Ciência
22/01/2020 às 14:00•3 min de leitura
De acordo com o historiador John Baines, da Universidade de Oxford, as guerras vêm acontecendo desde 2525 a.C e, ainda que centenas de aspectos tenham se modificado no conceito e na política de interesse de um conflito antigo como esses, ainda há uma coisa que permanece a mesma: estratégia.
Ao longo dos anos, conforme o mundo foi se envolvendo em cada vez mais em guerras, chegando a uma somatória assustadora de 366 confrontos de grandes proporções, mais planos de exércitos envolvidos foram sendo inventados. Nada era mais decisivo do que enganar o inimigo antes de enfim vencê-lo. As táticas de guerrilha já foram diversas, principalmente durante as duas Grandes Guerras Mundiais, envolvendo explosivos escondidos nas fezes de animais, tanques de guerra falsos, botas com marcas de pés para que os britânicos não deixassem pegadas de sapatos quando desembarcassem dos barcos.
Na Segunda Guerra Mundial, depois de tantas invenções de estratégias, os soviéticos decidiram dar um destino considerado “nobre” aos cães de seu país. Por isso criaram os Cães Antitanques.
Desde 1924, a União Soviética já treinava cães para que realizassem múltiplas tarefas no campo de batalha, tanto remover os feridos de guerra da zona de confronto, quanto enviar mensagens, armamento, remédios e comida para o seu exército. Visto que eles não possuíam treinadores dedicados e especializados o suficiente para desempenhar esse tipo de tarefa, os soviéticos passaram a recrutar policiais, caçadores, cientistas e até treinadores de circo para comporem um programa de treinamento. Foram então fundados três campos regionais em Oblast de Moscou para que fosse desenvolvido a capacitação desses animais.
Por conta de suas habilidades físicas e facilidade para retenção de instruções, os cães da raça Pastor Alemão eram os preferidos para integrar o programa, embora as outras raças não fossem dispensadas.
Muito embora os cães antitanques tenham ganhado notoriedade como boa parte do plano de guerra durante a Segunda Guerra Mundial, as suas atividades começaram já na Primeira Grande Guerra.
Visando a destruição de armas, depósitos de combustível ou qualquer outro dano físico ou pessoal, a primeira ideia para o experimento foi equipar os cachorros com dois carregamentos de dinamite com 6kg cada um, armazenados em grossas embalagens feitas de lona e colocadas nas costas dos animais. Um tipo de sela de madeira em cima do lombo do cão comportava explosivos e dispositivos de desintegração, além de um fecho de paraquedas que ele era instruído para que puxasse para liberar a bolsa de seu corpo.
A estratégia era ensinar aos cães que fizessem uma aproximação até uma zona segura, depois corressem para perto do alvo de guerra inimigo, puxasse o cordão que soltava a sacola e depois corresse de costas de volta para a sua base. Depois disso a bomba poderia ser detonada através de um temporizador ou controle remoto, embora esse fosse muito caro para uso indiscriminado em zonas de guerra.
Ao longo de 6 meses, um grupo de 212 cães foram treinados por 190 profissionais especializados para que não temessem o som de artilharia pesada e para que se rastejassem para não serem atingidos pelo fogo aberto do inimigo. Contudo, quando os animais foram submetidos a condições reais num campo de batalha próximo à Moscou durante um conflito, até chegaram a ter um bom desempenho mirando em um único alvo, porém ficaram confusos com alterações de destino, fugiram de volta para o seu operador ou foram baleados. Em fronte de guerra mais pesado, os soviéticos entenderam que os cachorros poderiam ser mortos junto com os seus operadores enquanto retornavam para as bases.
Nem mesmo um cão promissor que ficou conhecido pelo nome de Inga, que se mostrou um gênio em habilidade durante todo o treinamento com o transporte dos explosivos, também fracassou e não conseguiu completar a missão real. Foi em face a esse fiasco que os treinadores soviéticos decidiram criar os cães antitanques, com a ideia de que eles morreriam no processo para poder fazer com que o plano desse certo, alterando o objetivo da tarefa para a destruição dos tanques de guerra.
A composição das minas que os cães carregariam continuariam a mesma, apenas com a modificação de que eles não conseguiriam desprender as sacolas de carregamentos de seu corpo. Colocaram uma alavanca de madeira de 20 centímetros de altura partindo do topo da bolsa de dinamite que seria acionada assim que o animal mergulhasse sob o tanque.
E para que isso funcionasse, os soviéticos usaram de um dos instintos mais primitivos: a fome. Antes dos treinamentos, os cachorros eram mantidos por cerca de dois a três dias em gaiolas e sem nenhum acesso a comida. Depois essa era cozida e colocada ainda quente em baixo dos tanques para que os animais entendessem que saciariam a fome se fossem até lá.
Quando 40 tanques de guerra foram destruídos pelos soviéticos usando os cães suicidas, o plano já havia começado a caminhar para o seu sucesso. No final de 1941, um pouco mais de mil cães já haviam sido enviados para a frente de batalha e no ano seguinte, dois mil deles já haviam morrido se sacrificando. Os antitanques conseguiram também explodir vários bunkers, depósito de armas e outros locais inimigos.
Apesar do sucesso, o uso dos cães antitanques declinou assim que o Exército Vermelho começou a receber armas que combatiam diretamente os tanques de guerra. Durante a Segunda Guerra Mundial, estima-se que por volta de 40 mil cães foram usados pelo exército da União Soviética. Apesar de os treinamentos terem continuado, todos os esforços para criarem os cachorros suicidas foram voltados principalmente para base de serviços, ao invés da frente de guerra. Demonstrando assim que de fato os animais eram descartáveis.