“Viagra feminino”: conheça as controvérsias sobre a eficácia dessa droga

24/06/2015 às 08:353 min de leitura

Todo mundo já ouviu falar sobre o Viagra — a pílula azul mais famosa do mundo, indicada para tratar a impotência sexual masculina. Além disso, também não é segredo que há vários anos a indústria farmacêutica vem trabalhando duro no desenvolvimento de um medicamento semelhante voltado para o público feminino.

E, como você deve imaginar, o interesse de que tal droga seja inventada é grande. Isso porque, além de melhorar a qualidade de vida de milhares de mulheres de todo o planeta, a motivação financeira é, sem dúvida, gigantesca. Afinal, o Viagra convencional vem batendo vendas anuais de quase R$ 6 bilhões desde 2003 — então imagine o potencial comercial que existe aqui.

Complexidades

O problema em se desenvolver um Viagra feminino é que as questões que afetam a vida sexual das mulheres são bem diferentes — e mais complexas — do que as que afetam os homens. De acordo com John Naish do Daily Mail, a impotência masculina é provocada por problemas como o comprometimento do fluxo sanguíneo na região genital — e o Viagra atua justamente melhorando essa dificuldade.

Por outro lado, segundo especialistas, o desejo feminino aumenta e diminui em consonância com seu estado emocional e a qualidade de seus relacionamentos afetivos. Portanto, é bastante normal as mulheres experimentem a redução na libido em algum momento de suas vidas.

Viagra para mulheres

Segundo Naish, o Viagra masculino chegou a ser testado em mulheres pela Pfizer — laboratório que produz o medicamento —, e apesar de os pesquisadores terem detectado um aumento no fluxo sanguíneo na região genital feminina, a droga não teve efeito no aumento da libido, nem levou ao aumento da frequência de relações sexuais.

Outra abordagem testada foi a administração de testosterona — hormônio sexual masculino — a mulheres com baixo desejo sexual com o objetivo de aumentar sua libido. No entanto, embora a proposta tenha funcionado em alguns casos, os testes revelaram que o uso dessa substância pode ter efeitos colaterais pouco desejáveis, como o surgimento de algumas características masculinas, assim como um aumento no risco de ocorrência de tromboses.

Atividade cerebral

Ainda se desconhece qual é o mecanismo que determina a redução do desejo sexual feminino, mas algumas pesquisas revelaram algumas pistas importantes. Em 2009, um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Stanford apontou que mulheres com esse problema apresentam atividade menor do que o normal em uma região do cérebro chamada córtex entorrinal — envolvida no armazenamento de memórias emocionais positivas.

Sendo assim, os pesquisadores especulam que mulheres com baixa libido tenham dificuldades para guardar memórias de relações sexuais prazerosas e, assim, não consigam resgatar essas lembranças para motivá-las a ter novos encontros. Em outras palavras, a conexão entre região genital e o cérebro em homens e mulheres é diferente, e o problema delas não se limita à “mecânica” da coisa.

Nova droga

De acordo com Naish, em 2010, o laboratório Boehringer Ingelheim apresentou ao FDA — órgão governamental dos EUA equivalente à ANVISA aqui no Brasil — um medicamento chamado flibanserina. A droga foi originalmente desenvolvida para tratar casos de depressão, mas acabou falhando em demonstrar sua eficácia durante os testes clínicos, e não foi aprovada para comercialização.

Mais tarde, o mesmo laboratório voltou a apresentar a droga ao órgão norte-americano, só que na forma de um medicamento para tratar a falta de desejo sexual em mulheres. Entretanto, durante os ensaios clínicos foram descritos efeitos colaterais como sonolência, diminuição repentina da pressão sanguínea e desmaios, especialmente quando o medicamento era combinado com bebidas alcóolicas.

Além disso, os efeitos durante os testes foram tão severos que uma em cada seis participantes decidiu suspender o uso da flibanserina. Assim, não é de surpreender que a liberação do medicamento tenha sido unanimemente negada pelo FDA mais uma vez.

Em 2013, os direitos de uso da droga acabaram sendo vendidos ao laboratório Sprout Pharmaceuticals. Eles insistiram com o medicamento, e apresentaram novos resultados indicando que os efeitos colaterais provavelmente não causariam danos de longo prazo às usuárias. Assim, após tantas idas e vindas, o remédio foi finalmente aprovado pelo FDA, e deve começar a ser comercializado em breve sob o nome comercial Addyi.

Controvérsias

O Addyi, ao contrário do Viagra, não atua na região genital, mas sim alterando a forma como as mulheres respondem à serotonina e à dopamina. Teoricamente, o medicamento faz com que o cérebro delas experimente mais sensações de prazer durante as relações sexuais, além de fazer com que os níveis mais altos de serotonina e dopamina reforcem as memórias de encontros prazerosos, tornando as mulheres mais propensas a querer fazer mais sexo.

No entanto, para fazer efeito, as mulheres devem tomar o medicamento diariamente — inclusive quando elas não tenham intenção de fazer sexo. E não pense que o remédio tem efeito milagroso: ensaios clínicos realizados com casais que faziam sexo entre duas e três vezes ao mês revelaram que depois de a flibanserina ser administrada, a média de encontros aumentou em apenas um no mesmo período.

Outros laboratórios também estão tentando desenvolver novas drogas que atuem no cérebro das mulheres, como é o caso do Palatin Technologies. Nesse caso, eles estão realizando testes com um hormônio sintético chamado bremelanotide, que atua no hipotálamo — uma área do cérebro associada com a memória e as emoções.

Essa substância funcionaria ativando um receptor que, conforme acreditam os fabricantes, ajudaria a despertar o desejo sexual das mulheres a partir de estímulos externos, como ouvir a voz de seus parceiros. No entanto, segundo Naish, assim como acontece com o Addyi, embora o medicamento tenha como alvo a questão do desejo sexual, ele desconsidera o fato de a libido feminina muitas vezes ser determinada pela vida emocional.

Portanto, de acordo com alguns especialistas, a aprovação do Addyi pode levar à popularização de um medicamento com eficácia duvidosa e com possíveis problemas com respeito à segurança de uso. Além disso, tudo parece indicar que, mais importante do que prescrever um remédio para a falta de desejo, seria ajudar as mulheres entender as questões emocionais que podem estar causando a falta de libido.

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