Biquíni: de 1946 até hoje

05/07/2012 às 14:076 min de leitura

Biquínis da coleção de berão 2013 da Blue Man. Fonte: Agência Fotosite

É impossível negar a vocação do Brasil para a moda praia. Afinal, com um litoral tão extenso, inspirações para as tendências em beachwear não faltam. Não é à toa que o corte ousado criado no país faz sucesso inclusive internacionalmente.

Segundo a diretora geral da marca Blue Man, Sharon Azulay, as marcas do país sempre souberam diversificar muito as peças de beachwear. “A moda brasileira tem essa característica desde sempre. Em todas nossas criações, a Blue Man busca inspiração na brasilidade, rica em diversidade e terra de muitos contrastes. Por isso, apostamos nessa riqueza de cenário para criarmos nossas estampas, formatos e texturas”, explica ela.

Mas até chegar à variedade de modelos, tecidos e estampas que desfilam hoje por passarelas e areias brasileiras, o biquíni acumula mais de 60 anos de história, que ultrapassa as fronteiras do país. Informações da época registram que o primeiro biquíni surgiu em 26 de junho de 1946, sendo apresentado oficialmente em 5 de julho, com uma inspiração que fica longe de praias ou desfiles.

Qual a inspiração para o biquíni?

Em junho de 1946, militares americanos provocaram uma detonação nucelar no atol de Bikini, localizado nas Ilhas Marshall, em meio ao Pacífico. Mais de 10 mil habitantes da região ficaram feridos e foram levados praticamente nus (já que as roupas foram danificadas pela explosão) para Chicago, nos Estados Unidos.

Explosão no atol de Bikini. Fonte: Getty Images

Lá, os médicos americanos cobriram as partes íntimas dos pacientes com retalhos de exemplares do jornal The New York Times, formando curiosos conjuntos.

A notícia da explosão e do modo como os pacientes haviam sido vestidos correu o mundo, chegando à França. A história do jornal-lingerie chamou a atenção de um estilista do país, Jacques Heim, que resolveu transformar o curioso modelo em uma realidade da moda. Usando quatro triângulos recortados de uma folha de papel, ele os costurou com algodão e sugeriu a criação como traje de banho. Porém, ao contrário do que ele imaginava, o “menor maiô do mundo”, batizado de “átomo”, não fez o menor sucesso.

O modelo inovador de Heim caiu no esquecimento e quem levou a fama pela criação foi o francês Louis Réard. Ele resolveu cortar o maiô ao meio e dar ao resultado o nome de “Bikini – menor que o menor maiô do mundo”, já que o atol estava em voga na época. Assim como seu antecessor, o estilista não teve sucesso: as mulheres não estavam preparadas para usar algo tão pequeno, que deixava a barriga à mostra, e nem as modelos queriam ser fotografadas com ele.

Vale lembrar que, até então, as pessoas frequentavam a praia praticamente vestidas, para manter a pele alva e não mostrar o corpo em demasia. A stripper Micheline Bernardini é que resolveu superar a polêmica e desfilou com o novo modelo por uma piscina pública de Paris, no dia 05 de julho, estreando-o. Aos poucos, o conjunto foi ganhando mais espaço, aparecendo em alguns balneários charmosos da época.
No entanto, ainda havia muitas barreiras a superar até o biquíni alcançar o sucesso. A ousadia da criação fez com que ela fosse proibida em vários países, como Portugal, Itália e Espanha. Em contrapartida, atrizes como Ava Gardner e Brigitte Bardot aderiram ao modelo, criando uma resistência.

No Brasil, a novidade chegaria em 1948, apresentada por uma turista alemã.

Filme de Brigitte Bardot em 1952. Fonte: DivulgaçãoAnos 50: o cinema populariza o biquíni

Enquanto o biquíni continuava proibido em alguns países, atrizes e sex symbols passaram a ser fotografadas e aparecer em filmes usando o traje, fazendo com que a resistência diminuísse. Na época, o conjunto era considerado pequeno, mas comparado às versões atuais, era bastante grande, com as cavas da calcinha bem baixas.

Marilyn Monroe preferia os biquínis mais comportados, enquanto sua cover, Jayne Mansfield, desfilava com versões com muitos centímetros a menos que o convencional. A francesa Brigitte Bardot também aderiu à moda, escolhendo modelos mais ousados. No filme “E Deus Criou a Mulher” (1956), ela aparece com um conjunto xadrez enfeitado por babados.

Assim, aos poucos, a criação foi se tornando popular e as resistências tiveram que ceder. Por aqui, o biquíni ainda era usado apenas por vedetes do teatro, como Elvira Pagã e Virgínia Lane. Mas, na década seguinte, o contexto mudaria.

Anos 60: o biquíni ganha as praias

Em 1961, o então presidente Jânio Quadros bem que tentou banir o biquíni das praias brasileiras, mas era tarde. O cinema já havia popularizado a peça, que se tornou símbolo de atrizes glamorosas, que as mulheres queriam imitar. Em 1962, Úrsula Andress saiu do mar com um modelo ousado no filme “007 Contra o Satânico Dr. No”, conquistando ainda mais adeptos.

Ursula Andress no filme 007. Fonte: Divulgação

Neste mesmo período, Helô Pinheiro aderiu ao traje nas praias cariocas, inspirando inclusive a música “Garota de Ipanema”, criada por Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Ela vestia versões comportadas, com sutiã estruturado e tamanho maior.

Com a popularização do biquíni, começaram a surgir inovações no setor. Nessa década, foram criados o fio lycra e a helanca, que eram mais leves, aderiam ao corpo e secavam rapidamente. Em relação aos modelos, o chamado “engana-mamãe” tornou-se popular. Ao ser olhado de frente, ele parecia um maiô, com uma tira que ligava as duas partes, mas nas costas era um biquíni comum.

Anos 70: surge a tanga

Nos anos 70, o biquíni já era um traje de banho consagrado, pronto para novas experimentações. Assim, começaram a surgir versões descombinadas, como calcinha lisa e sutiã estampado, além de modelos feitos de lastex e crochê.

Leila Diniz, grávida de sete meses, se tornou sensação ao usar um minúsculo biquíni no verão de 1971, exibindo o barrigão com naturalidade. As imagens, divulgadas amplamente na imprensa brasileira, acabaram se tornando um símbolo da liberação feminina.

O biquíni na praia, em 1979. Fonte: Getty Images

Nessa mesma época, surgiu a tanga, conhecida por ser uma invenção carioca. Sua origem exata, no entanto, é controversa. Há quem diga que ela foi criada ao acaso, quando a modelo Rose Di Primo teve a ideia, em plena praia, de unir dois microtriângulos de tecido em um cordão. Uma variação desta história ainda afirma que David Azulay, da Blue Man, é que teria criado a peça, sendo Rose a primeira mulher a vesti-la.

Outra versão da invenção defende que o modelo foi criado por um erro da carioca Neuma Andrade, em 1973. Depois de errar as medidas de uma encomenda, devido ao prazo de entrega apertado ela resolveu cortar as laterais da calcinha, deixando-a mais cavada. Com o sucesso, a costureira, que também era advogada, passou a se dedicar apenas à máquina de costura.

Anos 80: modelos para todos os gostos

A tanga, tendo sido criada acidentalmente ou não, foi apenas a primeira de muitas inovações no tradicional biquíni. No Brasil, estilistas começaram a criar todo tipo de versões para o traje, com cortes ousados e outros tecidos.

Lacinho e cortininha em semana de moda internacionais. Fonte: Getty Images

Na década de 1980 foi que surgiram o cortininha (com um sutiã de dois triângulos unidos por um fio), o enroladinho (com modelos as laterais da parte de baixo retorcidas) e o lacinho (a calcinha é presa por amarrações laterais). Segundo a diretora geral da Blue Man, Sharon Azulay, esse último inclusive é o que faz mais sucesso entre as brasileiras até hoje.

São também dessa época o asa-delta, traje com cavas bem profundas, o fio-dental e o sunquíni. Entre as cores e estampas, destaque para as versões fluorescentes que surgiram nas praias brasileiras.

Anos 90: modelos voltam ao passado

Misses de 1999 com os biquínis da época. Fonte: Getty Images

Depois de tantas inovações, a moda praia resolveu voltar no tempo com coleções que apresentavam biquínis no estilo retrô para os anos 90. Assim, surgiram modelos mais românticos e comportados, fazendo com que os clássicos voltassem para a praia.

A parte de baixo, em geral, era maior (com um shortinho) e não bastava mais usar apenas o biquíni. A partir desse período, o traje passou a ser combinado com cangas, chapéus, bolsas e outros acessórios, que deixavam o look mais charmoso. A estampa de camuflagem alcançou o auge nessa época.

Apesar da volta ao passado nas modelagens, a indústria do setor não parou de proporcionar inovações, permitindo que novos elementos fossem agregados aos biquínis, como trabalhos de jacquard, drapeados e transparências. A variedade fez com que os modelos brasileiros chegassem às lojas estrangeiras para ficar.

Anos 2000: a criatividade se une à tecnologia

Modelo inovador da coleção de 2005 da Rosa Chá. Fonte: Getty Images

Com a virada dos séculos, modelagens e cortes de biquínis criados em décadas anteriores se misturaram às novas criações. Apenas o modelo asa-delta não encontrou o mesmo espaço entre o gosto das consumidoras.

Nos desfiles, os modelos se tornaram cada vez mais inusitados. Há versões para todos os gostos: lisos, estampados, monocromáticos ou multicoloridos. Os sutiãs ganharam bojo para dar mais forma e volume aos seios, enquanto novos decotes, como o tomara que caia e o frente única, se misturam aos já existentes. Há espaço ainda para bordados, metalizados e detalhes em tecido.

Naomi Campel para a Rosa Chá, no começo do século. Fonte: Getty Images

A lycra e a helanca passaram a dividir espaço com tecidos tecnológicos, capazes de evitar o surgimento de bactérias, levantar seios e bumbum, proteger contra os raios solares e ainda secar rapidamente.

Hoje, as coleções que aparecem na passarela seguem essa diversificação. A diretora geral da Blue Man, Sharon Azulay, explica que a Blue Man apostou na natureza para criar sua última coleção (Verão 2013), inspirando-se nas cores e formas alucinantes que ela possui. “Texturas furta-cor e iridescentes evidenciam insetos, peixes e minerais com o reforço de micropelículas refletivas”, conta ela.

Como a coleção tem modelagens que tendem ao esportivo, os biquínis unem sensualidade e conforto, com recortes, frestas e cavas acentuadas. “Em termos de tecidos, a lycra não perde o papel principal, mas dá espaço ao neoprene, que traz referências dos esportes aquáticos para a moda praia”, finaliza Sharon.

Biquíni brasileiro no exterior

Biquínis da Blue Man para o verão 2013. Fonte: Agência Fotosite

A vocação da moda brasileira para o beachwear não passou despercebida no exterior. Além de as marcas nacionais terem vários pontos de venda no mundo todo, elas também participam de semanas de moda internacionais.

A Blue Man faz parte desse contexto e hoje exporta peças para França, Itália, Suíça, Portugal e Espanha. Segundo a diretora geral da grife, a criação é feita de forma a manter modelos que atendam a todos os mercados. Porém, nem sempre é possível, já que há diferenças nas preferências das mulheres em cada localidade. “As consumidoras estrangeiras são mais conservadoras em termos de modelagem, preferem os biquínis maiores”, explica ela.

Assim, vale prestigiar o sucesso do beachwear brasileiro no aniversário do biquíni. Para quem não está nas regiões frias do país, que tal reservar um tempo nos próximos dias para ir à praia?

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