2014, por Isaac Asimov

10/09/2013 às 06:325 min de leitura

Há quem ainda se volte para a ficção científica buscando predições para futuros próximos e distantes. Embora em grande medida esse gênero se pareça mais com um retrato perfeitamente disfarçado da época em que foi escrito — veiculando críticas ocultadas por raios laser e geringonças interplanetárias —, fato é que alguns escritores conseguem mesmo prever ou chegar bem perto dos desdobramentos reais da tecnologia.

Um belo exemplo disso pode ser o artigo escrito em 1964 pelo cientista e escritor de ficção científica Isaac Asimov para o jornal The New York Times. Na ocasião, Asimov abandonou temporariamente suas tramas ancoradas nas três famosas leis da robótica e seus textos acadêmicos para se debruçar na seguinte questão: “Como será o ano 2014?”.

Bem, se para nós, hoje, ainda é razoavelmente difícil predizer com um mínimo de exatidão os caminhos percorridos pela sociedade à luz da tecnologia em constante expansão, o que se pode esperar de um texto com mais de 50 anos?

Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

Certamente há ali algum deslumbramento típico de uma sociedade ainda às voltas com as possibilidades quase míticas da miniaturização e, é claro, não poderiam faltar os carros flutuantes. Entretanto, ao imaginar uma “Feira Mundial” para 2014, Asimov também provou que nem toda futurologia precisa se parecer com um episódio dos Jetsons. Confira abaixo:

Paredes luminosas

“Em 2014, painéis eletroluminescentes serão de uso comum. Tetos e paredes trarão um brilho suave com cores variadas que se alternarão ao apertar ou tocar um botão.”

“Na mosca”, alguém poderia dizer. De fato, há hoje as modernas tecnologias de iluminação por LED, sucessoras em larga medida mais interessantes do que as lâmpadas incandescentes e fluorescentes.

Quanto à variação de cores, basta lembrar do bulbo anunciado há não muito tempo pela Philips. O chamado Hue é capaz de projetar cores sobre a parede atrás do televisor, em variações que se alternam conforme o conteúdo exibido na TV — o que talvez represente um passo além em relação à previsão de Asimov.

Os primeiros robôs para trabalhos domésticos?

“Os aparatos eletrônicos continuarão a abster o gênero humano dos trabalhos tediosos. (...) Os robôs ainda não serão comuns e nem bons em 2014, mas eles já existirão. Computadores miniaturizados lhes servirão como ‘cérebro’. De fato, o estande da IBM na Feira Mundial de 2014 deve trazer, como uma de suas principais atrações, uma empregada doméstica robótica — grande, desajeitada, atrapalhada e lenta, mas capaz de executar tarefas gerais, pegando, arrumando, limpando e manipulando diversos aparelhos.”

Mesmo com a imprevisibilidade de uma indústria movimentada por visionários do naipe de um Steve Jobs, é pouco provável que nós encontremos as tais faxineiras robóticas nas prateleiras no anos que vem.

Mas sim, em alguma medida pelo menos isso já existe. Basta se lembrar do hoje popular Roomba, da iRobots. Ok, ele não traz formas antropomórficas, parecendo-se muito pouco com um ideal estilo “Rosie”. Porém, o robozinho em disco ainda é perfeitamente capaz de manter o chão da sua casa limpo — e sem a parte do “atrapalhado”, já que o mapeamento do pequeno autômato é razoavelmente preciso.

Filmes em 3D

“O stand da General Electric na Feira Mundial de 2014 mostrará filmes em 3D sobre os ‘Robôs do Futuro’, de forma elegante e simples, enquanto seus aparelhos de limpeza embutidos realizam todas as tarefas rapidamente. (Ainda haverá uma espera de três ou quatro horas para ver o filme, já que algumas coisas nunca mudam).”

É bem verdade que o cinema 3D já rolava quando Asimov destilou suas previsões. É claro que ele foi um pouco além, predizendo ainda uma espécie de “cubo televisivo”, o qual provavelmente deveria flutuar na sua sala de estar em algum momento do ano que vem.

Fonte da imagem: Divulgação/Panasonic

Entretanto, considerando o interesse renovado da indústria pela terceira dimensão cartesiana... Talvez a previsão ainda possa ser levada em conta, embora dificilmente para mostrar novos robôs. Na parte das filas, um pequeno equívoco do Sr. Asimov: faz-se filas monstruosas hoje sobretudo para conseguir “celulares um pouco melhores” antes dos demais, como disse outro sábio (Homer Simpson).

Baterias nucleares? Painéis solares?

“Os aparelhos de 2014 não terão cabos elétricos, é claro, já que serão alimentados por baterias de longa duração funcionando à base de radioisótopos. (...) Uma ou duas usinas de fusão também devem existir em 2014. Enormes estações com painéis solares operarão em vários desertos e áreas semidesérticas. (...) Em 2014 serão mostrados modelos de usinas localizados no espaço, coletando os raios do Sol e remetendo a energia para a Terra.”

Fonte da imagem: ThinkStock

Baterias nucleares: eis aí uma boa ideia que despertaria, hoje, quatro ou cinco grupos de ativistas simultaneamente, considerando os impactos ambientais. Infelizmente, a grande maioria dos aparelhos ainda depende de longos cabos para funcionar. De qualquer forma, a busca por energias ditas “sustentáveis” não poderia estar mais em voga. Resta saber se haverá mesmo um enorme satélite em órbita para alimentar a próxima geração de video games.

Carros autômatos e flutuantes

“Há uma grande possibilidade de que as rodovias — pelo menos nas partes mais avançadas do mundo — comecem a cair em desuso em 2014; haverá uma ênfase cada vez maior em formas de transporte que admitam um mínimo de contato com a superfície. Haverá aeronaves, é claro, mas mesmo os transportes terrestres devem flutuar — um ou dois pés acima do chão. As pontes também não serão mais importantes, já que os carros poderão sobrevoar a água (...)”

...A mania de Jetsons até já gerou vítimas, como o criador do veículo acima. Fonte da imagem: Reprodução/SmugMug

Sendo uma previsão dos anos 60, provavelmente é perdoável que mesmo Isaac Asimov tenha se deixado levar pela imagem de carros flutuantes. De fato, ainda estamos quase todos atados ao chão, e as rodovias parecem ter uma aposentadoria ainda bastante distante — e o mesmo poderia ser dito sobre as pontes. Mas há outro ponto digno de interesse:

“Muito esforço será remetido ao projeto de veículos com ‘cérebros robóticos’ — veículos que possam ser configurados para destinos específicos e que procederão a eles sem a interferência dos reflexos lentos de um motorista humano.”

Carro com piloto automático da Mercedes-Benz Fonte da imagem: Reprodução/New York Times

Isso certamente leva as coisas a um ponto menos Jetsons do espectro de especulações. De fato, carros autômatos têm se tornado cada vez mais comuns — eles estacionam, mantêm a sua velocidade, evitam o acostamento etc. Não parece improvável que alguns modelos luxuosos em um futuro próximo o deixem livre o suficiente para ler uma revista de novidades tecnológicas — talvez um vídeo tridimensional mostrando os robôs do futuro.

O Skype? Mais ou menos

“As comunicações se basearão em imagens e som — você poderá ver e ouvir a pessoa para a qual ligar. A tela poderá ser utilizada não apenas para ver a pessoa da chamada, mas também para estudar documentos e fotografias e para ler passagens de livros.”

Asimov afirmava que tal cenário seria possível por meio de uma profusão de satélites, flutuando no espaço e garantindo a ligação imediata entre quaisquer pontos da Terra. Bem, talvez o cenário não tenha se desenvolvido da forma como imaginava o escritor, mas de fato há hoje propostas bastante afins — Skype, FaceTime, GoogleHangouts e, em última análise, a própria internet.

Leveduras e algas processadas

“A agricultura convencional enfrentará grandes dificuldades e algumas ‘fazendas’ devem se transformar em organismos mais eficientes. Haverá produtos processados de leveduras e algas com uma grande variedade de sabores. A feira de 2014 trará um Algae Bar, no qual ‘peru falso’ e ‘pseudobife’ serão servidos. Não será ruim, no fim das contas (caso você queira pagar os altos preços), mas haverá considerável resistência psicológica a essa inovação.”

"Vai querer seu pseudobife bem passado ou mal passado?" Fonte da imagem: Reprodução/RosaMundWo

Não, não é preciso andar muitas quadras hoje para encontrar um restaurante, de fato, muito semelhante à proposta de Asimov. A resistência psicológica, é claro, está presente, embora sutilmente transfigurada — basta acessar as redes sociais para atestar.

O futuro ainda não distribuído

“Nem toda a população mundial aproveitará o mundo cheio de gadgets do futuro de forma plena. Uma grande porção dela será privada desses avanços, mesmo que esteja materialmente melhor do que hoje, se comparada com porções mais avançadas do mundo. Eles estarão em desvantagem relativa.”

Sim, Asimov não poderia estar mais certo. De fato, não é de hoje que se ressalta o abismo entre as tecnologias nascentes e as parcelas menos afortunadas da sociedade. Para ser um tanto menos dramático, basta considerar o tempo que leva para que determinada tecnologia seja embalada e vendida como um produto — basta pensar em algo como o Kinect, o periférico de captura de movimentos do Xbox 360.

Medicina

Minifígado criado em impressora 3D Fonte da imagem: Reprodução/NewScientist

“A taxa de mortalidade no futuro deve diminuir conforme o aumento da utilização de aparatos mecânicos para substituir corações e rins, além do reparo de artérias endurecidas, o que elevará a expectativa de vida em algumas partes do mundo a 85 anos.”

A tendência está absolutamente correta, é claro. De fato, em países como o Japão e a Suíça a expectativa de vida já é de 83 anos. Entretanto, em detrimento da indústria de ciborgues, a medicina do futuro parece mais direcionada à produção de órgãos genuínos em impressoras apropriadas, algo que já é feito há algum tempo.

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