O luxuoso estilo de Christian Lacroix

16/05/2012 às 12:575 min de leitura

Lacroix em desfile. Fonte: Wikimedia Commons

Nesta quarta-feira (16), o estilista Christian Lacroix, conhecido pelas coleções inovadoras dos anos 80 que influenciam criações até hoje, comemora seu aniversário. Para muitos, o designer deu um novo fôlego para um período de estagnação criativa nos desfiles.

Segundo a professora do curso de Design de Moda da Universidade Positivo, Annelise Castelli, ele se destaca por representar um momento importante da década de 1980, em que houve um resgate da sofisticação da mulher por meio de elementos que podem ser vistos em coleções atuais.

Entre eles estão as produções glamorosas de aparência luxuosa e toque dramático. Annelise explica que Lacroix tinha um estilo formado por sobreposições, saias baloné e tecidos sofisticados que formavam misturas inusitadas, sempre seguindo a inspiração barroca. Ela ressalta ainda a presença constante do dourado e dos elementos fixados nas roupas, como botões.

Os modelos maravilhosos, no entanto, nem sempre garantiram estabilidade financeira ao estilista, devido ao preço alto. Ainda assim, ele se manteve como um sucesso de crítica por anos, vestindo inclusive celebridades para casamentos e red carpets, mas sem nunca realmente obter lucro. Tanto que, em 2010, ele teve de abrir mão da grife que criou. Porém, sua contribuição para a moda nunca vai passar despercebida.

A formação de um ícone da moda

Christian Lacroix em 2008. Fonte: Divulgação

Lacroix nasceu na França, em 1951, e desde pequeno demonstrava interesse pelo mundo fashion e vestuário de época. Não foi à toa que, contrariando as expectativas para os homens do período, ele decidiu cursar a faculdade de História da Arte, enquanto alimentava a aspiração de ser curador de museu.

Em 1973, Christian mudou-se para Paris para fazer uma pós-graduação em vestuário do século XVII no Instituto de Arte, na Sorbonne. Foi nessa época que ele conheceu Françoise Rosenthiel, que mais tarde se tornaria sua esposa e abriria as portas do mundo da moda a ele, por meio de seus contatos.

O sonho de atuar em museus foi deixado de lado definitivamente quando o talento e ousadia de Lacroix na hora de criar foram descobertos. Assim, no começo da década de 1980, ele foi contratado como colaborador da Hermès, além de atuar como costureiro do Tokyo Imperial Court.

Em 1981, o estilista continuou sua evolução no mundo fashion e passou a trabalhar na casa de Jean Patou, em parceria com Jean-Jacques Picard. Juntos, eles começaram a desenvolver criações de alta-costura, setor que no período enfrentava uma crise. Suas roupas, que possuíam elementos extravagantes inspirados na época barroca, em pouco tempo se tornaram tendência nos anos 80 e influenciam coleções até hoje.

Lacroix ao lado de modelo, em 2010. Fonte: Getty ImagesO sucesso dos modelos extravagantes encorajou o estilista a abrir sua própria casa de costura, a primeira em 25 anos, desde que Yves Saint Laurent havia feito o mesmo. Sua linha de estreia assinada pela marca homônima chocou os críticos de moda com produções inspiradas no estilo de Luís XIV, que incluía crinolinas espumosas, altas cabeleiras com talco e roupões coloridos.

O conhecimento de Lacroix a respeito de trajes históricos inspirava criações opulentas e fantasiosas. Entre elas, uma das mais marcantes foi a saia baloné, uma versão curta, cinturada e cheia de volume e camadas de tecidos, que até hoje está presente nas passarelas. Ele também inseriu as cores quentes do Mediterrâneo nos desfiles. Além disso, a professora Annelise explica que o designer ousou ao usar misturar tecidos e bordados até de forma incoerente, como o tafetá repleto de brocados.

Ele foi o responsável por incluir tecidos suntuosos ao estilo da década de 80, como cetim, veludo e tafetá. Entre suas inovações, também está o uso da sobreposição de padrões, como patchworks e listras, que até então não havia sido experimentada.

As roupas inovadoras renderam aplausos, mas também críticas: nos Estados Unidos, ele chegou a ser considerado machista e retrógrado. No aspecto financeiro, o sucesso não foi tão grande. Em dois anos, apenas 20 dos glamorosos modelos foram vendidos, o que deixou a grife endividada por um longo tempo.

Assim, para dar fôlego às finanças de sua casa de costura, Lacroix passou a criar, em 1988, roupas de pret-à-porter. Para tanto, foi buscar inspiração em diversas culturas, mas a crítica insistia em afirmar que ele não conseguia entender o que a mulher trabalhadora gostaria de vestir.

Mas isso não quer dizer que as criações não eram desejadas. O talento de Christian rendeu a ele, apenas na década de 1980, a conquista de duas edições do prêmio Dedal de Ouro (em 1986 e 1988), além de ter sido eleito em 1987 como o estilista estrangeiro mais influente nos Estados Unidos pela Comissão de Moda do país.

Em 1989, ele expandiu ainda mais sua marca, lançando joias, bolsas, sapatos, óculos, lenços e gravatas. Foi também neste ano que ele abriu mais lojas em Paris e desembarcou em Londres, Genebra e Japão, com espaços até então inéditos nesses lugares.

Lacroix em evento de 2010. Fonte: Getty Images

O estilista entrou para o mercado das fragrâncias em 1990, com o perfume C’est la Vie. Nessa década, a diversificação dos seus negócios ficou ainda mais intensa, com a criação de uma linha de vestuário com preço mais acessível (a Bazaar), mas o lado glamoroso das roupas rebuscadas continuou a aparecer nas passarelas de Lacroix.

Em 1994, por exemplo, suas coleções foram tão fabulosas quanto as dos anos 80, com inspiração no folclore e em fábulas do passado.

Sobre os anos 90, Annelise ressalta que o período não foi positivo para o trabalho do estilista. Isso porque a tendência era a de buscar o minimalismo, estilo que não correspondia às criações de Christian. Assim, optar pela diversificação foi um caminho natural.

Entre as criações de Christian no período, destacam-se também as toalhas de dois lados (em que um representava o fashion e o outro, o estilo de vida), a linha de jeans com pegada étnica e o lançamento de uma linha para noivas.

Lacroix no século 21

No começo do século, Lacroix não parou de lançar novas coleções. Em 2001, ele passou a desenvolver uma linha infantil e, em 2002, chegou às lojas o seu segundo perfume, Bazar, criado por Bertrand Duchaufour, Jean-Claude Ellena e Emilie Copperman.

Dois anos depois, ele passou a investir em lingeries e peças masculinas, além de ser convidado para novas experiências. A companhia aérea Air France o contratou para criar os novos uniformes da tripulação e pijamas que eram entregues aos passageiros da primeira classe.

Coleção assinada pelo estilista em 2009. Fonte: Getty Images

Nessa mesma época, ele atuou como Diretor Criativo da grife Emilio Pucci, de onde saiu em 2005. Entre sua criações marcantes, estão o vestido de casamento de Christina Aguilera e o figurino para óperas e espetáculos teatrais que, inclusive, motivaram uma exposição do National Museum em 2009.

Além da moda, na primeira década do século, ele atuou também em projetos de decoração de interiores de vários hotéis, como o Le Petit Moulin, o Bellechasse e o Le Notre Dame, todos em Paris.

No mercado de fragrâncias, ele desenvolveu uma parceria com a Avon, que de 2007 a 2011 rendeu seis novos produtos.

A queda da maison Lacroix

Em 2008, as dificuldades financeiras da marca Christian Lacroix se intensificaram, resultando em um prejuízo de 10 milhões de euros. Assim, no ano seguinte, o estilista viu a sua maison decair lamentavelmente. O fato é que desde o seu lançamento ela passou por problemas de arrecadação, apesar da genialidade das criações. Depois de enfrentar um processo da justiça francesa devido à falta de pagamento de seus funcionários, ele decidiu vender a grife.

O último desfile assinado e totalmente financiado por ele foi o da temporada de alta-costura de outono/inverno 2009. No entanto, sua contribuição para a moda não parou por aí. Em 2011, ele passou a colaborar com a marca Desigual, de Barcelona. Em contrapartida, a grife que leva seu nome pode ser encontrada hoje em mais de 1.000 lojas ao redor do mundo.

Boutique Christian Lacroix. Fonte: Getty Images

Vale ressaltar ainda, que a contribuição de Lacroix não se resume apenas aos desfiles. A professora Annelise explica que ele influenciou também o processo de criação com seus desenhos de traço interessante, em que era possível ver no papel como o modelo ficaria na realidade. Por meio de cores e outros artifícios, ele conseguia retratar até a textura desejada para a peça, para que não houvesse erro junto à equipe de produção. Esse modo de trabalhar foi imitado por outros designers.

Annelise também enfatiza o continuísmo da carreira de Christian, que se mantém em alta (apesar das dificuldades com a maison) até os dias de hoje. E, para ela, as tendências atuais podem ser positivas para o estilo de Lacroix, já que as últimas temporadas possuem toques étnicos, muito dourado, uso de sobreposições e uma pegada barroca representada por misturas muitas vezes incoerentes de tecidos e estampas, que são elementos que fazem parte do estilo do designer.

Resta acompanhar a trajetória do estilista, que hoje comemora 61 anos, para ver quais suas contribuições futuras para o mundo da moda.

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