Ciência
03/02/2016 às 07:41•3 min de leitura
Não é todo dia que as pessoas têm a infelicidade de testemunhar um suicídio. No entanto, isso foi o que aconteceu com os telespectadores que, no dia 15 de julho de 1974, conectaram seus televisores no WXLT-TV Channel 40 para acompanhar o talk show matutino Suncoast Digest. Nessa data, quem ligou a TV nesse canal, pôde assistir à jornalista Christine Chubbuck, a apresentadora do programa, tirar a própria vida ao vivo e a cores diante das câmeras.
Christine tinha 29 anos quando cometeu suicídio e apresentava um programa diário de televisão na Flórida que tratava de assuntos da comunidade. O talk show era transmitido diariamente a partir das 9 da manhã, e a jornalista era considerada uma personalidade local. Jovem, bem-sucedida e engajada — Christine também era voluntária em um hospital e trabalhava com crianças com problemas mentais —, ninguém jamais suspeitou que ela pretendia se matar.
Christine devia estar arquitetando a própria morte há algum tempo, pois, semanas antes de tirar sua vida, ela convenceu seus chefes a deixá-la fazer uma reportagem sobre suicídio. Na ocasião, a jornalista entrou em contato com um oficial de polícia e perguntou a ele sobre os diferentes métodos que uma pessoa podia usar para tirar a própria vida — e qual seria o mais eficiente deles.
O pobre homem, alheio aos planos da apresentadora, respondeu que ele optaria por um revolver de calibre 38 carregado com balas perfuradas na ponta. Além disso, o policial disse que não dispararia a arma contra a têmpora, como muitos suicidas faziam, já que, nesse local, nem sempre os ferimentos são fatais. Em vez disso, o policial atiraria na parte traseira da cabeça.
Após a reportagem, mais precisamente uma semana antes de morrer, a jornalista chegou a contar para o editor de notícias da emissora que havia comprado uma pistola. Ao ser perguntada pelo motivo, Christine respondeu que tinha pensado que seria uma boa ideia se ela atirasse contra ela mesma ao vivo na TV.
No dia de sua morte, Christine começou o programa com alguns anúncios de praxe — três notícias nacionais e uma sobre um tiroteio em um restaurante local — e, oito minutos depois entrar no ar, ela tirou os longos cabelos do rosto, moveu os lábios nervosamente e deu a volta nos papéis que segurava nas mãos.
A apresentadora então disse a frase que pode ser traduzida como: “Seguindo a política do Canal 40 de brindar seus telespectadores com as últimas notícias de sangue e vísceras a cores, vocês estão prestes a ver outra [notícia] em primeira mão: uma tentativa de suicídio”. Suas mãos tremiam levemente, mas sua voz se manteve firme o tempo todo. Com isso, Christine sacou uma arma, a colocou atrás da orelha direita e puxou o gatilho.
Segundo aqueles que testemunharam a cena, os cabelos da apresentadora voaram como se uma rajada de vento os tivesse atingido e seu rosto ficou todo contorcido. Seu corpo caiu violentamente para frente e a transmissão foi cortada nesse ponto.
Em um primeiro momento, a equipe da emissora pensou que tudo não passava de uma brincadeira — de mau gosto — de Christine e que ela se levantaria rindo. No entanto, logo ficou evidente que a jornalista realmente havia atirado contra a própria cabeça. Ela chegou a ser levada ao hospital, mas, 14 horas mais tarde, a morte da apresentadora foi anunciada.
Christine não deixou uma mensagem de suicídio, mas deixou uma nota prontinha sobre o ocorrido para a próxima pessoa que assumisse o programa. Nela, a jornalista dizia que ela havia disparado contra ela mesma durante uma transmissão ao vivo e que havia sido levada às pressas ao hospital, onde permanecia em estado crítico. Nessa última parte, a jornalista evidentemente se enganou.
Investigações e entrevistas conduzidas após a morte de Christine revelaram que ela tinha tendências suicidas, lutava contra a depressão há anos e inclusive havia tentado se matar por meio de uma overdose de medicamentos em 1970. Na época, chegaram a circular rumores de que a motivação da jornalista seria o fato de ela estar prestes a fazer 30 anos e ainda não ter se casado, assim como o fato de ela não ter muitos amigos ou uma vida social muito ativa.
Contudo, a apresentadora costumava se desentender com seus superiores na emissora frequentemente porque sentia que eles não levavam o jornalismo a sério. Independentemente de qual foi o real motivo que levou Christine a cometer suicídio, as cenas do dramático incidente se transformaram em um dos maiores mistérios da mídia — e até hoje existem pessoas que tentam encontrá-las.
As fitas da emissora foram rapidamente confiscadas pelas autoridades e parece que nenhum telespectador conseguiu gravar a trágica cena. Curiosamente, mais de 40 anos depois, dois filmes diferentes — um documentário e um longa sobre Christine — foram apresentados durante o Festival de Sundance, o que significa que, apesar de as imagens reais do suicídio terem desaparecido por completo, a plateia poderá reviver a história da apresentadora.
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