Estilo de vida
06/02/2016 às 19:48•3 min de leitura
No dia 22 de fevereiro de 2015, a burundiana Noela Rukundo esperou em seu carro do lado de fora da casa onde mora em Melbourne, na Austrália, enquanto os últimos participantes de seu funeral deixavam o local. Finalmente, avistou quem ela estava procurando: seu próprio marido, Balenga Kalala.
Ao vê-la com vida, o “agora-não-mais-viúvo” não conseguiu acreditar em seu próprios olhos. Ao tocá-la para comprovar se não estava vendo um fantasma, ele deu um pulo para trás e disse em suaíli, sua língua nativa, “eu estou acabado”. Eles estavam casados havia dez anos e, além dos outros cinco filhos que ela já tinha de um relacionamento anterior, os dois tinham três filhos juntos.
A sinistra saga dessa mulher havia começado cinco dias antes, quando ela viajou da Austrália até o seu país natal para comparecer a outro funeral, dessa vez real, de sua madastra. As duas possuíam uma relação muito próxima, e Noela ficou extremamente abalada com o ocorrido, se retirando para o hotel que havia reservado logo após o serviço funerário ter sido encerrado.
Noela Rukundo, que sofreu uma tentativa de assassinato orquestrada por seu próprio marido
Pouco tempo depois, ela atendeu no telefone do quarto a uma ligação do marido, que tinha ficado na Austrália. Ele a convenceu a sair para dar uma volta e espairecer, mas tão logo ela pôs os pés para fora, foi abordada por um estranho que apontou uma arma para seu rosto e ordenou que não gritasse ou ele atiraria. A mulher obedeceu e foi empurrada para dentro de um carro, onde outros dois homens esperavam. Ela foi vendada, e eles então seguiram viagem por 30 ou 40 minutos antes de pararem novamente.
Noela foi então guiada para dentro de um prédio nas cercanias da cidade de Bujumbura e amarrada a uma cadeira. Até então sem entender o motivo para tudo aquilo estar acontecendo, ela escutou as vozes dos sequestradores conversando entre si. Em determinado momento, um dos bandidos se dirigiu à vítima e perguntou: “o que você fez a esse homem para que ele nos pague para te matar?”.
A burundiana, sem entender a pergunta, indagou do que ele estava falando. A resposta do sequestrador, no entanto, foi bastante clara: “Balenga nos mandou para matar você”. Quando ela falou que aquilo só poderia ser uma mentira, eles riram e a chamaram de tola. Um deles fez uma ligação e colocou a chamada no viva-voz, o que permitiu a Noela ouvir perfeitamente a voz de seu marido dizer do outro lado da linha: “matem-na”. Nesse momento, a mulher desmaiou.
O casamento de Noela e Balenga (ela uma imigrante do Burundi, ele um refugiado do Congo)
O casal havia se conhecido 11 anos antes, logo depois de ela ter se mudado de Burundi para a Austrália. Ele havia chegado ao país pouco tempo antes, refugiado do Congo, e como já falava inglês, a assistente social que os dois tinham em comum os colocou juntos para que Balenga traduzisse o idioma e o ensinasse à Noela, que só falava suaíli.
Eles se apaixonaram, se mudaram para o subúrbio de Melbourne e criaram uma família juntos. Ela aprendeu mais sobre o passado dele nesse meio tempo, descobrindo que ele fugiu de um exército rebelde que havia dizimado a vila em que morava e onde morreram a esposa e o primeiro filho dele. A burundiana também percebeu com o passar dos anos que o marido tinha um lado violento, mas nunca lhe ocorreu que um dia ele poderia desejar sua morte.
Quando voltou a si, a mulher percebeu que continuava como cativa, mas os sequestradores disseram que não iriam matá-la, pois não acreditavam em matar mulheres e, além disso, conheciam o irmão de Noela. O que eles fariam, no lugar disso, seria convencer Balenga de que o serviço havia sido executado e ainda exigiriam dele um pouco mais de dinheiro por isso. Depois de dois dias, eles então a soltaram na beira de uma estrada, carregando apenas alguns objetos.
Balenga Kalala, condenado a nove anos de prisão por ter arquitetado a tentativa de assassinato de sua própria esposa, com quem tem três filhos, por acreditar que ela pretendia trocá-lo por outro
Ela tinha na mão um celular, com gravações telefônicas de conversas entre os sequestradores e o marido, e recibos dos pagamentos feitos por ele pelo assassinato, no valor de quase 7 mil dólares australianos. “Nós queremos apenas que volte e diga a outras mulheres estúpidas como você o que aconteceu. Vocês têm uma chance de ir para o exterior e ter uma boa vida, mas usam o dinheiro que ganham ou que recebem do governo para matar uns aos outros”, disse um dos homens antes de abandoná-la à sua sorte.
Aterrorizada, mas determinada a fazer algo com aquela chance que ganhou, ela entrou em contato com as embaixadas do Quênia e da Bélgica em busca de ajuda para regressar para a Austrália. Noela então entrou em contato com o pastor da igreja que frequenta em Melbourne e contou a ele tudo pelo que havia passado. O religioso a ajudou a voltar para o país em segredo, bem a tempo de se deparar com o próprio funeral, organizado por Balenga na mesma casa que eles dividiram por mais de uma década.
Inicialmente, o congolense negou ter envolvimento com o sequestro, que teria sido arquitetado porque ele acreditava que a mulher pretendia trocá-lo por outra pessoa. Contudo, com a ajuda da polícia ela conseguiu gravar secretamente uma conversa em que o marido admitia ter sido o mandante do crime. Durante seu julgamento, Balenga admitiu ser culpado e foi sentenciado a nove anos de prisão. Para Noela, a pena dada a ele foi muito branda, mas esse capítulo de sua vida está definitivamente encerrado. Ela quer apenas recomeçar e, quem sabe, até se casar novamente um dia.
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