Ciência
01/02/2018 às 05:01•3 min de leitura
Por mais terrível e hediondo que possa parecer, a decapitação é, sem dúvida, um dos métodos favoritos de execução já criados pela civilização humana. De acordo com Richard Stockton, do portal All That Is Interesting, ela vem sendo praticada desde que os nossos ancestrais da Idade da Pedra descobriram que podiam se livrar dos membros problemáticos da comunidade com o golpe de um pedaço afiado de pedra no pescoço dos encrenqueiros.
Desde então, a decapitação como forma de punição jamais deixou de ser usada— ainda hoje, ela é considerada legal no Qatar, no Iêmen e na Arábia Saudita! —, mas, por sorte (ou não), a sua execução foi se “modernizando” ao longo da História.
Com o tempo, as ferramentas feitas de pedra foram sendo substituídas pelas de metal e, portanto, as decapitações passaram a ser conduzidas com instrumentos mais moderninhos. Segundo Richard, primeiro foram os machados e as espadas, e a escolha de qual dos dois seria usado nas execuções dependia de quem havia sido condenado — e de quanta compaixão os carrascos sentiam pelos sujeitos sentenciados à morte.
Assim, a espada normalmente era a opção escolhida quando o prisioneiro era importante ou pertencia à aristocracia, já que, com um único golpe, ela dava aos condenados uma morte mais “limpa” e rápida. Já o machado era a ferramenta de escolha quando se tratava da execução de camponeses ou foras da lei de menos valor, e a verdade é que, para esses pobres coitados, não fazia falta que eles cometessem grandes crimes para perder a cabeça.
Na Inglaterra, por exemplo, no século 19, mais de 200 crimes podiam ser punidos com a morte — inclusive o roubo de quantias mínimas de dinheiro. Além disso, um pouco antes, na França do século 18, conforme a monarquia foi perdendo poder e a revolução foi ganhando força, as decapitações se tornaram tão comuns que não demorou até que surgisse a necessidade de facilitar o processo.
Quem propôs a solução foi um homem chamado Joseph-Ignace Guillotin — o sobrenome soa familiar? — que, embora fosse contra a pena de morte e não tenha sido o inventor da guilhotina, sugeriu o emprego de uma máquina que mantivesse os prisioneiros imóveis e fosse dotada de uma lâmina que desse a eles uma morte instantânea e, portanto, mais humana e menos sofrida do que o enforcamento ou a decapitação pelo machado.
Assim, de acordo com Richard, entre os anos de 1792 e 1794, estima-se que entre 16 mil e 40 mil cidadãos franceses — incluindo membros da realeza, do clero e qualquer um que fosse contrário à revolução — tenham perdido suas cabeças. Assustadoramente, a última execução na guilhotina ocorreu em 1977, e a máquina só foi aposentada de vez em 1981, quando a pena por decapitação foi abolida na França.
Além de ter uma longa história como forma de punição de criminosos, as decapitações eram — e infelizmente ainda são — comumente conduzidas por exércitos mundo afora. Em realidade, segundo Richard, desde que as primeiras espadas foram forjadas, os soldados e inimigos capturados ou derrotados perderam suas cabeças.
Conforme explicou, existem registros históricos de prisioneiros sendo executados por faraós e reis assírios. Ademais, sabe-se que, durante as Cruzadas, quando o Rei Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, conseguiu conquistar a cidade de Acre, próximo a Jerusalém, ele ordenou a decapitação de entre 2,5 mil e 5 mil prisioneiros sarracenos — o que rendeu a ele um acordo com o líder muçulmano Saladino.
Com o passar dos séculos, o costume sangrento de decepar as cabeças dos inimigos caiu em desuso entre os exércitos ocidentais, mas, no Oriente, a prática persistiu até bem recentemente. Durante a Primeira Guerra Sino-Japonesa, por exemplo, que ocorreu entre 1894 e 1895, os japoneses ceifaram cidades inteiras na Coreia e continuaram a usar a espada até o fim do período Imperial, ou seja, até o final da Segunda Guerra Mundial.
De acordo com Richard, atualmente algumas forças especiais — como é o caso da Legião Estrangeira Francesa — ainda praticam a decapitação de soldados inimigos para causar efeito psicológico. E o impacto de ver um corpo executado dessa forma, sem dúvida, traz resultados, já que não é de hoje que grupos terroristas usam essa assustadora artimanha para intimidar o Ocidente e transmitir suas mensagens.
Além disso, conforme explicamos anteriormente, a decapitação como punição ainda é considerada uma opção legal no Qatar, no Iêmen e na Arábia Saudita, mas só nesse último país ela é conduzida com frequência — com uma incidência de aproximadamente 100 execuções anuais. E quais são os crimes que podem levar um condenado a perder a cabeça? O adultério, a blasfêmia, o ateísmo, o roubo, a sodomia, a sedição, a apostasia e o assassinato.
*Publicado em 15/2/2016