Artes/cultura
04/08/2018 às 08:00•3 min de leitura
A Igreja Católica ainda possui influência em diversos assuntos, mas nada comparado ao que acontecia nos tempos do Império Romano, especificamente no século 9. As duas instituições possuíam uma intensa ligação, chegando ao ponto de existirem bispos nomeados como nobres do Império. Ao mesmo tempo, os romanos estavam envolvidos em uma série de guerras, conflitos entre nobres e influências de inimigos externos, que faziam o possível para deixar a situação cada vez mais agitada.
No meio de todo esse contexto, ocorreu a nomeação do Papa Formoso, fato que colaborou com o caos em andamento. O motivo desse descontentamento, oficialmente, existia por ele possuir pensamentos hereges sobre o Espírito Santo. A realidade é que, até onde se sabe, havia uma disputa sobre quais bispos ficariam com os lucros dos diversos bordéis de Roma, além de uma rixa com Guido de Spoleto.
Por existirem objetivos conflitantes entre a Igreja Católica e o nobre, o Papa iniciou a organização de um exército para conter o avanço do adversário. Após esse movimento, o Papa Formoso morreu repentinamente, vítima de gota. Seu sucessor, Bonifácio VI, foi alçado ao posto de Papa por um grupo de agitadores, mas também morreu em decorrência de gota, duas semanas depois. Isso abriu caminho para o Papa Estevão VI, que chegou à posição de formas, no mínimo, suspeitas.
Não existem muitas informações sobre a vida de Estevão nem indícios sobre o que ele seria capaz de fazer. O pouco que se sabe é que ele era filho de um padre católico — algo proibido pela Igreja Católica até hoje —, que ingressou na instituição assim que atingiu a idade necessária. Provavelmente por alguma chantagem feita por Guido de Spoleto, o Papa Formoso foi quem elevou o jovem a bispo.
Na posição, Estevão era conhecido por se manter nas sombras. Ninguém sabia de suas opiniões sobre a Igreja, ele não publicou nenhum texto relevante e, provavelmente, não contribuiu em nada para a instituição como bispo. Mesmo nessas circunstâncias, ele assumiu diversos cargos relevantes durante sua vida.
As informações oficiais sobre a morte dos dois Papas, em momentos-chave e pelo mesmo motivo, no mínimo levantam dúvidas. Coincidência ou não, essa foi a causa da morte de vários inimigos de Guido de Spoleto.
Tornando a sucessão de fatos cada vez mais suspeita, assim que assumiu o cargo, Papa Estevão VI reverteu todas as decisões tomadas pelo Papa Formoso e iniciou um processo de purificação dos políticos romanos, em nome do Sacro Imperador Romano.
No meio de toda essa movimentação, sua ordem mais absurda foi a exumação do antigo Papa Formoso, para que fosse julgado pelos crimes de heresia dos quais era acusado. Durante o evento, um diácono ficou agachado atrás do trono papal e foi incumbido de falar pelo cadáver, que foi vestido com suas antigas roupas e colocado na posição que um dia ocupou.
Quando o Papa Estevão VI perguntou: “Por que você usurpou o papado?”, o diácono respondeu, como se fosse o antigo Papa, dizendo: “Porque eu era o demônio!”. Com o término do julgamento, definindo o antigo pontífice como culpado, o cadáver teve suas roupas retiradas e o título de Papa cancelado de forma retroativa. Os dedos que ele um dia utilizou para abençoar pessoas foram cortados e o corpo, enterrado novamente, mas em um túmulo comum.
Mesmo para a época, a condução do julgamento de um cadáver, com a posterior mutilação dos dedos, foi considerada um excesso. Por isso, alguns meses depois Estevão foi deposto e colocado na cadeia. Seu sucessor, o Papa Romano, reverteu todas as suas ações, trazendo de volta as antigas determinações do Papa Formoso.
Estevão acabou sendo enforcado, como sinal de sucesso e da retomada das tradições da Igreja Católica. A ordem de acontecimentos nos leva a crer que seu papado, que não chegou a durar 1 ano, aconteceu totalmente por motivos políticos.
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