Estilo de vida
31/05/2018 às 05:00•2 min de leitura
A colonização da América do Sul por espanhóis e portugueses não foi o processo mais pacífico que o mundo já presenciou. Com o objetivo de explorar os recursos naturais dessa nova região e enviá-los para a Europa, os desbravadores não tinham muitos escrúpulos, e a diplomacia ficava para outra ocasião.
Diante dessa política, muitos povos foram dizimados, e suas culturas sucumbiram junto. O que sabemos sobre eles hoje vem de escavações, ou da resistência que se fez presente na época e conseguiu manter pelo menos parte do que um dia eles representaram.
Os mapuches são um povo indígena de uma região que hoje fica entre o Chile e a Argentina. Durante a colonização espanhola, eles enfrentaram os invasores e conseguiram resistir à sua dominação. Isso se deu através de uma série de batalhas que ficaram conhecidas como Guerra de Arauco e duraram aproximadamente 300 anos.
Os desbravadores adentraram o nosso continente pelo norte, e, conforme derrotavam os habitantes nativos, começaram a se deslocar para o sul. Em 1536, aproximadamente, eles tiveram o primeiro contato com os mapuches.
Na batalha de Lagunillas, em 1557, os espanhóis derrotaram facilmente centenas de guerreiros mapuches. Aqueles que não morreram em combate foram capturados, formando um grupo de aproximadamente 150 homens; entre eles, estava Galvarino.
Apesar do alto poder de fogo europeu, conflitos armados sempre podem causar mortes para ambos os lados. Como forma de tentar diminuir a resistência nativa, o governador García Hurtado de Mendonza ordenou que todos os aprisionados tivessem a mão direita e o nariz decepados. Os líderes, como nosso célebre indígena, perderiam a outra mão também.
Os registros do episódio dizem que Galvarino não demonstrou nenhum sinal de dor enquanto as amputações ocorriam, e, ao final de tudo, ainda pediu ao carrasco que o matasse. A solicitação foi negada, e esse talvez tenha sido o maior erro dos invasores.
Como a ideia era enviar uma mensagem, os guerreiros foram liberados e mandados para Caupolicán, o general do povo mapuche. Apesar da situação em que eles retornaram, nosso herói incentivou seu comandante a continuar a batalha, pois não valeria a pena viver sob o domínio espanhol.
Como recompensa por sua coragem, ele foi colocado como líder do próximo ataque. Embora já não possuísse as mãos, ele prendeu duas facas ao que restou dos seus braços, se adaptando para lutar daquela maneira.
Menos de 1 mês após a sua captura, Galvarino já estava novamente na guerra. Na batalha de Millarapue, aproximadamente 3 mil guerreiros mapuches enfrentaram 1,5 mil espanhóis; o plano deles consistia em emboscar um acampamento com localização conhecida.
Apesar da grande vantagem numérica, os nativos não atacaram no melhor momento. Além disso, havia patrulhas do inimigo vigiando o lugar; eles conseguiram alertar os companheiros, que contra-atacaram com seus arcos de longo alcance e suas armaduras de ferro.
Segundo o que escreveu Jerónimo de Vivar, Galvarino inflamou as tropas mapuches contra o acampamento com suas lâminas no lugar das mãos, gritando palavras de ordem. Porém, mesmo com o incentivo do bravo guerreiro, todos os indígenas foram capturados ou mortos em batalha, enquanto os espanhóis perderam apenas alguns cavalos.
Dessa vez, o líder nativo foi condenado à morte pelo governador, mas existem várias versões sobre como isso ocorreu. Segundo alguns registros, ele foi jogado para ser comido vivo por cães; outros relatos contam que ele se suicidou para que seu fim não fosse creditado ao comandante invasor.
Apesar das derrotas e do grande número de perdas, os mapuches sobrevivem até hoje na região, mostrando que os sacrifícios feitos pelos seus antepassados resultaram na preservação de sua cultura por muito tempo.