel.&nbsp;</li>
</ul>
A &uacute;ltima regra significa que curados e mortos tamb&eacute;m podem ser acrescentados juntos na mesma categoria, de &ldquo;removidos&rdquo; da pandemia. Isso resultou no nome do modelo:&nbsp;SIR (Suscet&iacute;veis-Infectados-Removidos). Essas regras s&atilde;o "matematizadas" e as equa&ccedil;&otilde;es, resolvidas para revelar a evolu&ccedil;&atilde;o da epidemia. Por exemplo, na regra A, a quantidade removida &eacute; proporcional ao n&uacute;mero de pessoas infectadas e ao de suscet&iacute;veis.
A base de dados utilizada na pesquisa dos cientistas foi mantida e atualizada pelo Centro de Ci&ecirc;ncias de Sistemas e Engenharia (CSSE, em ingl&ecirc;s) da Universidade de Johns Hopkins. Os dados s&atilde;o divididos em casos de infec&ccedil;&atilde;o, remiss&atilde;o e fatalidades. A base de dados &eacute; atualizada frequentemente e cont&eacute;m detalhes como datas e distribui&ccedil;&atilde;o geogr&aacute;fica.&nbsp;
A partir desses par&acirc;metros foram calculadas as taxas que entraram no modelo. Os componentes do modelo aplicados &agrave; epidemia do coronav&iacute;rus resultaram em um cont&aacute;gio muito r&aacute;pido. Os dados da It&aacute;lia mostram que 1 pessoa infectada passa o v&iacute;rus a 3 ou 4 pessoas, em m&eacute;dia, antes de se curar ou morrer pela infec&ccedil;&atilde;o; com isso, o n&uacute;mero de casos dobra a cada 4 dias.
Lyra explica que h&aacute; apenas duas maneiras de finalizar essa epidemia. &ldquo;A primeira &eacute; quando muitas pessoas foram infectadas e desenvolveram imunidade ao se curar. Quando isso acontece, n&atilde;o existem mais pessoas suscet&iacute;veis e, portanto, segundo a regra (A) do modelo, n&atilde;o h&aacute; novas infec&ccedil;&otilde;es poss&iacute;veis. Obviamente esse caso &eacute; terr&iacute;vel, foi praticamente toda a popula&ccedil;&atilde;o infectada em algum momento durante a epidemia, e o n&uacute;mero de mortos pode ser assustador&rdquo;, ele alerta.
O professor resume que &ldquo;a segunda maneira de terminar a epidemia &eacute; quando a taxa de infec&ccedil;&atilde;o &eacute; menor do que a taxa de remiss&atilde;o e, ent&atilde;o, a epidemia &eacute; contida. A quarentena (ou vacina) funciona por diminuir a taxa de infec&ccedil;&atilde;o. O tratamento funciona para aumentar a taxa de remiss&atilde;o. Sem tratamento ou vacina, temos apenas a quarentena como medida eficaz&rdquo;.
A base de dados do CSSE consultada pelos cientistas durante a pesquisa apresenta informa&ccedil;&otilde;es de todos os pa&iacute;ses atingidos pela epidemia. Os principais utilizados no modelo foram: China, Coreia do Sul, It&aacute;lia, Su&eacute;cia, Estados Unidos e Brasil.&nbsp;&nbsp;
<h2 dir="ltr">O modelo alerta para at&eacute; 2 milh&otilde;es de mortes no Brasil no pior cen&aacute;rio previsto</h2>
O modelo dos pesquisadores quando aplicado ao estado de epidemia no Brasil mostra que cada pessoa infectada est&aacute;, em m&eacute;dia, infectando 6 pessoas. A partir dessa taxa, o n&uacute;mero de casos dobra entre 2 e 3 dias. Lyra anuncia que &ldquo;se continuar dessa maneira, sem fazermos nada, a epidemia ter&aacute; seu pico daqui a 50 dias, no come&ccedil;o de maio, com 53% da popula&ccedil;&atilde;o infectada ao mesmo tempo. Isso significa mais de 100 milh&otilde;es de casos. Os hospitais n&atilde;o t&ecirc;m capacidade de lidar com esse n&uacute;mero. E, ao final da epidemia, ter&iacute;amos 2 milh&otilde;es de mortos&rdquo;.
O modelo apresentado pelos pesquisadores gerou dois gr&aacute;ficos que resultam na quantidade de mortos no Brasil nos pr&oacute;ximos meses e evidenciam um quadro assustador para a popula&ccedil;&atilde;o brasileira. Esse pior cen&aacute;rio representa a condi&ccedil;&atilde;o na qual as&nbsp;restri&ccedil;&otilde;es&nbsp;sociais n&atilde;o s&atilde;o seguidas.
<h3 dir="ltr">Gr&aacute;fico da predi&ccedil;&atilde;o total de n&uacute;meros de mortos no Brasil = 2.009.177</h3>
<img src="https://mega.ibxk.com.br/2020/03/19/grafico-coronavirus-19110727752036.png" alt="Gr&aacute;fico Coronav&iacute;rus" />
(Fonte: Modelo matem&aacute;tico de Wladimir Lyra e Jos&eacute; Dias do Nascimento)
O modelo foi rodado em 16 de mar&ccedil;o de 2020, e os cientistas identificaram que a primeira morte pelo coronav&iacute;rus ocorreria dentro de 5 dias. &ldquo;Ontem (16 de mar&ccedil;o), uma previs&atilde;o do modelo foi que a primeira morte no Brasil ocorreria em algum momento nos pr&oacute;ximos 5 dias. Quando acordei de manh&atilde; no dia 17 e fui ler as not&iacute;cias, t&iacute;nhamos o primeiro caso fatal&rdquo;, confirmou Lyra.
Os cientistas alertam que se n&atilde;o foram tomadas medidas de preven&ccedil;&atilde;o, e se a popula&ccedil;&atilde;o n&atilde;o praticar o distanciamento social, os resultados do modelo v&atilde;o se concretizar. &ldquo;Sem tratamento ou vacina, a &uacute;nica forma dessa epidemia parar naturalmente &eacute; ela correr seu curso, infectando centenas de milh&otilde;es e matando milh&otilde;es de pessoas. O modelo prev&ecirc; 2 milh&otilde;es de mortos no Brasil se n&atilde;o fizermos nada. Para evitar isso, a popula&ccedil;&atilde;o tem que parar de sair de casa, praticar distanciamento social. Apenas isso vai evitar o cont&aacute;gio&rdquo;, argumenta Lyra.
Lyra ainda destaca que o distanciamento&nbsp;social n&atilde;o evita o estado final da epidemia, mas atrasa de forma que o sistema de sa&uacute;de n&atilde;o sobrecarregue at&eacute; o desenvolvimento de um tratamento ou vacina. "Uma vez retornada a vida cotidiana a epidemia vai correr de novo, mas o atraso que o distanciamento social proporciona &eacute; fundamental pra dar tempo para o sistema de sa&uacute;de n&atilde;o se sobrecarregar com muitos casos ao mesmo tempo e tamb&eacute;m, esperamos, para dar tempo de desenvolver tratamento ou vacina", explica Lyra.
Os pesquisadores destacam a import&acirc;ncia de todas as &aacute;reas olharem a pandemia e realizarem esfor&ccedil;os para criar maneiras e caminhos que evitem ou ajudem o mundo a conter os casos.
&ldquo;Devo dizer que eu n&atilde;o sou epidemi&oacute;logo, sou astr&ocirc;nomo e astrof&iacute;sico especializado em matem&aacute;tica aplicada e modelos computacionais. Comecei esse projeto ao ler sobre modelos matem&aacute;ticos de evolu&ccedil;&atilde;o de epidemias e ver que as equa&ccedil;&otilde;es eram bem parecidas com outras com as quais trabalho todo dia. Tinha, portanto, as ferramentas para resolv&ecirc;-las em um modelo simplificado&rdquo;, alega Lyra.
O professor Jos&eacute; Dias do Nascimento J&uacute;nior demonstra que, no momento atual da popula&ccedil;&atilde;o, a ci&ecirc;ncia &eacute; globalizada, e qualquer par&acirc;metro cient&iacute;fico n&atilde;o pode ser tratado como algo simples e exclu&iacute;do na hora de tomar decis&otilde;es para conter a epidemia.
&ldquo;Estamos passando por um per&iacute;odo c&iacute;clico de problemas. Isso vai do aquecimento global a grandes epidemias. Estamos hoje fazendo uma ci&ecirc;ncia globalizada, na qual par&acirc;metros n&atilde;o podem ser tratados como sistemas simples. O pr&oacute;prio planeta em que vivemos e sua popula&ccedil;&atilde;o humana s&atilde;o completamentes conectados a um grande sistema complexo&rdquo;, afirma Nascimento.
As epidemias foram encontradas em diversos momentos da humanidade, mas segundo ele ainda n&atilde;o h&aacute; um modelo f&iacute;sico completo e totalmente eficiente para auxiliar nas decis&otilde;es de maneira r&aacute;pida e eficaz. &ldquo;Durante nossa hist&oacute;ria, encontramos repetidamente grandes epidemias, como a Peste (Peste Negra) no s&eacute;culo 14, a Gripe Espanhola em 1918 e, mais recentemente, a Gripe Su&iacute;na em 2009. Apesar de todas essas epidemias afetarem severamente a popula&ccedil;&atilde;o global, ainda n&atilde;o temos um modelo f&iacute;sico eficiente que nos ajude a tomar decis&otilde;es certas em pequeno espa&ccedil;o de tempo&rdquo;, confirma Nascimento.&nbsp;
Conforme esse pesquisador, os estudos anal&iacute;ticos de dados podem auxiliar em aspectos diante de uma doen&ccedil;a que se alastra rapidamente pelo mundo. As previs&otilde;es baseadas em equa&ccedil;&otilde;es podem gerar decis&otilde;es que ir&atilde;o melhorar as maneiras de lidar com o problema enfrentado.
&ldquo;As abordagens anal&iacute;ticas para estudar e modelar a natureza sist&ecirc;mica da dissemina&ccedil;&atilde;o de uma doen&ccedil;a infecciosa s&atilde;o um belo exemplo de como a ci&ecirc;ncia opera (modelo SIR). E, partir das previs&otilde;es feitas com um punhado de equa&ccedil;&otilde;es simples, percebe-se o poder da ci&ecirc;ncia em revelar comportamentos futuros&rdquo;, enfatiza Nascimento.
Ele ainda pondera a import&acirc;ncia de pol&iacute;ticas que incentivem a ci&ecirc;ncia a realizar o trabalho em momentos como o da pandemia do novo coronav&iacute;rus. &ldquo;Sem d&uacute;vida acredito que trabalhos como esse devem ser parte dos esfor&ccedil;os colocados nas pol&iacute;ticas de sa&uacute;de p&uacute;blica. Apesar de muitas quest&otilde;es terem sido respondidas, muitas outras permanecem em aberto, por&eacute;m a ci&ecirc;ncia &eacute; sempre a b&uacute;ssola necess&aacute;ria para a prote&ccedil;&atilde;o nesses casos&rdquo;, anuncia Nascimento.
Os resultados que os cientistas encontraram comp&otilde;em um artigo&nbsp;cient&iacute;fico, que ser&aacute; submetido para uma revista cient&iacute;fica na &aacute;rea da F&iacute;sica.
<h2 dir="ltr">Como prevenir a COVID-19?&nbsp;</h2>
O TecMundo criou um infogr&aacute;fico com as 4 principais maneiras de se prevenir contra o coronav&iacute;rus de acordo com o Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de do Brasil.
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