Ciência
11/01/2017 às 04:00•3 min de leitura
Como todo mundo sabe, Joana d’Arc foi uma extraordinária adolescente francesa que, em cerca de dois anos, deixou de ser uma mera camponesa para liderar tropas contra invasores ingleses. Além disso, todos sabem que ela morreu queimada na fogueira há pouco menos de 600 anos, após ser acusada e condenada por heresia.
No entanto, de acordo com Kat Eschner, do portal Smithsonian.com, existem algumas peculiaridades a respeito da história da jovem que nem todo mundo conhece — e que podem mudar um pouco a forma como entendemos a trajetória dessa incrível figura. Confira a seguir:
Joana d’Arc não passava de uma camponesa ordinária de 17 anos até que se cansou da vidinha que levava. Então, em fevereiro de 1429, ela resolveu dar as caras na corte de Carlos VII da França, vestida com roupas masculinas — algo impensável para a época! — e falar para os presentes que Deus a havia enviado para lidar com uns probleminhas relacionados com a coroação de Carlos, que ainda não havia se tornado rei.
Ela tinha apenas 17 anos quando começou a liderar as tropas!
Segundo Kat, por alguma razão Carlos acreditou na jovem e, cerca de dois meses depois, ela estava liderando uma pequena tropa até a cidade de Orleans — que se encontrava sob o domínio dos ingleses. Lá, Joana mandou um recado para o monarca britânico, dizendo que se ele e seus homens não se mandassem da França, ela ia arrumar a maior confusão.
O rei inglês não deu a menor bola para a garota, obviamente — e, durante as cinco semanas seguintes, ele viu as forças lideradas pela camponesa francesa vencerem uma série de batalhas sobre os britânicos. Joana também conseguiu reconquistar a cidade de Reims, onde as coroações dos monarcas franceses costumavam acontecer e, no final de julho, Carlos VII subiu ao trono.
Só que, apesar de nunca ter matado ninguém em batalha, Joana se transformou em uma espécie de troféu de guerra e, em maio de 1430, ela foi capturada por franceses traíras aliados dos britânicos e exibida pelos territórios da França que ainda permaneciam sob o domínio dos ingleses.
Quando Joana d’Arc chegou à corte de Carlos VII e disse que havia sido enviada por Deus, ela também comentou que ouvia vozes... do Todo Poderoso, da Santa Catarina, da Santa Margarida e de São Miguel, e que tinha algumas visões também.
Ela viveu em uma época muito complicada para as mulheres
Pois, enquanto muita gente simplesmente assumiu que a camponesa era meio biruta e que possivelmente sofria de epilepsia, esquizofrenia ou outros problemas mentais, existem historiadores que acreditam que ela se apoiou no artifício da comunicação milagrosa simplesmente para ser ouvida.
De acordo com Kat, durante a Idade Média, as possibilidades de as mulheres serem ouvidas pelas autoridades públicas — representadas em sua vasta maioria por homens — eram incrivelmente remotas. Também é verdade que o consenso atual é que Joana parecia estar convencida de que ela realmente tinha uma forte conexão com o divino.
E foi dessa forte convicção que Joana tirou a coragem e a força que ela precisava para chegar onde queria. Pena que essa mesma crença — de que ela tinha em poder ouvir vozes e ter visões divinas — tenha sido usada contra ela.
No final, Joana acabou sendo acusada de heresia e condenada à morte. Além disso, apesar de ter chegado tão longe e ter demonstrado tamanha força e coragem, a ideia de ser queimada na fogueira a aterrorizava. A jovem chegou a mudar sua versão da história um pouco antes de morrer, mas acabou voltando atrás, admitindo que havia feito isso por conta do medo que sentia do fogo.
Coitada... ela não merecia o fim que teve...
De qualquer forma, segundo Kat, Joana foi a “mocinha” da história, e lutou pelas coisas certas. Sem falar que sua trajetória foi absolutamente extraordinária. Para começar, em plena Europa do século 15, ela escolheu ignorar sua classe social e gênero para conquistar seu espaço no mundo — e fez isso enquanto vestia roupas masculinas, armaduras e liderava tropas pelo país.
Na verdade, muitos historiadores acreditam que, no fundo, o que acabou “matando” Joana foi o fato de ela ser tão diferente das demais “damas” da época. Eles argumentam que isso — e não a sua heresia — era a verdadeira ameaça associada com a jovem camponesa.
Por sorte, os nobres da época, a galera que circulava pelas cortes, escreveram extensivamente sobre os julgamentos de Joana, o que aconteceu quando ela foi condenada à morte e o que ocorreu 35 anos depois, quando a França resolveu voltar atrás e declarar a sua inocência — só que um pouco tarde demais, né! —, e é graças a esse pessoal que hoje existem tantos registros históricos sobre essa incrível figura.