Artes/cultura
10/10/2018 às 06:30•2 min de leitura
A devastação causada por uma guerra não é nenhuma novidade. Cidades arrasadas, pessoas desabrigadas e vegetação carbonizada são os efeitos que podemos ver, mas os estragos vão muito além disso.
Entre 1940 e 1945, EUA e Grã-Bretanha lançaram 2,7 milhões de toneladas de bombas em toda a Europa, metade disso sobre a Alemanha. Agora, pesquisadores descobriram que o efeito de tantos explosivos foi além da destruição no solo, através de estudos das ondas de choque produzidas pela detonação.
A análise só foi possível graças a registros da ionosfera feitos entre 1933 e 1996 pela Radio Research Station em Ditton Park, próximo a Slough, na Inglaterra. Os pesquisadores acessaram os dados com o intuito de entender a influência de explosões vulcânicas, terremotos e raios na atmosfera superior.
Durante o processo, eles questionaram se a intensidade da explosão massiva de bombas durante a Segunda Guerra Mundial teria afetado a atmosfera de uma maneira inusitada e chegaram a uma conclusão interessante. Ao separar as medições da ionosfera nos dias em que aconteceram os 152 maiores bombardeios aliados na Alemanha, perceberam que as ondas de choque atingiram a camada da atmosfera, causando uma redução significativa na concentração de partículas eletricamente carregadas.
Os efeitos duraram pelo menos 24 horas e foram detectados no observatório inglês, que fica a 900 quilômetros do ponto de impacto das bombas. No estudo, que foi publicado Annales Geophysicae, o meteorologista e principal autor, Chris Scott, disse que “não se sabia o efeito que o impacto dessas bombas causou na atmosfera da Terra até hoje. Cada ataque liberou a energia de pelo menos 300 raios, e o enorme poder envolvido nos permitiu quantificar como os eventos na superfície da Terra também podem afetar a ionosfera”.
Apesar de o observatório de Ditton Park ficar próximo a áreas que sofreram com as blitz alemãs nos anos 1940 e 1941, as bombas do Eixo eram relativamente pequenas e lançadas de forma contínua, dificultando a análise dos dados.
Já os ataques dos Aliados à Alemanha utilizaram bombas até três vezes mais pesadas que o inimigo, produzindo um impacto pontual, mas devastador. Com isso, foi possível identificar com precisão o momento e as consequências causadas pela detonação dos explosivos.
Não é possível saber se o efeito teve influência no andamento da guerra, pois a ionosfera possui a capacidade de refletir ondas de rádio, se tornando uma variável relevante na comunicação de longa distância. Hoje, a camada da atmosfera possui muito mais relevância em nossas vidas, pois interfere nos sinais de rádio, GPS e radares.
Para os pesquisadores, a perda de elétrons na atmosfera superior teria sido causada por um aquecimento repentino. Com essas informações, eles esperam entender a quantidade de energia necessária para influenciar a ionosfera, estimando o quanto vulcões, raios e terremotos impactam na camada.
"Como conhecemos as energias envolvidas nessas explosões, isso nos dá uma maneira quantificável real de avaliar quanta energia é necessária para tornar a ionosfera mais quente", explicou Scott em entrevista para a CNN. No futuro, a equipe espera refinar as análises para que pequenos bombardeios possam ser identificados, entendendo os efeitos que eles causaram além da destruição já conhecida.
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