Jornalista vira atendente e dá lição ao falar sobre preconceito

09/06/2016 às 11:163 min de leitura

Há meses as manchetes de todos os jornais não trazem boas notícias: o desemprego cresce e desespera milhares de famílias em todo o país. Para os jovens, a situação está ainda pior, com taxas passando dos 20% – o que não acontecia desde 2007.

Neste patamar da crise, nem mesmo quem possui currículo elaborado e bons diplomas está livre do fantasma do desemprego. Foi exatamente isso o que aconteceu com Beatriz Franco, de 28 anos. Atuando como jornalista e fluente em inglês e espanhol, ela se viu em uma encruzilhada ao perder o emprego e se deparar com um mercado sem oportunidades.

Nessa situação, muitas pessoas optam por ficar em casa esperando uma nova colocação em uma área de interesse. Porém, Beatriz resolveu agir diferente: ela aceitou um trabalho como atendente em uma doceria.

Não é difícil imaginar que uma pessoa que estudou e se dedicou para uma profissão específica tenha medo e até mesmo vergonha de sair de sua área para tentar outra coisa. Por isso, Beatriz resolveu compartilhar um texto em seu Facebook, dividindo os receios e pensamentos que teve durante esse período difícil de transição. Mais do que isso: ela deixou uma lição para todos nós. Confira a publicação que, até o momento, teve mais de 34 mil comentários e foi curtida por mais de 318 mil pessoas:

Jovem dá lição no Facebook

Me descobri preconceituosa. Eu, que defendo tanto a igualdade de gêneros, de cor, de religião, que tenho amigos gays, nordestinos, evangélicos, jovens, velhos, com dinheiro e sem, até coxinhas e petralhas! Vários tipos de rótulos.

Explico: Nos últimos meses, minha área de trabalho – como muitas – está muito ruim. Em quatro meses não consegui quase nada. Então, depois de meses me enterrando num sofá perdendo tempo, vida e dinheiro, surgiu a oportunidade de ajudar uma amiga atendendo clientes em sua loja de doces. Quatro vezes por semana, período da tarde, remunerado. Uma boa forma de ocupar a cabeça, sair de casa e ter algum dinheiro. Foi aí que veio o primeiro julgamento: Eu, balconista? Jornalista, três idiomas, currículo em comunicação, trabalhando de touquinha na cabeça servindo os outros? Foi difícil tomar essa decisão, mas aceitei, estou precisando.

Dias depois, a cena durante a tarde, limpando uma das mesas, ouvi dois clientes conversando: “Coloco acento em ‘tem’? Mudou com a nova ortografia?” “Não sei. Não entendo.” E eu ali me remoendo pra dizer “eu sei, eu sei!!!”. Mas, eu era só uma atendente e eles não iriam acreditar que eu sabia. Depois a barreira seguinte: conhecidos e colegas antigos entrarem na loja e me verem nessa função. “O que eles vão pensar? Eles não sabem como cheguei até aqui, que a dona é minha amiga, vão pensar que não dei certo na vida.”

Dá pra entender como isso é errado??? Era com essa inferioridade que eu via os outros atendentes, balconistas e nunca tinha percebido! Sentia vergonha por estar em um trabalho honesto, justo, que traz alegria para as pessoas, que auxilia os outros? Eu deveria é ter vergonha de mim por pensar assim, por tanta falta de humildade e empatia.

Por um preconceito idiota eu ia perder a chance de conhecer tanta gente nova como nas últimas três semanas, de ouvir tantas histórias de vida como sempre gostei de fazer, de aprender um novo trabalho, de ajudar uma amiga, de ter dinheiro pra comprar uma nova bicicleta, pra ir no casamento de uma amiga em outra cidade, de viver! Em tão pouco tempo, esse trabalho que eu achava tão inferior já me ajudou a estar mais feliz, disposta, a ter novas ideias, entender como uma pequena empresa funciona, a buscar cursos para aprender mais.

Como dizia meu avô: A vida não é como a gente quer, é como ela se apresenta! Então, estou aqui aceitando com muito amor e gratidão o que me foi apresentado. Aceitando novas formas de crescer e evoluir com, por enquanto, um preconceito a menos. Hoje, estou aqui, jornalista, tradutora, professora de idiomas, aprendiz de gestora e sim, atendente de um ateliê de doces. E o que mais precisar, a gente aprende a fazer também! E, modéstia à parte, eu tbm fico linda de touquinha! :p

Esse textão é pra tirar de uma vez essa vergonha de mim, para agradecer pela confiança e apoio dos queridos amigos Veronica, Bruno e Felipe, pelo empurrão dos meus pais Edna e Orlando e, talvez, se não for me achar muito, ajudar alguém a fazer a mesma reflexão e dar um passo à frente se for o momento.

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