Ciência
22/02/2021 às 03:00•2 min de leitura
O senso comum afirma sem hesitar: “são sinônimos, então é possível trocar um pelo outro se quiser”. No entanto, a realidade não é exatamente essa. E quem confirma isso é o próprio Houaiss — um dos mais conceituados dicionários de língua portuguesa — ao definir o verbete “sinônimo”: “palavra que tem com outra uma semelhança de significação que permite que uma seja escolhida pela outra em alguns contextos, sem alterar a significação literal da sentença”.
Atenção ao trecho grifado: “em alguns contextos“. Isso quer dizer que é preciso redobrar a atenção, pois nem sempre substituir um termo por outro é tão simples quanto parece. Nesse sentido, existem algumas sutilezas linguísticas que devem ser observadas a fim de garantir clareza na comunicação — o objetivo principal.
Para auxiliar na identificação desses casos, selecionamos três estruturas que costumam aparecer com frequência em diferentes textos. Com exemplos, fica mais fácil visualizar. Veja só:
“Graças a” é uma expressão comumente usada como sinônimo de “devido a”, “em virtude de”, “por causa de”; no entanto, isso nem sempre faz sentido, pois “graças a” traz a ideia de algo positivo.
Na frase O paciente melhorou graças à medicação, funciona perfeitamente. Por outro lado, causa estranhamento em O paciente morreu graças à medicação.
O verbo “imaginar” significa criar na imaginação, visualizar na mente; então, não é adequado usar no caso de situações que comprovadamente são reais, portanto não exigem imaginação.
Em Imagine como seria a vida sem boletos para pagar, o verbo faz sentido. Já em Imagine que, no útero, o bebê se alimenta pelo cordão umbilical, não combina; afinal, bebês se alimentam pelo cordão umbilical antes do nascimento. Não é algo a ser imaginado.
Essa expressão é comumente usada como sinônimo de “ter”, “possuir”; porém, nem sempre a construção se adequa, visto que “contar com” traz a ideia de algo positivo.
No exemplo Os assinantes contam com mais vantagens no plano premium, não há problemas. Já em Apesar de ser novo, o hotel conta com problemas de manutenção, essa realmente não é a melhor forma de expressar o cenário.
Você já tinha percebido isso?
Até semana que vem!
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Debora Capella, colunista semanal do Mega Curioso, é mestre em Estudos da Linguagem e atua nas áreas de revisão, edição, tradução e produção de textos há 15 anos.