Artes/cultura
21/04/2020 às 02:00•2 min de leitura
Você já deve estar comemorando mais um feriado, mas talvez nem se lembre exatamente o motivo para isso, não é mesmo? “Claro que não, Mega! Eu sei que é por causa de Tiradentes!”, deve estar bradando algum leitor mais eufórico, mas você sabe quem foi ele? Se você disse que é aquele barbudo e cabeludo a quem todo mundo faz sinal da cruz na estátua da praça, você está certo, mas essa história é um pouco mais complexa.
Vamos por partes: Joaquim José da Silva Xavier nasceu em 12 de novembro de 1746, na Fazenda do Pombal, onde hoje se localiza a cidade de Ritápolis, em Minas Gerais. Nessa época, quem governava o Brasil era a corte portuguesa, mas, até então, Joaquim não ligava muito para política – até pelo fato de que seus pais eram portugueses.
Quis a vida que, já aos 15 anos de idade, ele fosse órfão de pai e mãe. O rapazinho acabou ficando sob a tutela de um tio, que era cirurgião dentista e com quem ele aprendeu algumas coisas da profissão, apesar de, oficialmente, ter se tornado tropeiro, militar e minerador.
Oficialmente, Tiradentes nunca foi dentista
Foi como minerador que Joaquim José descobriu que a corte portuguesa não era tão legal assim com os brasileiros: os impostos cobrados eram muito caros e aumentaram ainda mais quando os minérios ficaram escassos. Revoltado com isso, ele liderou um grupo para lutar contra essa cobrança.
Só que, é claro, havia um dedo-duro no bando que denunciou a revolta para os governantes. Por isso, um dia antes, muitos que faziam parte da chamada Inconfidência Mineira foram presos e esperaram até 3 anos pela sentença. Joaquim José assumiu a liderança e conseguiu libertar os outros inconfidentes, sendo o único condenado à morte.
Aos 45 anos, no dia 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, Joaquim José percorreu as ruas do Rio de Janeiro da cadeia até o local de sua execução. A galera foi em peso acompanhar sua morte, que teve discurso e até fanfarra – tudo, é claro, para dar um alerta àqueles que se revoltassem contra a corte. O líder foi enforcado e esquartejado, com partes de seu corpo sendo expostas em vias públicas.
Quadro retratando a prisão de Tiradentes
O que era para ser um processo de intimidação acabou sendo um incentivo para novas revoltas, tanto que a memória de Tiradentes foi exaltada pela população. Ele era chamado dessa forma por conta de suas práticas na extração de dentes, aprendidas com o tio. Oficialmente, ele nunca se formou dentista.
O feriado em sua homenagem só foi promulgado em 9 de dezembro de 1965, durante a primeira fase do Regime Militar. Desde então, a data de sua morte virou folga em todo o território nacional. Claro que esse é apenas um resumo da história de Tiradentes, que teve sua imagem de mártir construída ao longo dos séculos.
Falando em imagem, uma das curiosidades sobre a sua vida é que não existem muitos relatos sobre sua aparência física. Em 1890, o pintor Décio Villares criou uma figura hipotética do herói, usando símbolos já conhecidos de outro mártir: Jesus Cristo. Ao retratá-lo com barba e cabelos longos, Villares mitificou o homem, retirando a idolatria meramente política para dar uma aura mais mística a Tiradentes.
Imagem mitológica X imagem mais realista
Oficialmente, Tiradentes foi enforcado com cabelo e barba raspados, sendo que, por ter servido o exército, é muito mais provável que ele usasse cabelos curtos e, no máximo, um bigodinho em seu dia a dia. Agora, confessa para a gente: você já fez o sinal da cruz achando que ele era Jesus Cristo? Eu já!
*Publicado em 20/04/2017